Conservadora nas urnas, Campo Grande ignora boicote e mantém chinelo em alta
Campanha com atriz gerou reação da direita, mas lojas ficaram lotadas neste Natal

RESUMO
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Lojas da Havaianas em Campo Grande registram movimento intenso nas vésperas do Natal, mesmo após chamados de boicote nas redes sociais. A polêmica surgiu após campanha publicitária com Fernanda Torres, interpretada por políticos de direita como mensagem política implícita. Nas unidades dos shoppings Campo Grande e Norte Sul Plaza, consumidores lotaram as lojas em busca de presentes. Segundo funcionários, as vendas ultrapassam 20 mil reais diários desde a semana passada. Parlamentares de direita incentivaram o boicote, enquanto políticos de esquerda defenderam a marca brasileira.
Nas urnas, Campo Grande é conservadora. Mas nas compras a ideologia não impactou por aqui. Apesar do chamado ao boicote feito por políticos da direita e da extrema-direita nas redes sociais, as vendas de Havaianas seguem aquecidas em Campo Grande neste fim de ano. Impulsionadas pelas compras de Natal e Ano Novo, as unidades da marca registraram grande movimentação nesta quarta-feira (24), especialmente nos shoppings da Capital, sem nenhuma alteração em relação a 2024.
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A polêmica começou após a divulgação da campanha de fim de ano da Havaianas, estrelada pela atriz Fernanda Torres. No comercial, ela afirma que “não quer que você comece 2026 com o pé direito”, expressão popularmente associada à sorte, e incentiva o público a iniciar o novo ano “com os dois pés”. A fala foi interpretada por políticos e influenciadores alinhados à direita como uma mensagem política implícita e provocativa.
Nas redes sociais, apoiadores da direita acusaram a marca de misturar publicidade com ideologia política e passaram a defender a substituição das Havaianas por marcas concorrentes.

A reportagem foi às ruas para saber se o movimento nas lojas da Capital refletiu, ou não, o discurso de boicote. Entretanto, em todos os pontos visitados, foram observados consumidores saindo com sacolas da marca e a típica movimentação de vendas de fim de ano. As unidades instaladas em shoppings concentravam o maior fluxo.
No Shopping Campo Grande, a unidade da Havaianas registrava movimento intenso por volta das 11h30. A gerente da loja não concedeu entrevista por estar atendendo clientes, que saíam com várias sacolas nas mãos.
No fim da manhã desta quarta-feira (24), no Shopping Norte Sul Plaza, havia grande fluxo de clientes. A loja chegou a fixar aviso informando que, devido à alta demanda, não estava realizando embrulhos para presente, apenas entregando a embalagem temática. Foi neste local que a reportagem ouviu consumidores.
O contador José Alves, de 62 anos, comentou a polêmica em tom de brincadeira ao sair da loja com compras. “Procurei só o pé esquerdo, queria Havaianas só do pé esquerdo, mas não tem. Vou ter que encarar o direito”, disse, em tom de brincadeira. Em seguida, minimizou a controvérsia. “Nada a ver com propaganda. Isso aqui é praticamente uma identidade brasileira. Havaianas é coisa que todo mundo usa".
A esposa dele, a empresária Márcia Regina, de 50 anos, afirmou que comprou o produto para presentear. “É ridículo a polêmica que criaram em cima disso. Eu comprei porque é presente e ainda pedi uma Havaiana para mim também”, contou.

Funcionária da unidade do Norte Sul Plaza há oito meses, Mylena Estefani dos Santos, de 19 anos, disse que o aumento nas vendas está diretamente ligado ao período de festas, mas reconheceu que a campanha virou assunto entre os clientes.
“Acho que o movimento é maior por causa do Natal, mas muita gente chega comentando, zoando mesmo”, relatou. Segundo ela, há clientes que afirmam ter ido à loja por causa do comercial. “Está vendendo mais de 20 mil por dia desde a semana passada”, afirmou, enquanto atendia mais de 20 pessoas simultaneamente.

Na região central, a loja da Rua Marechal Rondon tinha movimento mais tranquilo, com apenas duas clientes por volta das 10h. Já na unidade da Avenida Afonso Pena, o fluxo era alto, com pelo menos cinco pessoas sendo atendidas simultaneamente por volta das 12h45. Nos locais, gerentes informaram que não estavam autorizados a falar sobre o tema devido à repercussão da campanha.

Repercussão – Conforme noticiado anteriormente, a polêmica também chegou ao meio político em Mato Grosso do Sul. Seguindo o discurso de boicote, o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) publicou vídeo jogando fora chinelos da marca. “Passei a minha vida inteira usando Havaianas, mas como não vou poder virar 2026 com o pé direito, aqui em casa vai para o lixo”, declarou, classificando a campanha como “o maior tiro no pé” da empresa.
Já o deputado federal Marcos Pollon (PL) usou as redes sociais para indicar uma marca de chinelos local como alternativa ao boicote iniciado pela direita e extrema-direita nacional. A marca Pantaneira foi criada em 2023 e carrega a bandeira de Mato Grosso do Sul nas correias. “Sigam essa marca, o dono é patriota”, afirmou o parlamentar.
Em sentido oposto, parlamentares da esquerda criticaram a mobilização. A deputada federal Camila Jara (PT) ironizou o boicote. “E a extrema-direita, que ficou sem pauta no Congresso Nacional, em um extremo ato de nacionalismo decidiu cancelar uma das maiores empresas brasileiras”, disse. “Vocês que defendem tanto o liberalismo e o posicionamento de marca, vamos começar a praticar mais isso”, completou.
Já a deputada estadual Gleice Jane (PT) publicou foto usando Havaianas e disse que começará 2026 “com os dois pés na esquerda”. O deputado estadual Pedro Kemp (PT) também provocou adversários ao relacionar o uso do chinelo à polarização política.
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