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Economia

Se engana quem acha que dólar alto só afeta rico que viaja para fora

Nessa segunda, dólar fechou no maior valor nominal desde a criação do real e foi negociado a R$ 6,069

Por Lucas Mamédio e Gabi Cenciarelli | 03/12/2024 15:56
Homem fazendo compras em supermercado de Campo Grande (Foto: Alex Machado)
Homem fazendo compras em supermercado de Campo Grande (Foto: Alex Machado)

Se engana quem acha que a alta do dólar só prejudica viagens ao exterior. Na verdade, a maior preocupação do governo com o dólar valorizado é a inflação doméstica, por conta dos preços dos produtos do dia a dia cujos insumos, em sua maioria, são negociados na moeda americana.

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A alta do dólar impacta diretamente a inflação brasileira, afetando o preço de produtos essenciais como alimentos, medicamentos e combustíveis, cuja produção depende de insumos importados. A dependência brasileira de importações, somada à estrutura de mercado oligopolizada, amplifica os efeitos da valorização da moeda americana, prejudicando consumidores, pequenos empresários e a economia como um todo. O aumento nos custos é sentido no dia a dia, desde o supermercado até os serviços, forçando adaptações orçamentárias e comprometendo o poder de compra da população.

Nessa segunda-feira (2), o dólar voltou a subir e a fechar no maior valor nominal desde a criação do real e foi negociado a em R$ 6,069. Alimentos, medicamentos e combustíveis são alguns dos itens que já sofrem com os efeitos da valorização da moeda norte-americana, conforme apontam especialistas e relatos de cidadãos.

Segundo o economista Eugênio Pavão, o impacto do dólar na economia brasileira é amplificado pela estrutura de mercado e dependência de insumos importados. “A economia brasileira tem uma característica de oligopólio. Muitos produtos consumidos no dia a dia vêm de poucas empresas. Por exemplo, os princípios ativos de medicamentos são, em sua maioria, importados, o que os torna vulneráveis à flutuação cambial”, explica.

Pavão também destaca o caso do trigo, que é essencial para a produção de pães, bolos e massas. “O Brasil importa grandes quantidades de trigo, pois a oferta nacional é baixa. Com o dólar alto, a cadeia de produção e distribuição desses produtos fica mais cara, e o impacto chega ao consumidor final,” complementa o economista, lembrando que insumos agrícolas como fertilizantes, também dolarizados, afetam o custo de alimentos produzidos internamente.

Mariana Pereira da Silva, dona de uma confeitaria no Jardim Centro-Oeste (Foto: Paulo Francis)
Mariana Pereira da Silva, dona de uma confeitaria no Jardim Centro-Oeste (Foto: Paulo Francis)

Os efeitos do dólar alto já são sentidos por pequenos empreendedores, como Mariana Pereira da Silva, dona de uma confeitaria no Jardim Centro-Oeste. Ela relata que os custos de insumos, como trigo e leite condensado, subiram significativamente. “Hoje em dia você vai ao mercado com R$ 100 e volta com duas sacolinhas. No meu trabalho, tudo interfere: o trigo, o leite condensado... O lucro acaba ficando menor para mim”, desabafa.

Luana Miriele Gomes, balconista e mãe de uma criança pequena, também percebe o impacto diário. “Tudo está caro. Carne, arroz, feijão... A cada ida ao mercado é um preço diferente. E com criança, não tem como cortar gastos, tem que comprar”, comenta. Para ela, o aumento do dólar é um fator distante, mas os reflexos são claros: “Eu vejo a diferença no mercado, mas nem acompanho muito. Só sei que está tudo mais caro.”

Para Vagner Castro, dono de uma mecânica, o dólar afeta tanto os negócios quanto as despesas domésticas. “Comprar peças está difícil, tudo muito caro. Em casa, no mercado, é a mesma coisa. O dólar sobe e o preço de tudo sobe junto”, afirma.

Efeitos em cadeia - O impacto do dólar alto não se restringe ao setor alimentício. A valorização da moeda americana também eleva os preços de combustíveis, medicamentos, eletrodomésticos e produtos de higiene, todos com componentes ou insumos importados. O petróleo, cotado em dólar, eleva o preço dos combustíveis, como gasolina e diesel, o que pressiona o custo do transporte e o frete, encarecendo ainda mais os produtos.

“No caso dos combustíveis, a política atual do governo é de repassar as altas dos barris às bombas dos postos, com altas mensais, quinzenais, semanais ou até mesmo na mesma semana. Isso encarece a distribuição por todo o país, e acrescenta a questão cambial na inflação brasileira. Em suma: 'se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'”, explica Eugênio.

Especialistas alertam que, embora as oscilações cambiais façam parte do mercado global, a dependência de insumos importados, combinada com a falta de incentivo à produção local, aumenta a vulnerabilidade do Brasil a choques externos.

Vagner Castro, dono de uma mecânica, fala com Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)
Vagner Castro, dono de uma mecânica, fala com Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

Enquanto o dólar segue em alta, consumidores e pequenos empresários buscam formas de adaptar o orçamento para lidar com os preços que não param de subir, reforçando um cenário de desafios econômicos para o cotidiano brasileiro.

“O dólar está no dia a dia do cidadão, no preço do pão, dos remédios, tecidos, eletrônicos, etc. O dólar alto é ruim para as empresas com dívidas em dólar, mas excelente para empresas importadoras, que veem aumento do lucro, e ruim para as empresas exportadoras, que adiam investimentos, reduzindo a geração de empregos, renda e tributos. Então, o câmbio é um problema para os consumidores nacionais e as pessoas que precisam viajar, estudar no exterior, são obrigados a adiar ou conter os gastos, pois a fatura dos cartões no exterior 'comem' renda futura”, finaliza Eugênio.

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