Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latina

O ex-presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu. Considerado uma das figuras mais populares da esquerda na América Latina, Mujica enfrentava câncer no esôfago e no fígado, além de duas doenças autoimunes.

O diagnóstico do câncer foi anunciado em abril de 2024. Em janeiro deste ano, ele comunicou que a doença havia se espalhado e que não resistiria a novos tratamentos devido à fragilidade do seu organismo. Nos últimos dias, Mujica recebia cuidados paliativos, conforme informado por sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolanski.

"Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou" disse Mujica em abril.

Referência mundial pela simplicidade - Mundialmente conhecido por seu estilo de vida modesto, que lhe rendeu o apelido de “o presidente mais pobre do mundo”, Mujica sempre manteve postura crítica à busca desenfreada por riqueza. Em suas últimas entrevistas, declarou partir "tranquilo e agradecido", principalmente após a vitória de Yamandú Orsi, da Frente Ampla, nas eleições presidenciais.

"Tudo o que quero agora é me despedir", afirmou Mujica, pouco depois da eleição.

Mesmo debilitado, continuou concedendo reflexões sobre a vida. Em entrevista ao jornal americano New York Times, disse que "a vida é linda" e que "só existe uma vida e ela acaba". Para ele, encontrar um propósito seria essencial para dar sentido à existência.

Além do câncer, Mujica convivia há quase duas décadas com uma doença autoimune que afetava seus rins. Apesar do agravamento do quadro no segundo semestre de 2024, manteve o otimismo e a serenidade diante da proximidade da morte.

Trajetória marcada pela luta - José Mujica nasceu em 20 de maio de 1935, nos arredores de Montevidéu. Filho de uma família humilde, envolveu-se na política ainda jovem. Na década de 1960, integrou o movimento guerrilheiro Tupamaros, que resistia à ditadura militar no país. Foi preso quatro vezes e passou cerca de 14 anos na cadeia, muitos deles em condições de extrema severidade.

Com a redemocratização em 1985, foi libertado e, nos anos seguintes, ajudou a fundar a coalizão Frente Ampla. Em 2005, foi eleito senador. Quatro anos depois, em 2009, venceu as eleições presidenciais, derrotando Luis Alberto Lacalle, pai do atual presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou.

Mujica assumiu o governo em 2010, tornando-se o presidente mais velho da história do Uruguai. Durante seu mandato, promoveu reformas importantes em áreas como educação, legalização da maconha e direitos civis, consolidando sua imagem de líder progressista.

Um dos últimos grandes ícones da esquerda latino-americana, Pepe Mujica despediu-se da vida pública com a mesma simplicidade que marcou toda a sua trajetória.