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Não existe evolução sem atravessar o incômodo

Por Enrico Pierro (*) | 06/08/2025 13:30

Todo processo de transformação começa com um desconforto. Uma sensação de que algo não encaixa mais, que a vida anda apertada, que a alma está pedindo por algo que ainda não tem nome. É um incômodo silencioso no início, mas que vai crescendo. Vai invadindo os espaços. Vai te fazer olhar para aquilo que você evitou por muito tempo.

Não existe evolução verdadeira sem esse desconforto inicial. Ele é o sinal. É a fagulha. É o chamado. Mas, ao invés de atender, a gente costuma recuar. Tenta se distrair, racionalizar, empurrar para depois. Porque sair do lugar conhecido, mesmo que esse lugar nos sufoque, dá medo. E a zona de conforto, por mais desconfortável que seja, ainda é uma zona.

Mas o crescimento exige ruptura. Exige confronto. Exige abrir mão de quem você foi para dar espaço ao que você pode ser. E isso, inevitavelmente, traz dor. Porque deixar para trás exige luto. Não só das coisas, mas das versões antigas de nós mesmos. Exige encarar as feridas, os padrões, os sabotadores. Exige se olhar com honestidade e perguntar: o que em mim já não me serve mais?

É nesse ponto que muitos desistem. Porque mudar é solitário. É lento. É cansativo. Às vezes parece que você está andando para trás. Que ninguém entende. Que nada melhora. Mas esse é o processo. Você não está falhando. Está atravessando.

O incômodo é o início da libertação. É ele que rompe as estruturas antigas. Que te empurra para fora do que era pequeno demais para quem você está se tornando. E quanto mais você resiste, mais ele pesa. Mas quando você decide atravessar, algo muda. Não de fora para dentro, mas de dentro para fora.

Você começa a se perceber mais forte, mais consciente, mais inteiro. Começa a ver sentido no caos. Começa a se reencontrar. E então entende que o sofrimento não veio para te punir, mas para te ensinar.

Nenhum renascimento acontece sem dor. Nenhum recomeço é leve logo de cara. Mas a leveza vem. E quando vem, traz junto uma versão de você que jamais teria nascido se não fosse o desconforto.

Por isso, se está doendo, talvez seja sinal de que você está crescendo.

(*) Enrico Pierro, escritor

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.