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Cidades

Com chegada do frio, médico lembra que risco de doenças cardiovasculares aumenta

Em entrevista, o cardiologista Dr. Diego Filártiga explica medidas para prevenir, principalmente, em idosos

Mylena Fraiha | 15/05/2023 07:28
Em tarde fria, idosa agasalhada é levada ao atendimento médico do Hospital Procardio (Foto: Paulo Francis)
Em tarde fria, idosa agasalhada é levada ao atendimento médico do Hospital Procardio (Foto: Paulo Francis)

As mudanças de temperatura e o tempo frio não aumentam apenas a ocorrência de doenças respiratórias, mas também são risco aos problemas cardíacos, especialmente em idosos, conforme aponta o cardiologista e especialista em geriatria, Diego Filártiga.

Com a chegada do inverno, a possibilidade de infartos se agravam, devido à contração dos vasos sanguíneos para conservação do calor corporal, o que, consequentemente, aumenta a pressão arterial. “Nessa época, notamos um aumento no número de pacientes com dores torácicas ou de pacientes que procuram a emergência com problemas cardiorrespiratórios”, explica Diego.

A gente chama a atenção porque existem doenças graves, como o câncer, neurológicas e infecciosas, como foi o caso da covid-19; mas a doença cardíaca sempre permanece entre as mais recorrentes”, explica o cardiologista.

Diego explica que os idosos devem tomar medidas preventivas para evitar problemas de saúde durante o inverno (Foto: Paulo Francis)
Diego explica que os idosos devem tomar medidas preventivas para evitar problemas de saúde durante o inverno (Foto: Paulo Francis)

Em entrevista ao Campo Grande News, o cardiologista deu dicas sobre prevenção de doenças durante o frio, além de trazer algumas recomendações que valem para qualquer época do ano.

Já é notório que uma das maiores preocupações é a alta taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares, que são responsáveis por cerca de 100 mil mortes por ano, conforme dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

“Isso equivale, aproximadamente, a 46 mortes por hora, ou uma morte a cada 90 segundos. Essa taxa é o dobro do índice de mortalidade causado por qualquer tipo de câncer”, explica o cardiologista.

Diego aponta que apesar de ser uma doença crônica que pode ser prevenida em 90% dos casos, a falta de cuidados com a saúde por parte da população brasileira continua a ser um problema grave. “A pessoa pode ter uma predisposição genética para tê-las e por fatores de risco, ou seja, desenvolver obesidade, falta de atividade física, uso de cigarro, má alimentação. Então chega aos 40 anos com hipertensão ou diabetes, mas não faz o tratamento”.

Na experiência desde 2005, cardiologista no Hospital do Coração, faz atendimentos no Hospital Procardio e tem consultório no bairro Moreninhas II, e percebe que as pessoas procuram atendimento médico tarde demais. “Quem não tem um parente que tenha pressão alta e diabetes, que por causa dessa falta de cuidado diária acabou em um pronto-socorro? Aí só vai ter o atendimento quando estiver em um quadro de emergência. Já passou toda a fase de prevenção que poderia ter feito”.

Prevenção -  Devido ao aumento significativo de doenças cardiorrespiratórias, cardiovasculares e cerebrovasculares no inverno, Diego explica que é fundamental que os idosos fiquem atentos a qualquer sintoma que possa indicar um problema de saúde e procurem ajuda médica imediatamente.

Ele destaca que o tempo e agilidade no atendimento são essenciais nesses casos. "Eu sempre falo que tempo é músculo e tempo é cérebro. Se há alguma suspeita de AVC ou dor no peito é preciso correr para alguma unidade de saúde. Não dá para esperar, porque se ocorrer algo, a área afetada está perdendo nutrição do tecido. Se o atendimento for rapidamente, é possível diminuir as chances de sequelas", explica.

Além disso, o médico recomenda que os idosos tomem medidas preventivas para evitar problemas de saúde durante o inverno. "Nessa época, é importante que os idosos se agasalhem melhor, bebam mais água, evite lugares com aglomerações ou com pessoas com sintomas respiratórios”.

Segundo Diego, algumas dicas também devem ser seguidas ao longo do ano, como a questão da alimentação e do exercício físico. “Os idosos também devem manter uma dieta saudável e praticar exercícios físicos, mas sem esquecer de manter os músculos e o equilíbrio", orienta.

Antes da chegada do inverno, Diego também enfatiza a importância da vacinação, que em Campo Grande tem registrado uma baixa procura. "Os idosos devem tomar a vacina para a gripe e outras doenças virais. As vacinas são seguras, já que possuem um tempo maior de estudos e eficácia comprovada", afirma.

Dr. Diego explica que vitamina D em excesso pode gerar problemas renais (Foto: Paulo Francis)
Dr. Diego explica que vitamina D em excesso pode gerar problemas renais (Foto: Paulo Francis)


Suplementação - Outro aspecto citado por Diego é o uso de suplementação vitamínica sem prescrição médica. A pandemia da covid-19 trouxe à tona a importância da imunidade e das vitaminas na saúde do organismo. Entre elas, a vitamina D se tornou bastante conhecida, com estudos apontando que sua ingestão poderia fortalecer o sistema imunológico e, assim, prevenir doenças.

Entretanto, é preciso ter cautela com a suplementação, alerta o médico Diego Filártiga. De acordo com o especialista, muitas pessoas têm se automedicado com altas doses de vitamina D, o que pode gerar intoxicação e até mesmo sérios problemas de saúde. "A ideia era vender polivitamínico em doses muito altas, o que aumentou a probabilidade de superdosagens e, consequentemente, de intoxicações. Eu mesmo já vi pacientes em quadros de intoxicação por vitamina D", relata.

Os sintomas de intoxicação incluem dor abdominal, sudorese e dores de cabeça, mas podem ser confundidos com outras enfermidades, o que torna o diagnóstico mais difícil. "Quando analisava a quantidade de vitamina D no organismo, apontava para 150 ng/mL no corpo do indivíduo. O esperado é entre 20-50 ng/mL. Acima de 100 ng/mL há risco de intoxicação", comenta o médico.

Diego explica que a quantidade ideal de vitamina D a ser ingerida diariamente deve ser indicada pelo médico e varia de acordo com a necessidade do paciente. A literatura sugere uma faixa entre 600 UI/dia até 2000 UI/dia. "As pessoas estavam consumindo até 50.000UI/dia, o que é extremamente perigoso", alerta o especialista.

Além disso, Diego ressalta que a vitamina D é importante para a regulação do cálcio, mas o excesso da substância pode gerar uma absorção excessiva de cálcio no intestino e nos rins, levando a uma série de doenças graves. "Hoje vemos muitas pessoas que investem no marketing de não olhar para a doença e sim olhar para o paciente sadio. Só que é preciso ver como um todo, ou seja, tanto a pessoa com a doença, que precisa ser tratada adequadamente; quanto a pessoa que precisa de um tratamento preventivo", comenta.

Para o médico, a essência da medicina não pode ser perdida em meio às vendas mercadológicas de produtos e serviços. "Acho que a busca por tratamento preventivo tem muita relação com a questão de acesso à informação e ao tratamento. As classes A e B às vezes têm um excesso de procura e acabam entrando em tratamento estéticos, antienvelhecimento ou tratamentos que não possuem muitas evidências científicas, mas que tornaram-se populares”, conclui Diego.

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