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Criança não é mãe: impactos psicológicos em meninas vítimas de estupro

Por Cristiane Lang (*) | 14/06/2024 13:30

A gravidez resultante de estupro é uma tragédia de proporções imensuráveis, especialmente quando a vítima é uma criança. Quando essa menina é impedida legalmente de realizar um aborto, as consequências psicológicas podem ser devastadoras e duradouras. Este artigo explora os profundos impactos psicológicos que essas meninas enfrentam e discute a importância de políticas que protejam seus direitos e bem-estar.

 Impactos Psicológicos:

1. Trauma e Estresse Pós-traumático (TEPT)

Revivência do Trauma: A gravidez decorrente de estupro pode forçar a menina a reviver continuamente o trauma do abuso. A presença física do bebê em crescimento dentro de seu corpo serve como um lembrete constante do ato violento.

Sintomas de TEPT: As meninas podem experimentar flashbacks, pesadelos, ansiedade intensa e evitamento de situações ou lugares que lembrem o abuso, dificultando sua capacidade de funcionar normalmente.

2. Depressão e Desespero

Sentimento de Desamparo: Ser impedida de realizar um aborto pode intensificar sentimentos de desamparo e desesperança, exacerbando sintomas de depressão.

Perda de Interesse: A depressão pode levar à perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, isolamento social e pensamentos suicidas, agravando ainda mais a situação emocional da vítima.

3. Baixa Autoestima e Autoimagem

Culpa e Vergonha: Meninas vítimas de estupro frequentemente sentem uma culpa e vergonha irracionais. A gravidez pode amplificar esses sentimentos, fazendo com que se vejam de forma negativa e indigna.

Distúrbios de Autoimagem: As mudanças físicas da gravidez podem ser particularmente traumáticas para uma menina, levando a distúrbios de autoimagem e até distúrbios alimentares.

4. Ansiedade e Medo

Medo do Futuro: A incerteza sobre o futuro, incluindo a capacidade de cuidar do bebê e as mudanças inevitáveis em sua vida, pode gerar altos níveis de ansiedade.

Medo de Rejeição: As meninas podem temer ser rejeitadas por suas famílias, amigos e sociedade, aumentando a ansiedade e o isolamento.

5. Interrupção do Desenvolvimento Psicológico

Perda da Infância: A gravidez força a menina a assumir responsabilidades adultas, interrompendo o desenvolvimento normal da infância e adolescência.

Desenvolvimento Cognitivo e Emocional: A necessidade de lidar com questões adultas pode sobrecarregar a capacidade cognitiva e emocional da menina, comprometendo seu desenvolvimento saudável.

Necessidade de Políticas de Proteção e Suporte

1. Direito ao Aborto Seguro

Proteção da Saúde Mental: Garantir o direito ao aborto em casos de estupro é crucial para proteger a saúde mental das vítimas. Políticas que impedem o acesso ao aborto nesses casos podem ser vistas como uma forma de revitimização.

Autonomia Corporal: Respeitar a autonomia corporal das meninas é fundamental para sua recuperação e senso de dignidade.

2. Apoio Psicológico e Terapêutico

Intervenção Imediata: Oferecer apoio psicológico imediato pode ajudar a mitigar os efeitos traumáticos iniciais e fornecer um espaço seguro para que a vítima processe suas emoções.

Terapia de Longo Prazo: Terapias contínuas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia focada no trauma, são essenciais para ajudar a menina a reconstruir sua vida e identidade após a violência.

3. Apoio Social e Comunitário

Rede de Suporte: Criar uma rede de suporte que inclua família, amigos e profissionais pode fornecer um ambiente de compreensão e acolhimento, essencial para a recuperação.

Educação e Sensibilização: Programas educacionais que abordem o impacto do estupro e a importância do apoio às vítimas podem ajudar a reduzir o estigma e aumentar a empatia na comunidade.

A gravidez em meninas vítimas de estupro que são impedidas legalmente de realizar um aborto é uma questão profundamente complexa que exige uma abordagem sensível e baseada em direitos. Os impactos psicológicos são vastos e podem afetar significativamente o desenvolvimento emocional e mental dessas meninas. É crucial que as políticas protejam o direito ao aborto seguro nesses casos e que haja um sistema robusto de apoio psicológico e social. Somente assim será possível mitigar os danos e oferecer às vítimas uma chance de recuperação e uma vida digna.

(*) Cristiane Lang é psicologa clínica.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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