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Capital

Obrigação vira risco onde máscara é emprestada e usada há semanas

A partir de segunda-feira (20), Guarda Municipal vai fiscalizar uso do equipamento de proteção individual

Jones Mário e Lucas Mamédio | 17/04/2020 10:47
Bom Retiro, na região norte de Campo Grande, abriga antigos moradores da favela Cidade de Deus (Foto: Paulo Francis)
Bom Retiro, na região norte de Campo Grande, abriga antigos moradores da favela Cidade de Deus (Foto: Paulo Francis)

Cláudio Macena da Silva, de 37 anos, toca um pequeno boteco no Bom Retiro, zona norte de Campo Grande. Ele é um dos poucos da região a ostentar um par de máscaras de proteção facial, que passarão a ser obrigatórias a quem sair de casa a partir de segunda-feira (20), medida para frear o contágio em massa pelo novo coronavírus.

As máscaras de Cláudio, porém, são do tipo descartáveis, daquelas que perdem a validade passadas duas horas de uso. Ele veste o item só para sair, mas faz isso há duas semanas. De quebra, o par de máscaras do dono do boteco não é dele, foi emprestado.

Cláudio tem duas máscaras descartáveis, emprestadas, mas só usa quando sai de casa (Foto: Paulo Francis)
Cláudio tem duas máscaras descartáveis, emprestadas, mas só usa quando sai de casa (Foto: Paulo Francis)

No bairro, famoso por abrigar os antigos moradores da favela Cidade de Deus, o decreto que determina o uso do EPI (Equipamento de Proteção Individual) promete ser inócuo.

Na casa de Andreia Cristina, 31, só o marido, beneficiário do Proinc (Programa de Inclusão Profissional), tem máscara. E porque ganhou. Gestante, ela e os dois filhos vão para a rua sem o item, se preciso for. A informação de que o EPI será obrigatório ainda chegou torta. “A gente ouviu falar”, diz.

Para o casal Genilson Vieira, 51, e Luzia Vicente, 50, trabalhadores da construção civil, o dinheiro que sobra é para comer, não para comprar máscaras. “A despesa é grande e o dinheiro é pouco. É fácil obrigar e não dar condições da gente comprar”, reclama o primeiro.

Genilson e Luzia não têm dinheiro para o EPI, só para "comer" (Foto: Paulo Francis)
Genilson e Luzia não têm dinheiro para o EPI, só para "comer" (Foto: Paulo Francis)

Dona de casa, Darlene Araújo, 52, divide a mesma opinião. “Eu sou pobre. Não tenho como comprar. Não tenho condições de comprar máscara para todo mundo. Se tiver que sair de casa sem, vou sair”, decreta. Ela vive com mais cinco pessoas.

A Guarda Municipal vai fiscalizar o uso obrigatório do EPI a partir da próxima semana. Quem desrespeitar a determinação pode responder por crimes de desobediência e contra a saúde pública, com penas de prisão e multa.

As máscaras podem ser feitas em casa, conforme recomenda nota do ministério da Saúde, e devem cobrir nariz e boca.

Confira a galeria de imagens:

  • Darlene Araújo disse que vai sair de casa mesmo sem máscara (Foto: Paulo Francis)
  • Na casa de Andreia Cristina, só marido tem máscara de proteção (Foto: Paulo Francis)
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