Há 36 anos, família reúne parentes de todo o país para 'folia com Deus'
Todos os anos, família Monteiro faz retiro, onde tradição familiar e espiritualidade dão o tom da festa
Dona Tomásia e seu Ariodante Monteiro já não estão entre nós. Se estivessem, estariam impressionados com os frutos da educação simples, mas cheia de amor e valores que deram aos 15 filhos. Mais de 100 anos após a chegada dos gaúchos ao sul do então Mato Grosso, a família Monteiro cresceu. Vieram netos, bisnetos, tataranetos e agregados, peças que compõem gerações ligadas pela fé e vontade de caminharem juntos.
Para fortalecer o elo da família, há 36 anos o Carnaval tem um novo sentido para os descendentes de Tomásia e Ariodante. Enquanto muita gente lota os ‘fervos’ e bloquinhos, eles seguem rumo a um retiro anual, onde tradição familiar e espiritualidade dão o tom da festa.
“Depois da morte do meu bisavô e da minha bisavó, filhos e netos foram naturalmente se distanciando. O retiro foi uma ideia para manter contato pelo menos uma vez por ano”, explica a comerciante Evelyn Bonfim Gomes, de 41 anos, bisneta do casal eixo da família.
Segundo ela, a história do retiro reconta a própria história dos Monteiros após a morte do patriarca, na década de 70, e da matriarca, em 80.
Uma chácara entre Rio Negro e São Gabriel do Oeste é o ponto de encontro da turma, que vem de perto e também de muito longe. Alojamentos e quartos são parte da estrutura que recebe cerca de 300 pessoas em quatro dias de reuniões. Em três décadas e meia de história, o evento só deixou de ser feito em 2021, por causa da pandemia.
Com tanta gente envolvida, o encontro de família virou congresso, o Cofamon (Congresso da Família Monteiro). Com a família majoritariamente evangélica, o Cofamon se transformou em um momento de reencontros, fé e celebração, resultado dos ensinamentos cristãos que sempre tiveram. “Meu bisavô tinha o costume de ter um tempo com os filhos para orar e ler a bíblia. Estamos perpetuando essa fé na família”, detalha Evelyn,
Gutenberg Gatte Vargas, de 52 anos, é um Monteiro agregado. Casou-se com Lorie, integrante da terceira geração da família. Segundo ele, primeira visita ao congresso aconteceu em 1994, evento que ele guarda com carinho na memória. “Nunca tinha visto uma família tão grande reunida. São muitos primos, tios, gente de estados diferentes. Eu achei o máximo”, comenta.
Nos últimos 30 anos, Gutenberg não perdeu um Cofamon sequer. Em épocas passadas, conta que já esteve nas tradicionais festas de Carnaval, no entanto, garante que o retiro em família é a melhor opção.
“Às vezes o Carnaval pode revelar um ambiente promíscuo, de briga e muito barulho. Lá, não. É um lugar agradável, com comida boa, esporte, gincanas e momentos com Deus. É a melhor maneira de passar o Carnaval”, avalia.
Hoje, Gutenberg é presidente do Congresso da família que o acolheu e ensinou a importância de estar junto. “Hoje é difícil ver essa união. Muitas famílias estão brigando por aí. São 250, 300 parentes conversando, contando histórias e confraternizando. É algo sobrenatural e gratificante”, finaliza.
Parte dos mais novinhos da família, Ana Júlia Monteiro, de 20 anos, nasceu no ano que o encontro da família já acontecia há uma década e meia. “Nasci e cresci indo para lá. Meus tataravôs tiveram 15 filhos e são muitos primos, naturalmente eu não teria contato com eles se não fosse o Cofamon”, conta.
Enquanto amigos da mesma idade vão a bloquinhos, o único Carnaval que a estudante de medicina conhece é o em família. “Nunca esperei o Carnaval pelo Carnaval, mas pelo Cofamon. Fico ansiosa e extremamente animada”, explica.
Recentemente, Ana Júlia assistiu a um vídeo de retrospectiva dos encontros. Em um dos vídeos, gravado em 2014, ela falava sobre o desejo de se tornar presidente do Congresso um dia. Sonho que se tornou realidade nos últimos dois anos, quando a jovem presidiu um congresso para jovens, braço do Cofamon que é feito em outubro, na semana do saco cheio.
“É uma coisa que me enche de orgulho, saber que estou carregando um legado. Agora, quero escrever um livro para contar a história e resgatar as raízes da nossa família".
Hoje, Boanerges Monteiro, de 80 anos, é o último dos filhos de Tomásia que ainda está vivo. Caçula dos 15, tem memória intacta e lembra com detalhes de como era a vida na fazenda e dos ensinamentos dos pais, que sempre o criaram na presença de Deus. Ele também estava lá, há 36 anos, quando o encontro da família começou.
"Ajudamos a erguer a estrutura onde foi a primeira reunião. No início era só um barracão coberto por palha, hoje tem muita coisa construída, é algo de Deus", comenta.
Ele não sabe por quantas outras edições vai poder participar, mas se diz realizado de ver o legado da família percorrer gerações.
Neste ano, o encontro acontece entre os dias 1 e 4 de março. Na programação, além de pregações e momentos de louvor, a família também vai celebrar o período de festa à sua maneira, com gincanas, brincadeiras, danças e teatro.
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