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Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul

Estudo da Unicef aponta MS entre os estados com mais jovens em empregos verdes, com 33,09%

Por Jéssica Fernandes | 06/07/2025 09:09
Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Funcionárias atuam na triagem de materiais recicláveis em empresa da Capital. (Foto: Osmar Veiga)

Da produção no campo ao pátio de reciclagem, os empregos verdes ganham diferentes abordagens a depender do setor. Os métodos podem ser distintos, mas têm algo em comum quando o propósito é conservar recursos naturais e reduzir o impacto ambiental das atividades econômicas.

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Os empregos verdes, que visam conservar recursos naturais e reduzir impactos ambientais, estão em expansão no Brasil. Mato Grosso do Sul se destaca com 33,09% desses postos ocupados por jovens, segundo relatório da Unicef. Empresas como a Berpram Ambiental, que recicla resíduos, e o Fruto da Paixão Brasil, que cultiva maracujá de forma sustentável, exemplificam essa tendência. A chegada de indústrias com foco em sustentabilidade, como a Arauco e a Suzano, impulsiona a geração de vagas. Apesar dos desafios, a agricultura familiar e a engenharia ambiental mostram que práticas sustentáveis podem ser economicamente viáveis e essenciais para o futuro.

Em termos percentuais, Mato Grosso do Sul é um dos estados com maior proporção de empregos verdes ocupados por adolescentes e jovens, com 33,09%, o quinto maior do Brasil.

Os dados foram divulgados no final de junho pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), no relatório “Habilidades e empregos verdes para adolescentes e jovens no Brasil”. O estudo identificou um total de 6,8 milhões de empregos verdes no país, atualmente dispersos de forma desigual pelo território nacional. No caso, foram considerados apenas vínculos formais, extraídos do Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2022.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Processo envolve maquinário para transporte dos resíduos coletados. (Foto: Osmar Veiga)

Para falar sobre o tema, o Campo Grande News conversou com três profissionais de diferentes ramos de Mato Grosso do Sul que ocupam cargos em empregos verdes e até contribuem para a geração de novos postos de trabalho nessa categoria.

Em Campo Grande, Fabrício Berton é proprietário da Berpram Ambiental e da Porto Plast. A primeira é voltada para oferecer soluções ambientais por meio da reciclagem e tratamento de resíduos plásticos. A segunda vende matéria-prima 100% reciclada, como sacos para lixo hospitalar, coleta seletiva e mangueiras, todas produzidas a partir do PEBD (Polietileno Reciclado de Baixa Densidade).

Fabrício explica que a Berpram foi criada porque a primeira empresa precisava ter a matéria-prima reciclada e também devido à carência do manejo de resíduos na cidade.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Fabrício Berton fala sobre viés sustentável das empresas que administra.  (Foto: Osmar Veiga)

Nós vimos essa necessidade do crescimento da parte ambiental, essa conscientização dos empresários com o descarte correto dos resíduos gerados”, fala.

Em julho de 2025, a empresa mantém 200 postos de trabalho voltados à coleta e reciclagem de 1,2 tonelada de lixo por mês. O empresário cita os principais resíduos recolhidos e relembra que a empresa nasceu em 2017 com o viés de sustentabilidade.

“Nosso apelo é um apelo verde. A nossa empresa trabalha com toda a parte de resíduo. Seja ele vidro, reciclável, lixo orgânico, entulho. E, todos esses materiais nós damos o destino correto. Então assim, temos um apelo ambiental muito forte no DNA da empresa”, afirma.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Polietileno produzido a partir dos materiais recicláveis. (Foto: Osmar Veiga)

Coleta, transporte, triagem, destinação final dos resíduos por classe e tratamento dos materiais recicláveis são algumas das etapas que envolvem o trabalho no Bairro Parque Novos Estados. O que é aproveitado é transformado em milhares de grãos de polietileno, que posteriormente são utilizados para criar os sacos e mangueiras produzidos na Porto Plast.

Além disso, Fabrício comenta que algumas das matérias-primas processadas são vendidas para indústrias de todo o Brasil. “O papelão eu vendo para a indústria que transforma, que faz caixa de papelão de novo. A PET eu vendo para a indústria que faz poliéster, que faz produtos para a linha automobilística. O polietileno eu vendo para a indústria que faz brinquedo. Temos clientes em todo o Brasil”, diz.

Em um ano, são 14,4 toneladas de lixo coletadas e recicladas pela empresa, dando a esse material um destino diferente e evitando que ele cause impacto negativo ao meio ambiente.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Materiais prensados seguem para esteira onde seram separados. (Foto: Osmar Veiga)
Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Operação envolve 200 funcionários na fábrica localizada no Novos Estados. (Foto: Osmar Veiga)

Apesar de Mato Grosso do Sul ter uma das maiores proporções de empregos verdes ocupados por adolescentes e jovens, os maiores números absolutos estão em estados mais populosos, como São Paulo (660.839), Minas Gerais (246.780), Paraná (135.347), Rio de Janeiro (132.501), Rio Grande do Sul (103.056) e Bahia (102.973). Juntos, eles concentram cerca de 67% de todos os empregos verdes ocupados por pessoas de 14 a 29 anos no país.

Geração de empregos verdes - Diretora de Sustentabilidade da Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), Claudia Borges avalia que a tendência é de aumento na oferta de empregos verdes no Estado, impulsionada principalmente pela chegada de empresas como a Arauco e a Suzano.

“Estamos tendo mais ocupações e ofertas de trabalho em algumas áreas que agora são estratégicas por conta de vários programas, políticas e demandas. E em Mato Grosso do Sul tem a vinda de empresas que trazem como modelo de negócio a sustentabilidade. Tudo isso incentiva a criação de vagas”, esclarece.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Diretora de Sustentabilidade da Fiems, Claudia Borges, fala sobre empregos verdes. (Foto: Fiems)

Embora sejam uma tendência, os empregos verdes não são novidade. Segundo Claudia, esse tipo de trabalho existe há décadas e é amplamente discutido a nível internacional, tendo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) como um dos maiores precursores. O termo em si, denominado em inglês como “green jobs”, surgiu a partir de um estudo da organização publicado em 2009.

A organização define que empregos verdes são aqueles que preservam ou restauram o meio ambiente, protegem a biodiversidade e os ecossistemas, reduzem o consumo de energia e matérias-primas e diminuem a geração de resíduos e poluição. Esses trabalhos se caracterizam por promover condições de trabalho decentes e crescimento econômico sustentável.

Ao trazer o recorte por faixa etária, a diretora faz uma avaliação do porquê jovens estão interessados em desempenhar funções no mercado de trabalho verde, não só os sul-mato-grossenses, mas os brasileiros de forma geral.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
MS é um dos estados com maior percentual de empregos verdes jovens. (Arte: Thainara Fontoura)

"Os jovens são muito abertos, eles têm realmente um perfil e buscam cargos em posições que têm essa visão mais técnica, da importância do emprego gerar impacto positivo na sociedade. Os jovens já trazem isso com essa nova leva de formação, de geração”, ressalta.

Agricultura familiar e sustentabilidade - Aos 29 anos, Caio Áspet trabalha com o Fruto da Paixão Brasil, empresa voltada para cultivo, produção e comercialização de maracujá em Campo Grande, Bonito, Guia Lopes da Laguna e Jardim. Produtor rural formado em Engenharia Ambiental, ele relata que a iniciativa surgiu em 2023, mas a produção foi implantada em 2024 em Guia Lopes da Laguna.

“O projeto nasceu com o propósito de aproveitar uma área pequena nos sítios dos meus pais, como uma nova fonte de renda, já que estava deixando o regime CLT e assumindo de vez minha empresa de engenharia ambiental”, conta.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
No interior de MS, Caio produz maracujá com metódos sustentáveis. (Foto: Arquivo Pessoal)

O sonho de produzir vinha desde criança e, com o apoio dos pais, ele conseguiu realizar já na fase adulta. O maracujá foi a fruta escolhida por ter boa conservação e potencial de venda, principalmente devido à proximidade da cidade com regiões turísticas.

Com foco na rastreabilidade e sustentabilidade, o engenheiro comenta quem são os principais clientes da marca sul-mato-grossense. “Hoje, atendemos tanto o consumidor final quanto pequenos transformadores e negócios locais que utilizam o maracujá in natura ou processado, como polpas, suco para hotéis, geleias para churrasco, doces, pratos para restaurantes”, explica.

E tudo da fruta é aproveitado, inclusive a casca, que é processada e enviada como suplemento para bovinos. Ou seja, o que era para ser resíduo vira alimento para esses animais.

Por trás dessa etapa final, uma série de cuidados são adotados antes. Desde o manejo da terra ao plantio da fruta, tudo é respaldado por métodos sustentáveis. O produtor traz mais detalhes sobre o assunto.

“Um exemplo importante é que não usamos defensivos que prejudiquem as abelhas-europa, que apesar de comuns, roubam o pólen do maracujá e não realizam a polinização de forma eficaz. Apenas a mamangava faz esse papel. Quando encontramos colmeias de abelhas-europa, chamamos associados da cooperativa do mel para removê-las e levá-las para um apiário, sem agressão ao meio ambiente”, declara.

São usados também bioinsumos, como o adubo de esterco de galinha. E não é só de mão na terra que esse trabalho é feito, já que na logística de Caio a tecnologia é bem-vinda. “Usamos irrigação por gotejamento com temporizador e cálculo ideal da demanda hídrica da planta, acertando no consumo consciente de água e energia”, afirma.

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Apicultor realiza manejo de abelhas na área onde a fruta é plantada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Outro ponto importante é que o produtor dá preferência às cadeias logísticas que usam biocombustível, sendo um deles o álcool. Esses são alguns dos métodos que o produtor escolheu adotar e dá continuidade de forma individual em praticamente todas as etapas. “Mas isso não significa que o trabalho seja solitário. A produção é familiar, e conto com o apoio fundamental do meu pai e da minha mãe no dia a dia”, frisa.

Esse trabalho familiar abre espaço, em algumas épocas do ano, para a chegada de novos trabalhadores. O engenheiro ambiental contrata mão de obra para auxiliar na colheita, no plantio e na polinização. E não para por aí, já que, como ele mesmo diz, as práticas sustentáveis seguidas na produção de maracujá envolvem outros profissionais.

“Desde o laboratório que analisa o solo, a aplicação de bioinsumos, manejo de compostagem até operação de sistemas de irrigação automatizados e controle biológico de pragas. Esses são exemplos claros de empregos verdes modernos”, comenta.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Engenheiro ambiental, Caio também usa tecnologia no cultivo de maracujá. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo com os desafios de equilibrar sustentabilidade com viabilidade econômica, Caio acredita que a agricultura familiar alicerçada em métodos de preservação ambiental tem futuro no Estado e que já existem bons exemplos sendo adotados na produção pecuária.

“Vejo que está acontecendo uma mudança em relação à agricultura familiar no Mato Grosso do Sul. A chegada de novas indústrias tem movimentado esse setor, e o apoio de instituições como o Senar e a Agraer tem sido essencial para oferecer conhecimento técnico aos pequenos produtores”, destaca.

Em outra área da engenharia, Gabriel dos Santos Correia, de 33 anos, enxergou um caminho profissional diretamente ligado à sustentabilidade. Dono da G.ON Engenharia, o profissional trabalha com certificação ambiental e eficiência energética.

Engenharia verde - Desde 2020, o engenheiro elétrico atua no ramo, que só foi conhecer quando estava no mestrado. A curiosidade de entender as mudanças climáticas a nível nacional e internacional foi a porta de entrada. “Eu fiquei curioso em entender sobre isso e como trabalhava em engenharia elétrica, eu entrei no mestrado que era em sustentabilidade. Aos poucos fui unindo uma coisa com a outra”, explica.

Da reciclagem à agricultura, empregos verdes ganham força em Mato Grosso do Sul
Na Capital, Gabriel Correia trabalha com certificação sustentável e eficiência energética. (Foto: Paulo Francis)

No campo da eficiência energética, Gabriel desenvolve projetos de instalações elétricas que priorizam o baixo consumo de energia. O trabalho vai desde a instalação de uma tomada para televisão até sistemas de iluminação para uma empresa inteira.

“Porque consumindo menos energia, a gente consome menos água das hidrelétricas, a gente consome menos água em toda essa cadeia. Então a ideia da eficiência energética é a gente reduzir o consumo de energia”, completa.

Na Capital, o engenheiro atua com outro serviço, o de certificação sustentável, que indica que a empresa adota práticas como uso eficiente de recursos naturais, manejo responsável de resíduos e proteção à biodiversidade.

Ele cita dois exemplos que garantem certificação. “Geralmente tem o consumo de energia, a energia renovável, que geralmente é energia solar. E na área do consumo de água, é o aproveitamento de água da chuva. Esses são dois pontos bem importantes assim que precisa ter a certificação”, declara.

Além dele, a empresa tem outro funcionário, de 25 anos, mais um a ocupar cargo em áreas verdes. Em relação a esse termo, Gabriel só foi saber o que era em 2020 no mestrado, e ainda assim de forma rasa.

Diante desse cenário cada vez mais falado de forma geral, ele faz uma análise de que áreas como a engenharia ambiental estão começando a integrar mais disciplinas, diferente de anos atrás.

“Eu acho que cada vez mais as faculdades estão integrando disciplinas ou projetos de extensão, estão falando cada vez mais sobre isso. Mas, ainda assim, tem um caminho muito grande pela frente”, pontua.

Na opinião dele, os profissionais que se interessarem em seguir na linha sustentável têm muito a oferecer para a sociedade e sair na frente dos demais futuramente. “Eu acho que as pessoas estão procurando mudar, talvez não tanto aqui no Estado, mas em São Paulo, grandes centros estão mais voltados para isso, porque é uma vantagem competitiva. Então, quem está de olho nisso vai sair na frente”, conclui.

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