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Economia

Pedidos de demissão são quase a metade de todos os desligamentos em MS

Economistas avaliam que trabalhador se engana ao deixar trabalho formal e ficar sem benefícios trabalhistas

Por Lucia Morel | 08/04/2025 18:33
Pedidos de demissão são quase a metade de todos os desligamentos em MS
Trabalhador segurando carteira de trabalho em frente à porta da Fundação de Trabalho de MS. (Foto: Bruno Rezende/Governo MS)

O número de trabalhadores desligados dos empregos formais porque querem só aumenta. Ano a ano, mais pessoas buscam alternativas aos contratos celetistas. Não apenas o pós-pandemia, que fechou postos de trabalho, mas também as atuações via aplicativos e o sonho de ter o próprio negócio retira as pessoas do trabalho formal e em Mato Grosso do Sul não é diferente: a taxa é de quase metade de todas as demissões realizadas em fevereiro deste ano.

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O número de demissões a pedido em Mato Grosso do Sul representa quase metade dos desligamentos, com 46,67% em fevereiro de 2025. Especialistas apontam que a busca por alternativas ao emprego formal, como trabalhos por aplicativos e empreendedorismo, impulsiona essa tendência. A pandemia acelerou essa mudança, reduzindo postos de trabalho formais e incentivando a informalidade. Economistas destacam que a reforma trabalhista e previdenciária também influenciam essa escolha, mas alertam para a falta de benefícios como INSS e seguro de saúde. A decisão não parece visar uma aposentadoria melhor, mas sim uma renda imediata maior.

Em fevereiro de 2025, 33.005 pessoas foram demitidas em MS e delas, 15.404 o foram porque pediram, o que representa 46,67%, quase 50%. O levantamento do é do economista da consultoria LCA 4intelligence, Bruno Imaizumi, repassado com exclusividade ao Campo Grande News. Especialistas do Estado comentaram os dados.

No mês anterior, janeiro, a taxa chegou a 46,94%, o mesmo que 15.798 de um total de 33.687 demissões. Os índices são os maiores desde janeiro e fevereiro de 2024, quando chegaram a  48,69% e 47,06%, respectivamente. Mas existe um marco: janeiro de 2022, quando a taxa de demissões a pedido alcançou os 40%. Até então, não se passava de 38%.

Segundo a economista Andreia Ferreira, supervisora técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no Estado, 2022 foi ano de eleições e não se pode desvencilhar o cenário político do econômico. Naquele ano, apenas em dezembro houve índice abaixo de 40%, sendo de 38,64% de demissões a pedido. Ou seja, na avaliação dela, houve uma reação à polarização partidária, com trabalhadores temerosos.

“Quem tinha o emprego (em dezembro de 2022) estava se sujeitando a qualquer coisa e isso ficou evidente também nas negociações salariais, porque os trabalhadores estavam, eles estavam brigando nas mesas de negociação pra conseguir manter aquilo que já estava registrado nos instrumentos de trabalho, no acordo coletivo de trabalho ou na convenção coletiva de trabalho. As pessoas se sujeitaram a muitas coisas que foram que lhes foram prejudiciais, porque era menos pior manter o emprego do que ficar sem perspectiva de ter uma fonte de renda nenhuma”, destacou.

Mas ela pondera também que existe uma cultura imediatista que muitas vezes envolve a vida do trabalhador, com a facilidade dos trabalhos por aplicativo ou a gana de empreender. “Eu acredito que tem também essa questão, tem uma visão imediatista. As pessoas elas pensam no que elas vão ter agora no bolso, e acabam ficando nessa perspectiva de que vai ganhar mais não sendo CLT e a pessoa só reage quando fica sem o benefício do  INSS, quando fica desassistido de alguma forma”, avalia.

Nessa linha, o mestre em economia, Eugênio da Silva Pavão afirma que “trabalhar sem contribuir deixa a impressão de se ter uma renda disponível mais alta, entretanto, com a reforma trabalhista, dificuldades de negociação de salários, bem como falta de oportunidades, fazem com que algumas pessoas arrisquem-se na informalidade”, analisa.

Pandemia - Segundo Pavão, a pandemia “antecipou e acelerou um processo que viria mais tarde”, citando a atuação informal através das profissões por aplicativo. “A economia das plataformas mudou o quadro do emprego, os quais estarão disponíveis para as pessoas que se adaptarem. E os que se aventuram, levando e trazendo encomendas, correm o risco, sem seguro de saúde, sem acesso aos benefícios do INSS”, aponta.

Por outro lado, a pandemia também reduziu a quantidade dos postos de trabalho e quem ficou em emprego migrou para os setores de entregas e aplicativos “onde conseguem renda maior do que o trabalho formal (salários), com investimentos pequenos - motos, automóveis, muitas pessoas passaram a atuar na atividade como MEI (microempreendedor individual) ou na informalidade mesmo, aproveitando do acerto obtido com as empresas e se desligando da atividade.”

Por fim, nenhum dos economistas entrevistados notam que esse desligamento a pedido seria uma direção a uma vida com mais qualidade e bem-estar ou com vias a uma aposentadoria mais promissora. “Não acredito que seja a aposentadoria o objetivo, pois, a reforma (previdenciária) colocou pressão sobre as pessoas, com maior tempo de contribuição para a aposentadoria, e expectativas de aumento nas idades mínimas, desestimulando o emprego com carteira assinada”, assinala Pavão.

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