Resgate com fuzis em hospital expõe fragilidade na escolta de presos
O resgate do preso Mário Márcio Oliveira Santos, 31 anos, no Hospital do Pênfigo, em Campo Grande, expõe a fragilidade no serviço de escolta de detentos. A constatação, possível ao analisar os detalhes da ação dos bandidos, também é do presidente da ACS (Associação de Cabos e Soldados) Edmar Araújo Soares da Silva.
Segundo ele, a escolta do interno deveria ter sido feita com pelo menos quatro militares. Ou seja, o dobro com que foi realizada.
Mario Márcio era interno do Presídio de Segurança Máxima da Capital e aguardava consulta no hospital, quando na manhã de quinta-feira (22) foi resgatado por quatro homens, dois deles armados com fuzis.
De acordo com o presidente, é evidente que a falta de efetivo atrapalha e expõe a Polícia Militar, que realiza a escolta dos presos, a situações como esta. “O ideal seria uma equipe completa, que é a de quatro militares, como são nas viaturas. Ou realizar a ação para consultas, por exemplo, com o mesmo efetivo com que é realizada a escolta dos internos para o Fórum, que é mais reforçada”, destaca.
Medidas - Por conta do fato, a associação divulgou nota oficial em que afirma que vai sugerir ao Governo do Estado uma série de medidas para evitar que presos sejam ‘resgatados’ de hospitais por seus comparsas. Uma delas é que as decisões judiciais que determinam o encaminhamento de internos aos hospitais devem ter caráter sigiloso.
“Não se pode permitir que tenha qualquer tipo de publicidade uma decisão como essa, o dia a dia e a hora que vai para consulta. Nem advogado tem que saber qual horário ou dia. Se o judiciário autorizar, que ninguém mais tenha conhecimento”, afirmou.
Outra sugestão é de que a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) utilize o efetivo de agentes treinados, desde o final do último ano, para os serviços de escolta. “É preciso utilizar o efetivo treinado para a escolta e guarda da Agepen. Utilizar o reforço desse pelotão, tanto para permanecer nas unidades, como para o transporte. O Estado já gastou com esses homens e mulheres, que são treinados para essas situações”.
O presidente ainda defende que o sistema penitenciário possua médicos suficientes para atender a demanda dos presos, com o objetivo de evitar o deslocamento até uma unidade de saúde e com isso facilitar uma possível fuga. “Isso deve ser feito, principalmente na Máxima e no Harry Amorim Costa (em Dourados), com médicos de plantão para verificar a real necessidade de deslocamento do preso. Alguns exames mais simples seriam realizados no próximo local. Às vezes, o preso vai para o hospital sem necessidade, só para poder fugir”, alerta.
Conforme nota da associação, as sugestões devem ser encaminhadas ao governo “em breve”.
Protocolos – Durante coletiva realizada na tarde de ontem (22), secretario titular da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) José Carlos Barbosa, disse que todos os protocolos sobre a escolta do preso foram cumpridos e reafirmou o empenho das forças do Estado para a recaptura do interno. “Estamos empenhando todos os esforços para dar uma resposta à sociedade”, declarou.
Opinião que foi compartilhada pelo diretor presidente da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) Ailton Stropa, que afirmou que não há como prever esse tipo de ação e que nada incomum foi notado durante o transporte do interno, que até então seria um trabalho rotineiro.
Quadrilha – Ainda na coletiva, o delegado geral da Polícia Civil, Marcelo Vargas, negou que o preso integrava alguma facção criminosa, porém acredita que uma “grande quadrilha” esteja envolvida com seu resgate.
O Campo Grande News entrou em contato com o comandante da Polícia Militar, o coronel Judice, para comentar sobre o caso, no entanto, as ligações não foram atendidas.
Caso – O resgate durou cerca de dois 2 minutos. Um casal de policiais militares que fazia a escolta do criminoso, teve as armas roubadas sob a ameaça dos bandidos. Depois do resgate, os homens fugiram em um veículo Toyota Corolla, de cor preta. O carro foi encontrado abandonado em uma das ruas do da região do Bairro Tijuca.
A consulta que Mário Márcio aguardava foi paga pela família dele. Em nota o Hospital Adventista do Pênfigo afirmou que não atenderá mais pacientes na mesma situação do detento. O preso ainda não foi recapturado. Ele tinha passagens por tráfico de drogas e roubo.