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Comportamento

Após uma vida na calçada, Mariela se sentiu gente ao entrar em museu

Passeio organizado pela Águia Morena levou mais de 30 pessoas em situação de rua até o Memorial da Cultura

Por Aletheya Alves | 27/03/2024 07:05
Grupo durante passeio realizado pela Águia Morena. (Foto: Marcos Maluf)
Grupo durante passeio realizado pela Águia Morena. (Foto: Marcos Maluf)

“Eu nunca entrei aí. Às vezes eu durmo aqui embaixo, durmo mais lá para frente”, diz Mariela Gomes Medina, de 33 anos, sobre o Memorial da Cultura Apolônio de Carvalho. Pela primeira vez, sem os olhares que a fazem não se sentir gente, a boliviana de 33 anos passou pelas portas do prédio na Avenida Fernando Corrêa da Costa para tocar nos livros, conhecer outras culturas e voltar no tempo com o Museu de Arqueologia. Foi assim que ao invés de se sentir “um bicho” ou aquela “moradora de rua”, como ela diz, manteve o sorriso durante toda a visita ao lado de mais 40 pessoas que dividem as sensações e sofrimentos.

Às 8h30min de terça-feira (26), o grupo guiado pela Associação Águia Morena, que atende pessoas em situação de rua e que enfrentam a dependência química, chegou ao Memorial. Horas antes, eles haviam saído de calçadas espalhadas pela cidade para ir até o Centro POP tomar banho e se reunir para o passeio.

Diferente do grupo que usa os dormitórios do centro de acolhimento, Mariela, que foi eleita como a representante, explica que ela e os outros visitantes do dia costumam se ver logo pela manhã. “Nós vamos até lá para lavar roupa, comer, tomar banho, tudo isso no Centro POP. Hoje a gente foi porque falaram que ia ter esse passeio e a gente quis fazer”.

Em Campo Grande há pouco mais de um ano, Mariela conta que veio para cá com os filhos. Antes, na Bolívia, já havia morado nas ruas devido ao vício em pasta base, mas se recuperou e tentou iniciar uma nova vida. Aqui, vendendo trufas, se manteve com a família até que voltou a dormir em calçadas.

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Muita gente acha que a gente só não para porque não quer, mas não é assim, não é fácil. E na rua, as pessoas olham a gente como se fosse bicho, não querendo a gente perto. Então fica pior ainda, descreve Mariela.

Curiosa, a boliviana se manteve controlando a ansiedade ao lado do grupo enquanto não entrava na primeira visita à biblioteca. “Parece um sonho eu poder entrar aí”.

E, quando finalmente seguiu pelas portas, fez questão de visitar cada estante de livro e permanecer atenta às explicações.

Mariela folheando livros durante a visita. (Foto: Marcos Maluf)
Mariela folheando livros durante a visita. (Foto: Marcos Maluf)
Grupo escutando explicação no Museu de Arqueologia da UFMS. (Foto: Marcos Maluf)
Grupo escutando explicação no Museu de Arqueologia da UFMS. (Foto: Marcos Maluf)

Guiando o grupo, o responsável pela comunicação do Águia Morena, Kedney Araújo conta saber bem como é a sensação de estar na rua. Anos atrás, quando morava em Belo Horizonte, precisou enfrentar a falta de teto.

“Passei por essa situação também pelo uso de substâncias e lá eu fui acolhido por uma instituição que prestava esse serviço de acolhimento e assistência social. Na época, eles me convidaram para ao invés de apenas receber a ajuda, atuar também e eu aceitei”, explica Kedney.

Durante a pandemia, ele precisou voltar para Campo Grande e foi assim que encontrou a Águia Morena. “Hoje, eu sou estudante de Serviço Social e trabalho com o instituto. Estar aqui nesse passeio com eles é algo que acredito porque sei muito bem como essas oportunidades fazem mudanças”.

Além da visita ao prédio que sedia a Fundação de Cultura, o grupo fez um passeio de City Tour e foi até o Bioparque Pantanal. De acordo com os organizadores, o objetivo é fortalecer essas pessoas, ao invés de manter a fragilidade.

Sobre a associação, Kedney explica que a ideia é trabalhar em redes com outras instituições para a garantia de direitos da população em situação de rua e que sofre com a dependência química. O passeio realizado ontem, por exemplo, contou com apoio tanto da Prefeitura quanto da Fundação de Cultura.

“Nós oferecemos diversos serviços, desde a escuta qualificada até projetos como esse que se iniciou. A gente acredita que a educação e a cultura são caminhos para empoderar essas pessoas e fazer com que elas sejam cada vez menos fragilizadas”, completa o estudante de Serviço Social.

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