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Em Pauta

A Casa das Perguntas, a história do homem que perdeu o poder

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 20/09/2024 06:40
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Estamos no dia 4 de abril de 1.571, uma quarta-feira, temos perante nós Damião Goes, um homem de 69 anos, guarda-mor da Torre do Tombo, em Lisboa, o mais importante historiador português dessa época. Autor, dentre outros textos da crônica de d.Manoel. Entenda como “crônica”, a escrita oficial das façanhas desse rei famoso. Damião Goes fora um homem importante. Além de escrever a vida do rei, tinha sido enviado para estabelecer inúmeros negócios com outros países. Fora importante, já não é.


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Cana nele!

Hoje, vieram homens prendê-lo. Eram enviados pelo Corregedor do Crime. Rapidamente o entregam aos cárceres de Lisboa a chamada "Casa das Perguntas", onde nada era perguntado. No dia seguinte, é apresentado à Inquisição de Lisboa. Como todos os demais prisioneiros da Santa Inquisição, Damião não sabe o que o levou à prisão. Os estatutos dessa tenebrosa organização deixam claro que o prisioneiro deve fazer um exame de suas culpas. Isto é, o prisioneiro deve descobrir do que é culpado. “Se está preso, ele deve saber quais são suas culpas”, diz a Inquisição.


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Vai e volta. Da prisão para casa.

Damião começará um suplicio. Não sabe porquê o prenderam. Deixam que vá para casa. Três dias depois, o levam de volta às masmorras. Damião procura em sua memória. Lembra que há 40 anos atrás, isto mesmo, passados quarenta anos, teve conversas com pessoas como Martinho Lutero e Erasmo de Roterdã, que não tinham importância por volta de 1.520. Os inquisidores não se dão por satisfeitos e determinam prisão perpétua para Damião. Passados muitos anos, Damião é solto por estar muito doente, talvez tivesse lepra. Morre logo a seguir. Aventam a hipótese de que tenha sido assassinado. Havia uma outra acusação que o tornava odioso, Damião comia carne de porco, costume inaceitável, apesar de ter um documento do Papa que abria uma exceção especifica para ele.


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O poderoso sem poder.

Damião foi um católico fervoroso, nunca criticou ou teceu qualquer conjectura contra a igreja católica. Apenas conversou com pessoas que, passados 40 anos, a igreja condenava. E comeu carne de porco. O rei D. Manoel protegeu Damião enquanto viveu. Não permitiu que a Inquisição o perseguisse. Assim que Damião perdeu o poder, sucumbiu e foi preso. Esta é uma historia atual, ainda que antiga. Há pouco, vimos Bolsonaro, um ex-poderoso, virar ladrão de joias. Bastou descobrirem que Lula, poderoso atual, também tinha levado um relógio para casa para que Bolsonaro fosse declarado inocente. Essa é uma das facetas do poder. Pode ser absoluto. O poderoso de ontem é o perseguido de hoje. O acusador atual pode ser perseguido amanhã.

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