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Capital

Crise interna abala uma das feiras mais tradicionais da cidade

Acusações de irregularidades e divisão entre diretoria e organização movimetam bastidores da Praça da Bolívia

Por Jéssica Fernandes | 04/03/2025 18:12
Crise interna abala uma das feiras mais tradicionais da cidade
Caderno de apresentação da Praça Bolívia e da Associação Cultural. (Foto: Osmar Veiga)

Acusações de golpe, perda de identidade cultural e outros embates rondam os bastidores de uma das feiras mais antigas da cidade, a feira Praça da Bolívia. Em funcionamento desde 2005, o tradicional evento vive um momento turbulento, envolvendo possíveis mudanças na Associação Cultural dos Feirantes da Praça da Bolívia e divisão entre expositores, presidência e organização.

RESUMO

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A tradicional Feira da Praça Bolívia, em Campo Grande, enfrenta uma crise interna com acusações de golpe e perda de identidade cultural. Fundada em 2005, a feira está dividida entre feirantes e a organização. Dione Zurita, uma das fundadoras, acusa Sérgio Maidana de irregularidades, como a cobrança de taxas em conta pessoal. Maidana, por sua vez, alega falta de transparência de Dione e diz que foi afastado da organização. A feira, que busca resgatar sua essência cultural, continua em funcionamento, com nova edição marcada para domingo.

Um vídeo de pouco mais de três minutos dá um breve esclarecimento sobre a situação, no ponto de vista de una das partes. A gravação, que tem circulado em grupos de WhatsApp, foi enviada à reportagem nesta terça-feira (4). Nele, uma das fundadoras da Praça da Bolívia e primeira feirante, Dione Zurita, contextualiza a criação da feira, o compromisso com a prefeitura e os atuais desencontros com Sérgio Maidana.

“Fundamos a associação, eu fui empossada presidente junto com a diretoria. Com a saída de alguns membros, eu, como presidente, convidei o Sérgio Maidana para colaborar com a organização. Esclareço que ele não ocupa nenhum cargo”, declara na gravação.

Na sequência, Dione menciona que, desde novembro de 2024, os feirantes foram orientados a depositar a taxa de participação na conta da esposa de Sérgio Maidana. “Mas isso é ilegal, pois a associação já possui uma conta. Por isso e outras irregularidades queremos o afastamento do Sérgio Maidana”, completa.

Hoje, a reportagem entrou em contato com Dione Zurita, mas quem falou sobre o assunto foi Suzana Mancilla. A professora é irmã de um dos fundadores da Feira Bolívia, Edgar Mancilla, que já faleceu.

Ela ressalta como foi criada uma das primeiras feiras culturais da cidade e as mudanças que levaram a um novo rumo na organização. “A Praça Bolívia foi fundada em 2005 como uma feira cultural e, inicialmente, a única que estava lá era a Dione. A praça foi fundada pelos bolivianos com apoio do cônsul boliviano. Em 2010, meu irmão saiu e ficou a cargo de outro grupo boliviano, que permaneceu por vários anos”, conta.

Crise interna abala uma das feiras mais tradicionais da cidade
Documento da prefeitura cita responsabilidade da presidente Dione Zurita com a realização da feira.

Com o passar do tempo, outros feirantes chegaram. Uma das principais envolvidas faleceu e, durante a pandemia, as atividades foram suspensas. Suzana explica que a atual associação presidida por Dione só foi criada em 2022, ou seja, 17 anos depois da fundação da feira.

“Em 2022, quem era presidente da associação era a Dione. Essa associação está registrada em cartório, tem estatuto que fala da natureza da feira, que é cultural. A Dione não conseguiu dar conta da praça porque também é feirante e pediu auxílio de um morador próximo, o Sérgio”, relata.

Sob a presidência de Dione, conforme Suzana, Sérgio Maidana passou a organizar o evento. Já em novembro de 2024, ela aponta uma das irregularidades cometidas. “Com o tempo, Maidana passou a cobrar que os feirantes pagassem a taxa na conta pessoal da esposa. Começaram a ocorrer irregularidades, e a Dione chamou os antigos da Praça Bolívia, inclusive eu, para discutir a situação”, comenta.

Crise interna abala uma das feiras mais tradicionais da cidade
Atração artística realiza apresentação para público em uma das edições do evento. (Foto: Divulgação)

Agora, o movimento busca recuperar a praça como era originalmente, valorizando o que foi cultivado e trabalhado pelos descendentes bolivianos.  “Estamos tentando organizar a praça como sempre foi, mantendo sua essência e natureza cultural. Existe uma situação de tensão por questões de interesse pessoal deste senhor”, destaca.

Sobre o vídeo, Suzana esclarece que foi uma tentativa de Dione para que os feirantes ficassem a par da situação. “Muitos feirantes são novos e não conhecem a história. A Dione fez esse vídeo para esclarecer”, frisa.

Outro lado - Sérgio Maidana também conversou com a reportagem sobre as acusações feitas e repercutidas no vídeo. Ele confirmou que, em 2022, foi convidado por Dione para auxiliar na organização da feira cultural.

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Sérgio Maidana fala sobre convite que recebeu para organizar a Praça da Bolívia. (Foto: Osmar Veiga)

Naquele ano, o advogado afirma que foi fundada a associação para facilitar a articulação do evento junto à prefeitura. Em 2022, um total de 25 pessoas fundaram a entidade, sendo que dois terços compunham a diretoria.

Entre o fim de 2022 e o início de 2023, alguns integrantes deixaram a organização. “Cinco diretores renunciaram e eu comecei a organizar a feira porque ninguém fazia isso”, pontua. Essa organização envolvia a locação de cadeiras para o público, ofícios para liberação das atividades e a arrecadação da taxa de R$ 40 por expositor.

Hoje, a feira conta com 180 expositores, mas nenhum integra a associação. Por isso, segundo ele, não podem intervir nas questões internas. Até fevereiro deste ano, o próprio advogado não ocupava oficialmente um cargo.

Crise interna abala uma das feiras mais tradicionais da cidade
Prints mostram relação de prestação de contas da feira em janeiro deste ano. (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos primeiros desentendimentos com a presidente, segundo Sérgio, foi a falta de transparência na taxa arrecadada. “A gente mandava o pagamento para ela e ela não efetivava. Em dezembro, decidi depositar na conta da Eliane porque a Dione estava sabotando, até resolvermos a situação”, expõe.

Nesse cenário, Sérgio soube pela própria presidente que iriam ocorrer mudanças na associação. A informação veio em forma de convocação para assembleia, onde outros nomes ocupariam os cargos vagos. “O conselheiro fiscal impugnou essa assembleia do dia 21 de janeiro por estar fora da lei. Ela montou outra para o dia 31 nos mesmos trâmites. Foi impugnada de novo e chamaram uma assembleia geral”, esclarece.

Em resposta a essa assembleia, um dos membros da associação convocou outra em fevereiro. Nela, Sérgio pontua que os associados optaram por afastar Dione da presidência. “Eu me candidatei como vice-presidente e os outros três cargos foram preenchidos por sócios fundadores. Notifiquei a Dione e ela e outros começaram a soltar o vídeo”, pontua.

Devido a esse afastamento, o advogado reforça que Dione não pode falar pela associação. Além disso, em uma futura assembleia, será definida a expulsão ou não dela. “Porque o que ela fez foi um golpe, colocando os amigos dela, colocando quatro pessoas que não eram associadas”, frisa.

Nesse cenário, ambos os lados receberam notificações por conta das assembleias realizadas. Questionado sobre o motivo desses desentendimentos, o advogado alega que existe interesse por parte de algumas pessoas no caixa da Feira Bolívia.

“Se você tira apoio, diretor de palco, cadeira, vai sobrar dinheiro. Mas, o evento não vai ser a mesma coisa. Tem feira aí onde as pessoas não tem comodidade como tem na Praça Bolívia”, conclui.

No domingo (9), ocorre mais uma edição da feira, a partir das 9h, na Rua Barão da Torre esquina com a Rua das Garças. Bairro Santa Fé.

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