Poço sem fundo de dinheiro, Santa Casa é mundo à parte: engrenagem não para
Além do setor de saúde, hospital tem 3.661 funcionários envolvidos em serviços como de uma cidade
Em meio aos 66 mil metros quadrados de construção e à movimentação diária de 10 mil pessoas, a Santa Casa de Campo Grande, a terceira maior do Brasil, revela-se muito mais que um hospital: é uma verdadeira mini-cidade, um organismo vivo de autogestão onde cada engrenagem é vital.
RESUMO
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A Santa Casa de Campo Grande, terceira maior do Brasil, funciona como uma "mini-cidade" autossustentável, com 66 mil metros quadrados e 10 mil pessoas circulando diariamente. Além dos serviços de saúde, o hospital possui lavanderia 24 horas, oficinas de tapeçaria, marcenaria, serralheria, pintura, elétrica, vidraçaria e produção de 4,5 mil refeições diárias para funcionários, pacientes e acompanhantes. Apesar do déficit mensal de R$ 13 milhões, a instituição opera ininterruptamente, com 3.661 profissionais atuando em diversas áreas. Para garantir o funcionamento 24 horas, a Santa Casa possui planos de contingência e realiza a gestão interna de seus serviços, com cerca de mil ordens de serviço mensais. A equipe de manutenção atua 24 horas, garantindo a autonomia em reparos e evitando a dependência de terceirizados, crucial para manter serviços essenciais, como energia elétrica para pacientes em estado grave. O trabalho é realizado com dedicação por todos os funcionários, desde a equipe médica até a manutenção, demonstrando o comprometimento com o atendimento aos pacientes e a importância de cada função para o funcionamento do hospital. A lavanderia, por exemplo, processa 2,3 toneladas de roupas diariamente, com rigoroso controle de higiene e segurança.
Indo além do serviço de saúde, o hospital mantém uma complexa estrutura orgânica que inclui serviços variados como lavanderia 24 horas, oficinas de tapeçaria, marcenaria e serralheria, serviços de pintura, elétrica, vidraçaria e até a produção de comida em larga escala, que atende funcionários, pacientes e acompanhantes, num total de 4,5 mil refeições diárias.
Somente em resíduos, por dia, é descartada uma tonelada de lixo, o equivalente a uma cidade de 30 mil habitantes.
Embora acumule déficit mensal de R$ 13 milhões, o hospital segue operando de forma orgânica e sem parar. Nos bastidores dos trabalhadores da saúde atuam 3.661 profissionais nas mais diversas áreas, como três costureiras, três tapeceiros, dois marceneiros e três serralheiros. A infraestrutura inclui profissionais da Arquitetura, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia de Automação.
Trabalho com amor

Oficial de Manutenção III, Marcelo Oliveira Ribeiro atua no hospital há 8 anos.
“No começo, foi difícil ver pessoas doentes todo dia. Hoje, eu compreendo meu papel. Amo o que eu faço e cada dia aqui é um novo desafio”.
De aprendiz, Marcelo hoje ensina o ofício aos colegas.
Marcelo nasceu na maternidade da Santa Casa, em 1987, e nem imaginava que um dia viria a trabalhar no local. Começou como Oficial I, o equivalente a assistente; foi promovido para Oficial II, servente, e atualmente é Oficial III. Para Marcelo o trabalho é bem motivador e sente-se desafiado a aprender coisas novas todos os dias.
Na tapeçaria do hospital, a rotina é de silêncio e paciência. Funcionário há dois anos, Ademir Vanderlei Binelli foi contratado para atuar no setor de manutenção. Logo, foi convidado para a tapeçaria e aceitou. Ele não tinha qualquer experiência, mas aprendeu o ofício com o colega Miguel Batista. Funcionário da Santa Casa há 29 anos, Batista diz que já perdeu a conta de quantas pessoas ensinou.
Por meio do trabalho manual, Binelli e seus colegas consertam desde cortinas divisórias até colchões, em um trabalho artesanal minucioso que ele faz questão de garantir: "A tapeçaria é o melhor setor do hospital. É uma paz. Aqui tudo é feito com muito amor".
Filosofia
“Costumamos dizer que a gente está aqui para salvar vidas. Cada um tem sua importância para a operação do hospital. A importância de um pedreiro é a mesma que a de um médico. Se não tiver motorista, não tem córnea para transplante; sem a cozinha, os pacientes não comem”, afirma o diretor administrativo Alessandro Junqueira, ao explicar que o trabalho todo é voltado para garantir o atendimento do paciente.
O diretor administrativo esclarece que, para manter o hospital em operação 24 horas, a unidade tem planos A, B, C e D, por isso, é importante fazer a gestão interna dessa rede de serviços. São pelo menos mil ordens de serviços por mês e, para não depender da terceirização, eles preferem treinar sua própria equipe e possibilitar a progressão de carreira interna.
“Nós temos equipe de manutenção 24 horas. Se um gerador tem problema, por exemplo, nós temos funcionários que são técnicos em refrigeração e já solucionamos, sem depender de um terceirizado”, esclarece o diretor ao lembrar que o hospital não pode ficar sem energia elétrica, principalmente, por conta dos pacientes que estão entubados.
Plantões
O engenheiro civil Lucas Jefferson Santos da Silva complementa: “Aqui tudo é urgente”. Ele é o coordenador de infraestrutura do hospital e responsável por todos os projetos da área, sejam elétricos, hidráulicos ou sanitários. Embora não seja médico, Lucas afirma que está sempre atento e com o celular ligado, caso haja uma chamada de emergência.
Ele conhece bem a estrutura do hospital, pois atua na Santa Casa desde 2011, no começo como terceirizado na área de técnico de edificação e, há cinco anos, foi contratado como engenheiro. “É bastante gratificante trabalhar aqui. A gente pega amor pelo que faz”, confessa.
Segurança hospitalar
Do outro lado do prédio, o supervisor da lavanderia, Gilmar Franco, ressalta a responsabilidade de sua área, que tem constante alta demanda. No local, quatro equipes, num total de 73 pessoas, se revezam diariamente para a higienização de 2,3 toneladas de roupas entre lençóis, fronhas, toalhas, uniformes de pacientes e funcionários. No período diurno são lavados 1.362,40 quilos de roupas e outros 975,95 quilos no período noturno.
Franco explica que o trabalho requer muita organização e cuidado para garantir a higiene e a segurança no ambiente hospitalar. O setor recebe, por exemplo, desde peças que estão molhadas até aquelas que vêm contaminadas. Todas são separadas e higienizadas por categorias - de leve a pesado. Após a limpeza, todo o material é secado, dobrado e devolvido para os setores.
