Obra milionária, parque inacabado há 14 anos vira abrigo e depósito de lixo
Inaugurado em 2011, local não serve ao lazer e sofre com falta de manutenção e invasões
A proposta era unir atividades esportivas e o contato direto com a natureza. Construído à margem da Avenida Heráclito Diniz de Figueiredo, o Parque Linear Presidente Jânio Quadros, conhecido também como Parque Linear do Segredo, foi inaugurado em 2011 prometendo uma alternativa para a diversão e lazer das famílias. No entanto, 14 anos após a inauguração, o local, na região do bairro Estrela do Sul, sofre com a depredação e o abandono.
Tomado pelo mato e com rastro de lixo, há sinais de depredação por toda a parte. Em visita ao espaço, a equipe de reportagem encontrou grades arrombadas, lixo, descartes de marmitas, restos de comidas e até um fogareiro improvisado: sinais de que a área tem sido abrigo para pessoas sem moradia.
O lugar nunca foi 100% concluído. Os prédios estão sem cobertura, há paredes destruídas e os postes sem iluminação. As duas quadras de esportes, que servem para futsal e basquete, estão sem a cesta, com o piso gasto e sem pintura. De toda estrutura que o parque oferecia, apenas a pista de caminhada e a ciclovia permanecem aptas para uso.

“À noite aqui é uma escuridão total, pois o pessoal rouba o fio de energia. Tem uns três ou quatro moradores de rua que dormem aí”, afirmou o morador Heron Correa da Silva, que vive no bairro Estrela do Sul há mais de 20 anos. Heron disse que, no começo, o local era movimentado, havia uma horta feita pela equipe do Cras (Centro de Referência de Assistência Social Renato Pereira Guedes) com as crianças atendidas. Heron disse que as quadras, mesmo deterioradas, às vezes são utilizadas por adolescentes que jogam bola e praticam skate. Ele mesmo já levou o neto para brincar e andar de bicicleta no local, mesmo abandonado.
Também morador antigo, Marcos Cabral chegou a jogar futebol no parque. Ele explicou que os frequentadores que queriam usar as quadras buscavam as chaves no Cras, que fica ao lado, para poder pegar equipamentos esportivos que eram guardados em espaços apropriados, onde também ficam depositados os materiais de horta e jardinagem.
Destino do local
O presidente do Conselho Regional da Região Urbana do Segredo, José Geraldo Balejo Jara, lamenta que a área esteja abandonada. “É uma área boa. O povo na época ficou bem animado e dia de domingo era bem movimentado”. José Geraldo, por meio do Conselho Comunitário de Segurança do Nova Lima e Grande Região, chegou a procurar a Prefeitura sugerindo que firmasse parceria com governo do Estado para instalar no local uma unidade de segurança da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. No entanto, disse que as conversas não prosseguiram.
O que diz a Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Campo Grande informou que iniciou diálogo com o Conselho Regional para tratar de um destino da área junto com a comunidade. Sobre a falta de manutenção do local, a Prefeitura informou que “a estrutura foi entregue à população em meados de 2010. Levantamento preliminar das equipes técnicas apontam que, desde então, o local não passou por manutenções regulares, o que contribuiu para o atual estado de deterioração observado”. O presidente do Conselho Regional da Região Urbana do Segredo disse que desconhece este fato, pois para a comunidade a área é de responsabilidade da Prefeitura.

Inauguração e Estrutura
Embora a nota da Prefeitura aponte que a entrega foi em meado de 2010, a inauguração ocorreu em 3 de setembro de 2011, em evento realizado na esquina da Rua Veridiana com a Avenida Heráclito Diniz de Figueiredo e contou com a presença de autoridades. Na época foi divulgado que a obra de 38,1 hectares encerrava mais uma etapa do Complexo Segredo, que recebeu R$ 17 milhões por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1) do governo federal.
Segundo dados divulgados na época pela Prefeitura, ao todo o Parque Linear tem 4,5 km de extensão ao longo da Avenida Heráclito Diniz de Figueiredo, que consiste no prolongamento da Avenida Norte-Sul, a partir da Avenida Mascarenhas de Moraes, abrangendo 21 comunidades de Campo Grande. O projeto inclui quatro quadras de esportes, três centros comunitários, 4,5 km de ciclovias, praças, e cerca de 6 quilômetros de vias pavimentadas ao custo total de R$ 35,4 milhões, com verbas do governo federal pelo PAC e contrapartida da Prefeitura.