Crianças e adolescentes ficam encantados com objetos obsoletos
As impressões são diferentes quando se vê um objeto novo pela primeira vez. Fernanda Demétrio, de 15 anos, nunca tinha visto uma lamparina, por exemplo, e achou curioso como funcionava a “lâmpada” de antigamente. Rodrigo Felício, de 10 anos, achou muito interessante ter que colocar uma brasa dentro do ferro para passar a roupa, já que “dava muito trabalho”.
O contato com o antigo para eles é novidade. Um pouco sem jeito, e ainda deslumbrados com a possibilidade, crianças e adolescentes de 6 a 17 anos participaram da oficina “O velho e o novo”, no ateliê da artista plástica Ana Ruas.
“As crianças são do bairro Jardim Noroeste, eles não têm acesso a manifestações culturais diversificadas. Geralmente, têm contato apenas com o funk e a TV. Então, conhecer um pouco de artes plásticas é uma grande oportunidade”, comenta a diretora técnica do grupo de escoteiros Mário Dilson, Leise Demétrio, de 47 anos.
E o encantamento com a experiência, não só de conhecer materiais antigos, mas poder fazer a sua própria arte, fica nítido no brilho dos olhos. Carlos Fernando Santana, de 9 anos, é um exemplo. “Eu não gostei, eu amei”, comenta o menino, que pinta de amarelo o ferro antigo que acaba de desenhar. Animado, ele fala que ia contar para todo mundo o que conheceu ali.
No começo, todos têm medo de desenhar, principalmente o que não conhecem. Procuram o caminho mais fácil. Fazer arte ali ganha até segundo plano, perto da experiência de se aventurar em um mundo de novas descobertas. Antes de colocarem a tinta no papel, eles participam de uma explicação sobre a função e o significado dos objetos que não fazem mais parte da nossa realidade.
Lampião, lamparina, ferro, balança, máquina de escrever, todos de épocas distintas, mas já obsoletos diante de tantas lâmpadas, leds e passadores a vapor dos tempos modernos. Hoje, são itens de decoração e acumulam apenas valor sentimental para quem é apegado a um relicário.
Ana Ruas coloca em discussão a relação da tecnologia com o contato interpessoal. Fala sobre como apesar de facilitar a vida, muita coisa acaba distanciando as relações cara a cara. Faz uma reflexão sobre o valor de tudo. “Eu observo o quanto a tecnologia acaba afastando as pessoas e tendo passar para eles a mensagem de que algumas coisas não têm preço por terem valor afetivo”, explica.
Thalia Rosa, de 14 anos, gostou tanto da oficina que pediu para acompanhar a turma da tarde. “Achei uma coisa única” comenta.
Das crianças de 9 anos, aos adolescentes de 17, cada um levou para casa uma impressão diferente. Fernando se encantou com as paredes pintadas com desenhos de ondas, ele nunca tinha visto “paredes tão legais”. Rodrigo saiu com a imagem do relógio antigo de parede na memória.
Cada um levou as recordações de um dia bem atipico, mas carregado de novas informações.
O projeto “Artes Visuais – Espaços Compartilhados” é um dos selecionados pelo Fic/ MS (Fundo de Investimentos Culturais), da Fundação de Cultura de Mato-grosso do Sul e irá oferecer 10 oficinas para crianças e adolescentes.