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Artes

1° curta dirigido por mulher guató mostra o que é ser indígena na Capital

Dirigido por Gleycielli Nonato, documentário narra as histórias de 5 mulheres que vieram morar em Campo Grande

Por Mylena Fraiha | 12/11/2025 07:06
1° curta dirigido por mulher guató mostra o que é ser indígena na Capital
Cena do curta mostra ritual celebrado pelas cinco mulheres indígenas na Aldeia Água Bonita, em Campo Grande (Foto: Divulgação/Marcus Teles).

Seja ao deixar a própria terra ou ao enfrentar os desafios da vida urbana, as trajetórias de cinco mulheres indígenas se cruzam em Campo Grande. Desse encontro nasce o curta-metragem documental “Kaguateka: Aquelas que Resistem”, primeiro filme dirigido por uma mulher indígena da etnia Guató, a cineasta e professora Gleycielli Nonato Guató.

RESUMO

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O primeiro curta-metragem dirigido por uma mulher indígena da etnia Guató, "Kaguateka: Aquelas que Resistem", retrata a vida de cinco mulheres indígenas em Campo Grande. Dirigido por Gleycielli Nonato Guató, o documentário de 15 minutos acompanha as histórias de Suzie Guarani, Luana Kadiwéu, Matilde Kaiowá, Miriam Terena e da própria diretora. O filme aborda as dificuldades enfrentadas por mulheres indígenas no contexto urbano, incluindo adaptação, preconceito e saudade de suas terras. As protagonistas são integrantes do Coletivo de Mulheres Indígenas Kaguateka, grupo criado na década de 1960. Com lançamento previsto para 2026, o projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura.

O curta acompanha Suzie Guarani, Luana Kadiwéu, Matilde Kaiowá, Miriam Terena e a própria Gleycielli, todas integrantes do Coletivo de Mulheres Indígenas Kaguateka, grupo criado na década de 1960 e que atua na valorização da cultura, da dignidade e do sentimento de pertencimento de mulheres de diferentes povos que vivem na Capital.

Ao Lado B, a diretora do filme, Gleycielli Nonato Guató, explica que o documentário, com cerca de 15 minutos e resultado de cinco dias de gravação em Campo Grande, realizados em outubro deste ano, traz um retrato das dificuldades e da resistência das mulheres indígenas que se deslocaram para o contexto urbano.

Segundo a diretora, o termo Kaguateka significa, em guarani, “aquelas que resistem”. “Mas também, coincidentemente, é uma palavra que nomeia cinco povos indígenas de Mato Grosso do Sul representados no curta-metragem: Kaiowá, Guarani, Guató, Terena e Kadiwéu”, explica.

1° curta dirigido por mulher guató mostra o que é ser indígena na Capital
Gleycielli e Matilde Kaiowá durante filmagens na Aldeia Água Bonita, em Campo Grande (Foto: Divulgação/Marcus Teles).

Para Gleycielli, o processo de criação foi guiado pela escuta e pela partilha, de forma mais coletiva. “Todas as mulheres fizeram parte do roteiro. E apesar de eu ter dirigido o documentário, fui conduzida por elas, pela voz e pela perspectiva delas, sem ninguém dizendo o que deveria ser feito. Foram elas que conduziram tudo.”

Ela relata que cada uma das personagens traz consigo uma narrativa de deslocamento e força. “A dificuldade, a saudade de casa, a adaptação, o preconceito. Todas essas histórias têm isso em comum”, diz a diretora. Apesar de serem cinco histórias diferentes, Gleycielli explica que a dificuldade, a saudade de casa, a adaptação e o preconceito são o fio condutor e o elo comum.

São vários motivos diferentes que trouxeram cada uma a Campo Grande: uma veio porque a mãe estava doente; outra, porque foi expulsa do território na época da ditadura; outra ainda, porque passava fome depois que os fazendeiros tomaram a serra e então veio para a cidade em busca de trabalho para sustentar os filhos. Eu vim para Campo Grande para poder estudar e ter uma condição melhor de educação. São várias histórias, mas as mesmas dificuldades”, diz Gleycielli.

O curta também homenageia mulheres como dona Marta Guarani, mãe de Suzie Guarani e fundadora da Aldeia Água Bonita, na região do Nova Lima. “A aldeia surgiu por causa disso”, lembra Gleycielli. “Porque junto com ela vieram vários indígenas que também sofreram perseguições na época da ditadura.”

Outra história narrada é a de Mirian Terena, que “saiu para lutar pela mãe dela. Nenhum dos irmãos homens veio; foi ela quem veio”, conta a cineasta, e a de dona Matilde, que deixou tudo para dar melhores condições aos filhos.

1° curta dirigido por mulher guató mostra o que é ser indígena na Capital
Gleycielli mostra trecho das gravações do curta para Luana Kadiweu (Foto: Divulgação/Marcus Teles).

Já Gleycielli relata que veio de Coxim para Campo Grande em 2006 para estudar Jornalismo na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), com bolsa. Entretanto, mudou para Artes Cênicas na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), mas não concluiu, e, por fim, começou Letras na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), curso que está em fase de conclusão — falta apenas o Trabalho de Conclusão de Curso.

“Eu vim para poder estudar, porque, se eu não estudasse, jamais sairia de Coxim. E eu sabia muito bem que, infelizmente, na minha família, quem não trabalha em fazenda acaba cozinhando para fazendeiro, se não tiver estudo”, diz a diretora.

1° curta dirigido por mulher guató mostra o que é ser indígena na Capital
Desfecho do documentário é uma cena de encontro e da montagem de uma mandala na Aldeia Água Bonita (Foto: Divulgação/Marcus Teles).

O desfecho do documentário é uma cena de encontro e de realização de uma tradição simbólica, a montagem de uma mandala. “Todas as mulheres sul-americanas fazem isso quando se encontram em algum evento. Elas levam um alimento de cada povo para formar uma mandala. E ali oferecem esse alimento como um sinal de prosperidade, de luta e de saúde para cada povo”, conta Gleycielli.

De acordo com a diretora, “Kaguateka: Aquelas que Resistem” está em fase de pós-produção e deve ter lançamento oficial até fevereiro de 2026, na Aldeia Urbana Água Bonita. O evento contará com exibição do filme, roda de conversa e partilha de alimentos entre as mulheres do coletivo.

“Nós pretendemos rodar com ele em festival”, adianta Gleycielli, que também planeja inscrever o curta em festivais universitários, inclusive nos Estados Unidos.

O curta-metragem é uma realização do Coletivo de Mulheres Indígenas Kaguateka – CGRMS e conta com investimento da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura), do Governo Federal, por meio do MinC (Ministério da Cultura), operacionalizada pela Prefeitura de Campo Grande, via Fundac (Fundação Municipal de Cultura).

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