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Capital

Além da microcefalia, dengue e zika podem deixar outras sequelas

Natalia Yahn | 01/03/2016 15:24
Gisele precisou passar por cirurgia para retirar vesícula. Ela teve dengue grave e ficou internada por uma semana. (Foto: Pedro Peralta)
Gisele precisou passar por cirurgia para retirar vesícula. Ela teve dengue grave e ficou internada por uma semana. (Foto: Pedro Peralta)

Dores nas articulações até perda de audição, além da microcefalia em recém-nascidos, podem ser algumas das sequelas causadas pela dengue, zika e chikungunya. O médico infectologista e representante da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio da Cunha, explica que a forma mais grave da dengue pode causar problemas posteriores ao ciclo da doença – que é de aproximadamente 10 dias.

“A dengue provoca o extravasamento do plasma, um componente do sangue, que deixa de circular dentro das veias e artérias para um terceiro espaço. Pode ser o abdome, entre os pulmões, no coração e na vesícula”, detalha o especialista.

Para quem sobrevive à forma grave da doença – este ano em Mato Grosso do Sul quatro pessoas morreram por conta da dengue –, as consequências são graves e vão desde internação por longos períodos, pneumonia, cirurgia para retirada da vesícula biliar (responsável por armazenar bile, um líquido produzido pelo fígado que ajuda na digestão), intervenções no fígado e pulmão. A chikungunya tem como principal sequela dor prolongada nas articulações – que pude durar em média um ano.

Já em relação ao zika – associado a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré, que é uma doença neurológica grave caracterizada pela inflamação dos nervos e fraqueza muscular – o médico afirma que o vírus ainda é desconhecido e todos os relatos de sintomas e sequelas são levados em consideração. "Tudo é novidade. Estamos aprendendo com a doença. Mas, já foram registradas complicações congênitas em bebês, temos observado perda de audição e problemas oculares”, disse Cunha.

Pacientes que foram diagnosticados com dengue e zika vírus relatam sequelas como necessidade de cirurgia para retirada da vesícula biliar e até perda de audição por conta das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

A dona de casa Gisele Sampaio Ferreira, 28 anos, precisou ser submetida a uma cirurgia de emergência no dia 18 de fevereiro para retirar a vesícula, após ser diagnosticada com a forma mais grave da dengue. Ela já teve a doença, a primeira vez em 2007, e começou a apresentar os sintomas da doença novamente no dia 8 de fevereiro, quando procurou atendimento médico na rede particular.

“Eu estava com muita dor no corpo e o médico pediu um exame de sangue que eu deveria fazer dois dias depois. Na quarta voltei com o resultado, e ele disse que eu não tinha dengue porque minhas plaquetas estavam normais, porém eu já estava com 39 (°C) de febre”, relatou.

Após ter o diagnóstico negativo para dengue, ela resolveu procurar atendimento na rede pública, e foi até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino. “Durante três dias eu fui monitorada e precisei de soro. Era dengue sim, e o primeiro médico errou. Na sexta-feira, o quinto dia de sintomas, minhas plaquetas estavam em 56 mil (o normal é de 150 mil) e eu cheguei com 38 (°C) de febre, mesmo medicada subiu para 39,5 (°C). Ai precisei ficar umas 4 horas em observação”, afirmou.

No sexto dia de sintomas ela fez a prova do laço – um exame realizado para confirmar o diagnóstico da dengue – na UPA, e desmaiou em seguida. “Eu cheguei umas 6 horas da manhã e fui sair de lá só às 3 horas da madrugada do dia seguinte. No mesmo dia às 15 horas o meu exame de sangue apontou apenas 36 mil de plaquetas. Aí corri para o hospital onde eu fui internada na mesma hora”, disse Gisele.

No hospital particular ela foi diagnosticada com problemas na vesícula e no fígado, tudo provocado pela dengue. “Eu nunca tive nenhum problema na vesícula, pedra, nada. E nesta fase eu já comecei a sentir gosto de sangue na boca. O médico disse que se eu não tivesse internado naquele momento eu poderia ter morrido, minha vesícula e meu fígado estavam a ponto de dilacerar dentro de mim”.

Mesmo assim ela precisou esperar três dias para poder fazer a cirurgia para retirar a vesícula,que só aconteceu no dia 18 de fevereiro. “Se tivesse sido operada nas condições que estava eu poderia ter morrido com hemorragia. Sentia muita dor por causa da vesícula e também para respirar, doía minha garganta”, relata.

Com os exames, que diagnosticaram todos os problemas que ela teve por conta da dengue, em mãos ela relata o medo que sentiu, principalmente por conta do filho Leonardo, de apenas 1 ano. “No mesmo dia que eu apresentei o sintomas ele também ficou com febre e eu achei que ele estivesse com dengue. Mas graças a Deus ele não teve. Agora aqui em casa o repelente faz parte da família, cada um tem o seu e a gente passa a todo momento”, diz Gisele, que só saiu do hospital no dia 19 de fevereiro.

Zika – A jornalista Ana Lívia Tavares, 22 anos, foi diagnosticada com o zika vírus, que provocou inclusive perda de audição. “Uma semana após os primeiros sintomas eu senti um zunido no ouvido direito. Precisei fazer uma audiometria (exame que avalia a audição) na semana passada, que confirmou a perda. O médico não soube dizer se vai passar ou não, ele acredita que sim, porém é tudo incerto ainda. E ele disse que eu fui a terceira paciente dele com zika que teve perda de audição”.

Ela relata que os sintomas tiveram início no dia 14 de fevereiro, dois dias depois ela procurou o médico. “Eu nunca tive dengue, dizem que zika é mais leve. Os sintomas são suportáveis, mas são muitos e a cada dia um diferente. Comecei com mal estar e depois vieram as manchas e coceiras. Mas eu também tive enxaqueca, enjoo, vermelhidão e secreção nos olhos, inchaço nas mãos e pés, dor nas articulações, tontura”, afirmou.

“Eu não tinha ouvido dizer nada sobre adultos com este tipo de complicação (perda de audição). Mas em recém-nascidos já tivemos registros", afirmou o médico Rivaldo Venâncio.

Dados – Campo Grande teve 380 casos suspeitos de dengue notificados por dia entre 22 e 26 de fevereiro. O boletim epidemiológico da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), atualizado até sexta-feira (26), apontou 5.265 casos suspeitos da doença. Até dia 22 de fevereiro, eram 3.745 notificações no mês, ou seja, foram 1.520 casos em quatro dias.

O total de casos notificados de dengue passou de 12.998 para 14.564 em 2015, com crescimento de 12,04%. Apesar da SES (Secretaria Estadual de Saúde) ter confirmado uma morte por dengue em 17 de fevereiro, o boletim da Sesau não teve o número de óbitos da doença atualizado mês de fevereiro. A vítima foi Leika Pereira Campos, 33 anos, que morreu no HR (Hospital Regional), na Capital.

Desta forma, oficialmente, são reconhecidas duas mortes pela dengue no mês de janeiro. Outros dados também permaneceram inalterados no boletim, como os casos confirmados de dengue neste ano: 466. Há duas semanas a cidade está sem fumacê.

Em situação similar, está a estatística do zika vírus. Os casos suspeitos permaneceram em 752 em fevereiro. São acompanhadas 254 gestantes, sendo 25 com resultado positivo. Desde janeiro, são 1.613 notificações da doença. O quadro da chikungunya também permaneceu inalterado, com 127 notificações, sendo 93 em janeiro e 34 em fevereiro.

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