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O inconsciente não é álibi: o que escapa de você ainda é seu

Por Cristiane Lang (*) | 28/02/2025 13:30

Muitas vezes, quando nos deparamos com um erro, uma atitude impulsiva ou uma palavra mal colocada, tentamos justificar dizendo: “Não foi minha intenção.” Ou ainda: “Foi sem querer.” Esse tipo de explicação pode até aliviar a culpa momentânea, mas não nos isenta da responsabilidade. Afinal, mesmo quando agimos inconscientemente, ainda somos os protagonistas de nossas ações.

O inconsciente como parte de quem somos

O inconsciente não é um território separado da nossa identidade. Ele é, na verdade, um reflexo de nossa experiência, crenças e emoções profundas. Tudo o que dizemos ou fazemos, mesmo sem intenção deliberada, vem de algo que já está dentro de nós. Ou seja, nossos impulsos, lapsos e atitudes “involuntárias” não surgem do nada — eles são o produto de nossa história e dos padrões que cultivamos ao longo da vida.

Se, por exemplo, uma pessoa tem um viés preconceituoso e acaba fazendo um comentário racista, machista ou elitista, alegar que “não foi de propósito” pode até ser verdade em termos de consciência imediata. Mas isso não significa que o comentário não tenha raízes em valores internalizados. Isso significa que essa pessoa tem a responsabilidade de refletir sobre o que disse e buscar mudar tais padrões inconscientes.

A responsabilidade pelo que fazemos sem querer 

A ideia de que não temos culpa pelo que fazemos inconscientemente é, na verdade, uma fuga da responsabilidade. Mesmo que um ato não tenha sido planejado, ele teve uma causa — e essa causa está dentro de nós. Portanto, somos responsáveis não só pelo que fazemos conscientemente, mas também pelo que permitimos que nosso inconsciente manifeste.

O psicólogo Carl Jung dizia: “Até você se tornar consciente, o inconsciente dirigirá sua vida e você o chamará de destino.” Isso significa que, enquanto não assumirmos responsabilidade por nossos impulsos e padrões inconscientes, continuaremos repetindo erros, acreditando que somos apenas vítimas de nossas próprias reações.

O que fazer para assumir a responsabilidade? 

Autoanálise – Se perceber que fez algo “sem querer”, pergunte-se: Por que isso aconteceu? O que dentro de mim gerou essa atitude?

Escuta ativa – Se alguém diz que você fez algo prejudicial, em vez de se defender dizendo que não foi sua intenção, ouça e reflita sobre o impacto que causou.

Mudança de padrões – A melhor forma de reduzir comportamentos inconscientes prejudiciais é buscar mudanças ativas, como terapia, leituras, ou conversas construtivas.

Responsabilidade emocional – Reconhecer que, mesmo sem querer, causamos efeitos nos outros e que é nosso dever lidar com isso de forma madura.

Dizer “não foi de propósito” pode parecer um álibi conveniente, mas não é uma justificativa legítima. O inconsciente não é um território separado de quem somos, e nossos atos refletem, direta ou indiretamente, aquilo que cultivamos internamente. Assumir a responsabilidade por tudo o que fazemos, incluindo o que não parece intencional, é um passo essencial para o autoconhecimento e para relações mais saudáveis e maduras.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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