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Capital

Estudo aponta que há menos de 1 mil prédios em Campo Grande

Enquanto alguns bairros não param de receber novos espigões, verticalização da capital será analisada em detalhes por grupo

Chloé Pinheiro | 15/09/2016 16:54
Sóter é um dos bairros em expansão vertical. (Foto: Fernando Antunes)
Sóter é um dos bairros em expansão vertical. (Foto: Fernando Antunes)

Que Campo Grande tem pouco prédio, não é novidade. Um novo estudo, entretanto, está calculando exatamente a verticalização da cidade e o impacto disso na distribuição da população e no planejamento urbano. São 911 construções com mais de 3 pavimentos, sendo que só 50 delas respondem pelos espigões com mais de 20 andares. 

Os dados são da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul). Depois de atestar que Campo Grande tem mais de 35% de área vazia em seu perímetro urbano, o Observatório de Arquitetura da instituição começou há três meses a analisar as construções da capital e já colheu seus primeiros resultados. 

"Usamos tecnologias como a ortofoto e o Google Maps para 'andar' por todas as ruas da cidade e já conseguimos os primeiros indicadores, como o número total de prédios", adianta o professor Ângelo Arruda, coordenador do trabalho. Já se sabe, por exemplo, que dessas 911 construções, 70% têm entre 3 e 5 pavimentos. 

O objetivo da análise, que ainda não está concluída, é entender como aproveitar melhor os vazios identificados no primeiro trabalho e a infraestrutura disponível na cidade, que é grande, mas mal distribuída. 

Com um amplo perímetro urbano em grande parte vazio, a capital tem uma densidade demográfica considerada baixa, 23 hab/ha, ou habitantes por hectare. É como se 23 pessoas morassem em um terreno do tamanho de um campo de futebol

Além de espalhados, os habitantes da cidade morena estão divididos de maneira desigual. Em bairros como o Jardim Los Angeles, Mata do Segredo e Caiobá a densidade é ainda menor, 10 hab/ha. Já o Estrela Dalva, Guanandy e Taquarussu tem mais gente, mas ainda assim não alcançam a marca de 70 hab/ha.

O problema desse espaço subaproveitado é que ele pesa no bolso e na qualidade de vida, já que o campo-grandense fica mais longe do trabalho e do acesso aos serviços básicos como saúde e educação. “É um desperdício de tempo e de dinheiro”, resume Marcos Augusto Netto, presidente do Secovi – MS (Sindicato da Habitação do Mato Grosso do Sul).

A verticalização poderia ser uma das armas para aproveitar melhor os vazios, desde que não seja feita de maneira desenfreada. "Nunca houve um estudo técnico sobre o assunto, que sempre foi cercado de misticismo”, comenta Marcos.

“A verticalização é uma alternativa de uso do solo, porque faz as pessoas circularem menos pela cidade e, assim, pode melhorar a mobilidade”, completa.

Seu Delcídio trabalha em um prédio, mas mora em casa. (Foto: Fernando Antunes)
Seu Delcídio trabalha em um prédio, mas mora em casa. (Foto: Fernando Antunes)

Prédios: tê-los ou não tê-los? – “A vantagem do prédio é que tem alguém pra olhar enquanto viaja, né? Mas eu não me vejo morando em um especialmente por causa do custo alto do condomínio”, conta Delcídio Mouro, 56 anos, há 11 deles trabalhando como "faz tudo" do Edíficio Campo Grande, um dos tradicionais da cidade. Mouro reside no Aero Rancho, distante cerca de nove quilômetros do centro. 

Já para alguns morar em casa é questão de gosto. “Eu fico mais à vontade, prédio é ruim por causa da privacidade e do espaço. Tem o benefício da segurança, mas eu não moraria”, opina Durval Pereira, 35 anos, advogado.

“Campo Grande sempre foi uma cidade espraiada, as pessoas gostam de morar em casa, mas essa realidade está mudando, principalmente por conta da preocupação com a segurança”, concorda Marcos.

De fato, na capital por enquanto só há 50 prédios com mais de vinte andares e 148 com 11 a 20 pavimentos. Mas em alguns bairros já é possível ver a mudança na linha do horizonte.

Um dos espigões em construção no centro da cidade. (Foto: Fernando Antunes)
Um dos espigões em construção no centro da cidade. (Foto: Fernando Antunes)

“O Jardim dos Estados é um bairro onde é permitido pela lei a construção de grandes edifícios, assim como o Sóter também tem recebido muitos lançamentos imobiliários”, continua o gestor.

A lei citada por Marcos é a Lei Complementar nº 94, de 2012, que diz respeito ao ordenamento e ocupação do solo de Campo Grande. Ela também diz que os prédios a serem construídos devem, dependendo do seu tamanho, entregar contrapartidas à cidade, como reformar ruas, construir creches e áreas verdes.

A verticalização, no futuro, impactará a densidade da cidade e também na qualidade de vida da população de Campo Grande. Apesar da perspectiva positiva, os parâmetros da UFMS para essa nova pesquisa mostram que, se não houver planejamento, há impactos negativos como a impermeabilização do solo e até o aumento da temperatura.

Com vários canteiros de obra espalhados e apartamentos à venda, é preciso pensar desde já em como aproveitar o melhor da vida nas alturas sem que a cidade pague um preço alto por isso. 

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