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Diversão

Pela 3ª vez, Marcus mostra porque todos merecem conhecer a Bolívia

Viagem ao país vizinho é mais surpreendente do que se imagina

Thailla Torres | 25/06/2023 08:54
Marcus Costa visitando a Bolívia ao lado da esposa Mariana Castelar. (Foto: Thailla Torres)
Marcus Costa visitando a Bolívia ao lado da esposa Mariana Castelar. (Foto: Thailla Torres)

Apesar de 68% dos leitores afirmarem em enquete do Campo Grande News que não têm qualquer vontade de conhecer a Bolívia, o professor de Geografia Marcus Costa, de 36 anos, compartilhou uma carta na série Voz da Experiência para contar como foi sua terceira viagem ao país vizinho, um lugar repleto de tradições e cores, onde as visitas nunca são iguais. Em palavras, ele expressa detalhes que podem fazer você sentir vontade de encarar uma viagem para um dos lugares mais surpreendentes do mundo.

Marcus ao chegar no Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo. 
Marcus ao chegar no Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo.

"Carta de um amigo para outro,

Bom, foi a terceira vez que retornei a este país meu amigo, mas na Bolívia, nunca as visitas são iguais.

Para você que não conhece esse país, é um lugar repleto de tradições e cores, de comidas diferentes e fortes como as pessoas que ali habitam. Toda rua é diferente, assim como é nos países latinos com forte tradição indígena. Os Aymaras e outras 33 nações reconhecidas traçam a singularidade fisionômica de um país que tem seu tempo e sua realidade própria, conforme a planície, ou a montanha. 

Mas, o país é marcante. A fronteira é icônica, uma mescla de atualidade e nostalgia, de pobreza e alegria, até porque, as pessoas ali só aparentam querer viver, lutando por uma vida melhor, ou lutando pelo seu melhor para o futuro. A rodoviária (Puerto Quijarro), é como se fosse uma feira popular, estilo a do Guanandi, que quem paga menos, buscando o melhor conforto, ganha o direito de cruzar a planície boliviana/guarani mais confortável.   

Amigo, outro detalhe interessante, a planície boliviana. Lembrei da nossa querida Piraputanga, tão verde e tão exuberante com os seus morros que são testemunhas do tempo, lá eles também demonstram ter uma característica física rochosa arenosa e avermelhada, mas marcante, com suas paisagens exuberantes.

Arquitetura de Santa Cruz de La Sierra impressiona. 
Arquitetura de Santa Cruz de La Sierra impressiona.

Todos que chegam em Santa Cruz acham um pouco semelhante com a gente, mas na verdade, uma cidade que foi pensada e organizada para ser uma referência de planejamento urbanístico, foi engolida pela expansão urbana e desorganizada, mas como eu penso, uma bagunça da urbe buscando a organização. Cosmopolita e indígena, Santa Cruz tem seus encantos e sabores, como aquela saltenha que se come de colher que você encontrará em qualquer esquina.

O tempo foi o nosso inimigo dessa viagem amigo, por isso, da planície para montanha, fomos de avião. Pelo fato de a viagem ser de dia, do avião observamos a transição das planícies para as montanhas, dos picos nevados e marcantes, para o altiplano boliviano. 

Chegamos na cidade da cor de tijolos, do povo que mora no vale da montanha, do povo que mora lá em cima (El Alto) e se transporta de teleférico de forma cotidiana, como faz todo trabalhador que é consumido pelo sistema e tem a sua casa como simples dormitório. La Paz encanta. Não pela sua urbanização moderna ou eficiente, mas parafraseando Chico Science, desorganizada para se organizar. As suas construções antigas testemunham uma cidade de raiz colonial espanhola, também entrelaçam com os prédios modernos e atualizados, pela necessidade do tempo e do presente. Mas amigo, aqui o role é diferente, o folego aqui é curto. 3600 metros de altitude torna as coisas um pouco mais difícil, mas isso não foi problema para nós. La Paz encanta tanto que você terá certeza de que vai conseguir ver tudo sem cansar ou pestanejar, pois já te disse uma vez em alguma conversa regada a um bom vinho em casa que, “aquele lugar é diferente de tudo que você viu no que diz respeito a uma cidade”. 

Marcus e Mariana no Salar de Uyuni. 
Marcus e Mariana no Salar de Uyuni.
Cemitério de Trens no Salar de Uyuni. 
Cemitério de Trens no Salar de Uyuni.
Pôr do sol no deserto de sal é um espetáculo. 
Pôr do sol no deserto de sal é um espetáculo.

Mas a caminhada tem seus desdobramentos, e dali fomos conhecer Tiwanaku, que segundo um velho boliviano que toma cerveja perto de casa, “é onde tudo começou”. Um grande sítio arqueológico repleto de histórias riquíssimas em dados e informações que com certeza vai fazer você sonhar, se caso for lá conhecer. Um lugar que cada pedra ali tem uma história e é testemunho do quanto os povos do altiplano estavam bem a frente de muitos povos antigos desse mundo! A mística é visual e perceptiva, é um sentimento que, somente estando no lugar entenderá. 

Em outro momento da viagem, fomos ver o Salar de Uyuni. Este lugar conheci em 2017, por isso, a experiencia foi um pouco diferente, mas emocionante. Quando fui a primeira vez, estava em um outro momento da minha vida, logo, aquele lugar se tornou a maior experiencia da vida vivida por mim neste planeta. Um lugar que somente Deus e a Natureza podem explicar, cercado por vulcão, deserto, montanhas e clima de deserto, as paisagens dessa parte do altiplano transcenderam e atravessaram a minha existência nesse período da minha vida, tanto que nunca mais fui mesmo depois dessa viagem em 2017. 2023 foi diferente. Com outras metas de vida e alguns quilos a mais, a contemplação da paisagem branca e seca foi uma espécie de detox visual e espiritual, um reset do cotidiano, um recomeço dos vários recomeços que temos que fazer todos os dias para seguir em frente, um caminhar mais descansado. Foram algumas horas que pude estar em paz com o mundo, livre de tudo, junto de pessoas que amo e faltando outras que queria estar vendo aquilo comigo, contemplando uma das mais belas obras de arte dessa natureza e embriagado por isso, fascinado pelo mistério, encantado por tudo. 

As cores de La Paz 
As cores de La Paz
"Se ficássemos um mês em La Paz, com certeza todos os dias íamos encontrar um lugar diferente para ver."
"Se ficássemos um mês em La Paz, com certeza todos os dias íamos encontrar um lugar diferente para ver."

Voltemos a La Paz. As pessoas que estavam comigo foram buscar viver outras emoções, conhecendo Chacaltaya e Vale de la Luna, mas infelizmente não pude ir, já estava cansado amigo. Não fiquei triste, porque sabia que aquilo era uma desculpa para voltar a cidade em outro momento. Se ficássemos um mês em La Paz, com certeza todos os dias íamos encontrar um lugar diferente para ver. No fim, fomos conhecer o mirante Killi Killi, um lugar que você pode ter uma visão de 360 graus de todo o vale de La Paz, e uma conexão direta com lugares marcados pela simbologia da resistência Inca contra os espanhóis. Aliás, este lugar valeu muito a pena visitar, mesmo sendo meio difícil de chegar, a paisagem observada valeu por cada minuto gasto para chegar lá. 

Depois desse dia começamos voltar, retorno bem tranquilo diga-se de passagem. A planície é nosso lugar de origem, e confesso que estar nela de volta foi um grande alívio (risos). O mal da altitude foi a grande marca dessa viagem. Se um dia for, se prepare mentalmente, espiritualmente e acima de tudo, fisicamente. Pessoas comuns (como eu e você) costumam ter problemas físicos em cima da montanha! Mas não é nada para assustar, apenas se prepare para estar lá. 

Enfim, esse foi o meu breve relato do que vivi nesses últimos dias, e amigo, com certeza voltarei neste país e ficarei muito feliz, sobretudo por estar ali mais uma vez, e na minha opinião, se você for um dia, com certeza verá coisas diferentes de tudo que você já viu na sua vida.

Até mais amigo, se caso for a La Paz, me escreva. Ficarei feliz por saber que foi e lerei as suas experiências com muito carinho. Tenho certeza de que irá amar como eu amei estar naquele lugar, e não tenho dúvidas que irá mudar sua existência, assim como foi comigo.   

Fica em paz y hasta luego".

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
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