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Cidades

Orfãs em acidente que matou os pais na 163, mulheres viram irmãs na dor

Aline dos Santos, enviada especial a Bandeirantes | 25/02/2014 08:40
Cruzes às margens da rodovia contam sobre as tragédias. (Foto: Cleber Gellio)
Cruzes às margens da rodovia contam sobre as tragédias. (Foto: Cleber Gellio)

Uma mesma dor fez brotar a amizade entre duas mulheres que tiveram as vidas atravessadas pela tragédia. Num domingo, 11 de maio de 2008, Angelina e Fátima perderam os pais em colisão frontal na BR-163, no município de Bandeirantes.

“Surgiu uma amizade, somos amigas. Eu fiquei muito revoltada, ela também. Tentei buscar todos os caminhos. É muito difícil, a gente não supera”, conta Angelina Penze Campagna Nunes da Cunha, 51 anos.

Nos diálogos para resolver coisas práticas quanto ao seguro dos veículos, descobriram outras coincidências. “Ela também tinha dois filhos, o marido dela também estudou no Rio de Janeiro”, diz. Mas o principal ponto em comum foi o sofrimento. Nas tentativas de silenciar a dor, Angelina procurou pessoas que perderam pais, pessoas que perderam filhos, mas foi na amiga de infortúnio que encontrou sinônimo para a sua tristeza.

“É muito difícil. Conversava com todo mundo, nada batia. Conversei com quem tinha perdido mãe ou pai, com quem perdeu a mãe e o pai. Nada aliviava. Conversei com uma senhora que perdeu mãe e filho. Mas não batia, não era a mesma coisa”, diz, emocionada, Angelina.

Com a filha do outro casal, foi diferente. “Era a mesma situação. A gente chorava junto. Ela lembrava o que a mãe fazia, eu lembrava o que a minha mãe fazia”, relata.

Incrédula, até hoje Angelina tenta entender como o pai, um condutor precavido e que conhecia a BR-163 desde os tempos que passava a cavalo na estrada de terra, se envolveu em acidente. “Ele voltava do velório de uma irmã, mas estava bem, tinha dormido. Sempre foi muito cauteloso”, recorda.

Ayres Penze e a esposa Eraide Campagna Penze, 76, estavam em uma caminhonete S-10. O veículo bateu de frente com um Corsa Classic, onde estavam Geraldo Sanches, 70, e Geraldina Teixeira Sanches, 71. Eraide, Geraldo e Geraldina morreram na rodovia.

Ayres chegou a ser socorrido, mas morreu quando a ambulância se aproximava de Campo Grande. “Saber da morte da minha mãe já foi um baque. Não quiseram falar do meu pai para mim. Consegui entrar na Santa Casa e chacoalhava meu pai. Pedia: ‘Você não, pai. Você não, pai’”.

Morando em Bandeirante, a 70 quilômetros de Campo Grande, Angelina afirma que a BR-163 foi a sua vida. “Nunca tive medo dela. Ia e voltava todos os dias, levando meus filhos para estudarem em Campo Grande”, relata.

A exemplo de Angelina e Fátima, a BR-163 foi determinante em muitas histórias. Entre 2010 e 14 de fevereiro deste ano, 362 pessoas perderam a vida na estrada, que leva a alcunha de Rodovia da Morte.

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