ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Artigos

Você tem fome de quê?

Por Cristiane Lang (*) | 16/04/2025 13:30

A pergunta “Você tem fome de quê?” vai muito além da necessidade física de se alimentar. Ela nos desafia a refletir sobre nossos desejos mais profundos, nossas buscas e aquilo que, no fim das contas, nos move. Porque todos temos fome de algo – amor, reconhecimento, liberdade, sentido – e essa fome é o que dá forma às nossas escolhas e ao nosso caminho.

A fome que nos define

Nem sempre sabemos identificar nossa verdadeira fome. Muitas vezes, estamos em busca de algo que preencha um vazio, mas não conseguimos nomeá-lo. Compramos, trabalhamos, comemos, nos cercamos de pessoas, e ainda assim sentimos que algo falta. Isso acontece porque, frequentemente, confundimos o que queremos com o que realmente precisamos.

Por exemplo, buscamos sucesso porque acreditamos que ele trará felicidade, quando, na verdade, nossa fome pode ser de pertencimento ou de paz interior. A falta de clareza sobre o que realmente desejamos nos leva a perseguir objetivos que não saciam a alma.

As diferentes formas de fome

Fome de conexão: Relacionar-se é uma necessidade humana básica. Muitos de nós temos fome de atenção, amor e pertencimento. Queremos ser vistos, ouvidos e compreendidos, mas nem sempre conseguimos expressar essa necessidade, o que nos faz buscar substitutos – como redes sociais ou relações superficiais.

Fome de significado: Há quem tenha fome de sentido na vida, de entender o porquê das coisas. Essa busca nos leva a explorar a espiritualidade, a arte ou causas maiores. Sem propósito, a vida parece vazia, e essa fome pode ser uma das mais difíceis de saciar.

Fome de liberdade: Alguns anseiam por autonomia, por viver sem as amarras de expectativas externas. Essa fome impulsiona mudanças de vida radicais, como largar uma carreira estável ou viajar pelo mundo, em busca de uma vida mais autêntica.

Fome de reconhecimento: Todos queremos, em algum nível, ser valorizados por quem somos ou pelo que fazemos. Quando não recebemos esse reconhecimento, podemos nos sentir invisíveis, o que nos leva a buscar validação em lugares que nem sempre são saudáveis.

Quando a fome é ilusória

Nem toda fome é real – algumas são reflexo de influências externas. Vivemos em uma sociedade que constantemente nos diz o que devemos desejar: o corpo perfeito, a casa dos sonhos, o carro do ano. Muitas dessas fomes são criadas para nos manter insatisfeitos, sempre consumindo, sempre correndo atrás de algo.

Identificar o que é genuíno e o que é imposto é um passo essencial para viver de forma mais plena.

Como descobrir do que você tem fome?

Faça pausas: A correria do dia a dia nos impede de escutar a nós mesmos. Reserve momentos de silêncio para refletir sobre o que realmente importa.

Questione seus desejos: Pergunte-se: “Por que quero isso? Isso realmente vai me fazer bem?” Nem tudo o que parece necessário é, de fato, essencial. Ouça sua intuição: Às vezes, sabemos do que precisamos, mas ignoramos os sinais porque isso exige coragem ou mudança. Dê voz àquela sensação que insiste em aparecer.

Experimente: A fome da alma não é tão óbvia quanto a do corpo. Às vezes, só descobrimos o que nos preenche ao explorar novos caminhos.

Saciar a fome sem devorar a vida

Em nossa busca por saciar a fome, corremos o risco de nos perder no excesso. Comer demais, querer demais, fazer demais – e ainda assim continuar insatisfeitos. Saciar a fome não é sobre ter tudo, mas sobre encontrar o suficiente, aquilo que realmente nos nutre.

 Então, você tem fome de quê? Essa é uma pergunta que vale revisitar ao longo da vida, porque nossas necessidades e desejos mudam conforme crescemos. O importante é não ignorar essa fome, mas também não confundi-la com ilusões ou pressões externas. Encontrar o que realmente nos nutre é a chave para uma vida mais significativa, mais leve e, acima de tudo, mais nossa.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias