Filho de bandido, marginal será? A violência pode ter DNA?
Até agora, a violência era âmbito de estudo das ciências humanas. Guerras e conflitos internos nos países só encontravam explicações na economia, história e na assistência social. Mas há uma novidade que vem sacudindo os estudos da violência. Não resta dúvida que os traumas sofridos por alguém podem imprimir marcas por toda a vida. Não é preciso demonstrar essa certeza. Mas e se essas marcas, até agora tidas apenas como mentais, chegarem à caixa forte que guarda o mais íntimo de nossa essência biológica que são os genes? Quem está revirando esse mundo é a epigenética.
O estudo de mulheres da Síria.
A epigenética é uma ciência jovem que também está estudando a violência sofrida por famílias da Síria. Diz que essa violência deixou cicatrizes moleculares no DNA. As universidades da Flórida e de Yale foram à Jordânia estudar três gerações de famílias sírias emigradas, fugindo da violência de seu país. Estudaram três grupos: o primeiro compreende mulheres que estavam grávidas em 1.982, sobreviventes do massacre do governo na cidade de Hama, assim como seus filhos e netos. O segundo grupo incluiu mulheres que estavam grávidas em 2011, durante a guerra civil e seus filhos. O terceiro é o grupo de controle, famílias que emigraram à Jordânia antes dos conflitos.
Marcas de mudanças no DNA.
O resultado dessa pesquisa vem sendo debatido com ênfase. Está publicado na revista cientifica “Scientific Reports”. Nos trás a afirmação de que ocorreu “metilação” no DNA dos descendentes das mulheres que sofreram violência na Síria quando estavam grávidas. Isso é preocupante. Estão dizendo, em outras palavras, que esses filhos serão violentos por suas mães terem sofrido violência. É o mesmo que dizer que filho de bandido, será marginal.
O primeiro estudo da epigenética foi na Holanda.
O primeiro estudo usando a epigenética não nos trouxe maiores contestações. Estudou fetos em gestação quando as mulheres sofreram fome no inverno de 1944-45, durante a Segunda Guerra Mundial. Os cientistas descobriram certos sinais epigenéticos que levavam os filhos dessas mulheres a desenvolver obesidade e diabetes tipo 2. A epigenética realmente tem a capacidade de explicar a violência? O debate está posto, só espero que não termine em violência, uma vez que os ânimos estão exaltados.
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