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Em Pauta

Fronteira com o PY: contrabando de gado e litígio entre brancos

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 13/06/2024 08:49
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Nos últimos anos do século XIX, a fronteira do Paraguai era uma região vazia de humanos. Por lá, quase inexistiam brancos e indígenas. Provavelmente era a região com menor densidade populacional do Mato Grosso do Sul. Com os litígios atuais entre fazendeiros e índios, a impressão que a imensa maioria da população tem é de que a luta pela posse da terra já era constante. Nada mais incorreto. A verdade documentada era de grande quantidade de disputas territoriais entre brancos.


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A posse da terra nunca foi "mansa e pacífica " na fronteira.

Em suas linhas gerais, a posse de terras na fronteira com o Paraguai foi violenta. Nunca respeitou a lei que preconizava ser "mansa e pacífica". O risco que os posseiros pioneiros corriam eram imensos. Estavam isolados nos confins dos sertões, os transportes por terra e rios eram precários e a ineficiência do governo em fiscalizar e regulamentar as posses era a marca registrada da região. Por volta de 1.880 a 1.890, formaram-se fazendas de gado e de exploração da erva mate. Elas não tinham limites definidos, apenas vagas informações lhes serviam de marca da posse. É risível, ler a posse de um tal Balbino Paes Pereira. Diz ele que havia tomado posse de terras, logo após o término da guerra, no local de nome "Rabicho " e cuja vaga referência era, acreditem, "à margem direita do rio Paraguai".


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A entrada de gaúchos e paraguaios.

Um imenso êxodo de gaúchos e de paraguaios ocorreu nessa época. As leis de regulamentação de posse das terras de nada valeu. Em decorrência dessa ocupação desenfreada de terras devolutas, inúmeros conflitos entre brancos eclodiram na região. Essa é, sem a menor sombra de dúvida, a marca distintiva da região. Em consequência do fim da guerra, ocorreu uma desorganização geral do governo no tocante à suas atividades rotineiras. O que era quase inexistente, desapareceu por completo. Não havia fiscalização alguma. Cada um se arrumava como pudesse. Tomava posse de uma terra hoje e a perdia no dia seguinte. Um posseiro não deixava que outro passasse por sua terra. Uma imensa bagunça. Onde há desorganização, sobram conflitos.


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O contrabando na região começa com o gado.

Burlar o fisco ou fazer "vistas grossas", tanto na venda de gado como da erva-mate foi a outra marca distintiva da região. Ao término da guerra, em 1.870, parte significativa dos rebanhos estava dizimada e foi necessária a reposição de estoques, o que movimentou um fluxo interno e externo de comércio boiadeiro, na maioria das vezes, ilícito. O rebanho bovino do Paraguai sofreu um decréscimo ainda maior, impulsionando um movimento clandestino de gado do Brasil para o Paraguai. A trilha do contrabando pela fronteira estava aberta... e nunca mais se fechou. Há um relatório do governo de 1.902 dizendo que tinham contrabandeado, só naquele ano, em torno de 90.000 cabeças de vaca. Os documentos diziam que era gado "refugo", boi magro e de má qualidade. Mas era uma atividade altamente compensadora para os fazendeiros. Em verdade, era uma prática consentida pelo governo pois nunca teve fiscalização.
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