Pesquisa detecta resíduos de munições com 100% de precisão
Protocolo, criado na UFMS, identifica vestígios até de munições “verdes” de forma rápida e econômica

A perícia criminal acaba de ganhar um reforço tecnológico que promete encurtar investigações e trazer resultados com 100% de acerto. Pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) desenvolveram protocolo inovador que combina a LIBS (espectroscopia de plasma induzido por laser) e inteligência artificial para identificar resíduos de disparo de arma de fogo de forma rápida, econômica, inclusive, em munições não tóxicas (NTA), conhecidas como munições “verdes”, que atualmente, não são detectadas pelas metodologias vigentes.
RESUMO
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Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul desenvolveram um protocolo inovador que combina espectroscopia de plasma induzido por laser (LIBS) e inteligência artificial para identificar resíduos de disparos de arma de fogo. A técnica apresenta 100% de precisão, incluindo na detecção de munições não tóxicas, conhecidas como "verdes". O método, que obteve reconhecimento internacional, permite análises em campo com equipamento portátil, dispensando laboratórios especializados. A inovação representa um avanço significativo em relação às técnicas atuais, sendo mais econômica e acessível para institutos de perícia criminal em todo o país.
Os resultados dessa pesquisa pioneira obtiveram reconhecimento internacional, com publicações em revistas internacionais Microchemical Journal e Talanta, ambos da Elsevier.
O pesquisador Rodrigo Wenceslau é um dos membros da equipe e fez o trabalho como parte de seu doutorado em Ciência dos Materiais pelo Infi (Instituto de Física) da UFMS.
Pioneirismo
Wenceslau, que é perito criminal no Instituto de Criminalística de Costa Rica, explica que a técnica LIBS já existe e foi aprimorada pela equipe com uma nova metodologia e inteligência artificial. Ela funciona aplicando um pulso de laser em uma amostra, o que causa sua vaporização e permite a detecção de todos os elementos que a compõem. Com base nesses dados, a pesquisa utiliza algorítmos de aprendizado de máquina, como SVM (Support Vector Machine) e LDA (Linear Discriminant Analysis), para classificar o espectro obtido e indicar a presença de resíduo de tiro em segundos. O sistema inclui uma categoria “indeterminado” que recomenda nova análise em amostras duvidosas, prevenindo falsos positivos.
"Se temos um suspeito de ter efetuado um disparo, podemos usar uma fita adesiva específica para coletar todos os elementos presentes na mão da pessoa. Essa fita é então levada ao laser para análise", explica Rodrigo Wenceslau. A técnica pode ser aplicada não apenas nas mãos, mas também em roupas, narinas, pele e até mesmo em cadáveres, ampliando significativamente as possibilidades da perícia.
Perícia hoje
Atualmente, a principal técnica de análise de resíduos de tiro no Brasil é a MEV-EDS (Microscopia eletrônica de varredura com espectroscopia de energia dispersiva). Embora detecte partículas de chumbo, bário e antimônio deixadas por munições tradicionais, o processo exige aparelhos caros, instalações especializadas e equipe altamente treinada, o que restringe seu uso a poucos laboratórios.
Para Wenceslau, a pesquisa ganhou notoriedade no meio científico, pois resolveu um problema mundial. Atualmente, a única fabricante de munições do Brasil tem produzido munições NTA, que não vêm com marcadores padrões das munições comuns, o que dificulta a perícia. O fabricante argumenta que o baixo teor de metais, torna a munição menos tóxica para quem atira, no entanto, seus vestígios não são detectados pelos exames adotados.
De acordo com o professor Cícero Cena, do Infi e membro do laboratório Sisfóton da UFMS, a MEV-EDS, não há protocolo consolidado para examinar munições “verdes”, formuladas sem metais pesados. “Precisávamos de uma solução mais acessível e capaz de lidar com as novas gerações de projéteis", explica Cena. Por isso, a técnica que detecta resíduos de NTA com 100% de acerto é uma grande conquista.
Nos testes descritos na Microchemical Journal, o modelo probabilístico alcançou 100% de acerto mesmo quando as amostras estavam intencionalmente contaminadas. Já o artigo da Talanta demonstrou que é possível reconhecer munições não tóxicas ao identificar elementos como zinco, titânio, cobre e ferro, também com 100% de precisão em validações externas. Essa descoberta é crucial, pois a única fabricante de munições no Brasil tem produzido essas NTA, que não contêm os marcadores padrões das munições comuns, dificultando sua detecção e perícia.
Futuro da Perícia
Coordenador do estudo no Infi da UFMS, o físico Bruno Marangoni, afirma que a inovação permite análises em campo, com equipamento portátil, dispensando laboratórios caros. "Com essas ferramentas, fortalecemos os laudos periciais e aceleramos investigações, contribuindo diretamente para reduzir a impunidade", afirma o pesquisador.
O trabalho, que começou há seis anos, envolveu pesquisadores e colaboração das universidades federais de Uberlândia, São Carlos, Santa Catarina e Amazonas, além do CNR (Consiglio Nazionale delle Ricerche) da Itália, com apoio da Capes. Com a etapa de validação concluída, os protocolos estão prontos para serem utilizados por institutos de perícia.
Os equipamentos LIBS estão disponíveis hoje na UFMS e na UFSCar (São Carlos). São equipamentos portáteis que podem ser levados para a cena do crime e democratizar o acesso a análises avançadas em regiões que ainda carecem de infraestrutura laboratorial, tornando mais ágil a identificação de suspeitos e, consequentemente, a elucidação de crimes. Além disso, o custo da perícia com a nova técnica é mais acessível em comparação com a MEV-EDS.
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