Rito do Lava-Pés leva fé católica à comunidade indígena no Noroeste
Franciscanos e Lauritas deram início ao tríduo pascal na Aldeia Água Funda, situada no Noroeste
Freis franciscanos e Irmãs Lauritas celebraram o rito do Lava-Pés na tarde desta quinta-feira (17) com 92 famílias indígenas da etnia Terena, na Aldeia Água Funda, área ocupada e não reconhecida pelo poder público, localizada no extremo noroeste de Campo Grande.
A cerimônia foi realizada sob uma tenda branca montada sobre tábuas de madeira, em meio a barracos de lona e ruas alagadas, após um dia de chuva intensa. O ritual, que integra a tradição católica da Quinta-Feira Santa, simboliza humildade e acolhimento, e foi promovido como forma de levar a presença da Igreja a comunidades em situação de vulnerabilidade.
A Aldeia Água Funda fica em uma rua homônima, cercada por terrenos sem infraestrutura, onde os ônibus e serviços de transporte por aplicativo não chegam. Os moradores vivem no local há cerca de nove anos e enfrentam dificuldades de acesso à educação, com a escola mais próxima a 5 km. Durante a celebração, água se acumulava ao redor da tenda, e o altar foi montado sobre pisos improvisados para evitar que ficasse submerso.
A missão foi organizada pelas Irmãs Lauritas, que deixam a função na Arquidiocese de Campo Grande, e agora será assumida pelos freis franciscanos. A irmã Elza Aules Chinchero, 48 anos, do povo Quitu, no Equador, atua há nove anos na cidade.
Segundo ela, “essa é uma forma da Igreja enxergar a situação dos povos indígenas na área urbana de Campo Grande” e também uma forma de mostrar ao poder público que esses povos precisam de mais do que ações culturais pontuais: “É preciso valorização da ancestralidade e reconhecimento real dessas pessoas”.
A professora Darleiene Pinto, 32 anos, moradora da comunidade, trabalha com ações de reafirmação cultural entre os moradores. Ela ressaltou que a celebração é importante para manter a fé e o pertencimento: “A comunidade é carente de ações que venham até nós. E também temos dificuldade de participar de atividades da igreja pela condição das ruas e pelo deslocamento”.
O cacique Ivaneis Moreira, de 50 anos, destacou o valor da manutenção da religiosidade como força de união para a comunidade. Já o arcebispo Dom Dimas Lara Barbosa, presente no evento, afirmou que ainda não conhecia a Aldeia Água Funda. Para ele, comunidades indígenas urbanas e não reconhecidas "[...] vivem em condições semelhantes às das favelas, o que exige da Igreja e do poder público um esforço maior para garantir direitos básicos".
Responsável pela Pastoral Indigenista a partir deste ano, o frei Wagner lembrou que há 25 comunidades indígenas em Campo Grande. “Essa celebração acontece simultaneamente em outras três comunidades da região. É a forma da Igreja estar presente e atuante na defesa dos direitos indígenas, principalmente os que vivem em áreas urbanas e sem reconhecimento”, afirmou.
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