Com 25% de chance de sobrevida, advogado promete viver os melhores 5 anos
Câncer de advogado de 46 anos é inoperável e sem cura, por isso, ele decidiu viver, e não apenas sobreviver

Tiago Pitthan sempre foi aquele cara que chegava nas festas animado, às vezes, vindo direto de uma pedalada intensa, com a alma leve e a endorfina alta. Fã de cerveja artesanal, rock'n roll, pedalas, corridas, esporte. Foi por isso que, quando a notícia do câncer chegou, muitos se perguntaram: “Como assim o Tiago?”. Mas foi ele mesmo quem respondeu, do jeito mais improvável: com alívio.
“Minha primeira sensação foi de alívio, porque finalmente eu sabia o que estava acontecendo comigo, e agora tinha um inimigo pra enfrentar”, conta ele, sobre o diagnóstico recebido em março de 2024.
Por meses, sentia uma estranha dificuldade ao comer, foi perdendo peso, ficando mais fraco, e ninguém sabia o motivo. “Até que meu pai, médico aposentado, perguntou se eu tinha feito uma endoscopia. Fiz, e o resultado saiu na hora: câncer de estômago.”
Tiago tem 46 anos, é advogado, e não está lutando uma guerra silenciosa. Ele fez da luta um manifesto de vida, sem pieguices ou heroísmos exagerados. “Depois vieram as dúvidas, medos, angústias, mas nunca levei elas muito a sério”, diz, com aquela calma de quem não tem tempo a perder com sofrimento que não constrói.
“Eu tenho câncer, mas o câncer não me tem”
A ficha caiu rápido. E junto com ela, veio a decisão de que não seria a doença a escolher o tom dos seus dias. “A reação das pessoas mexeu comigo. A tristeza, o pesar, o sentimento de pena... Pensei: 'ei, eu não estou desistindo de nada não, é só uma doença, vou tratar e pronto'.”
Desde então, Tiago passou por duas cirurgias, enfrentou erros médicos, acordou sem saber se ainda tinha estômago ou não, e ouviu dos médicos que o câncer é inoperável, sem cura, com metástase no intestino grosso, delgado e pulmões. A expectativa de vida para os próximos cinco anos é de menos de 25%.
E mesmo assim, ou talvez justamente por isso, ele escolheu viver como se tivesse a eternidade.
“Eu sempre falo que eu tenho câncer, mas o câncer não me tem! Tive inúmeros percalços no tratamento, cirurgias mal sucedidas, metástase, descoberta de que não tem cura... e nada tirou meu humor. Claro que tenho meus momentos de medo, ansiedade, mas eles passam bem rápido!”
Adaptar para continuar
A rotina que antes incluía quilômetros de pedal e corridas, hoje passa pela academia, uma adaptação que ele escolheu sem drama. “Decidi logo de imediato que não ia permitir que o câncer me tirasse nada, então o que eu não conseguia fazer eu adaptava pra minha nova realidade.”
A quimioterapia, que chega pesada e esgota, é tratada com a mesma praticidade. “Quimio é complicado. Desgasta muito, passei mal algumas vezes durante a aplicação, fico esgotado quando saio de lá. Mas sei que é necessária para eu manter minha qualidade de vida, afinal meu tratamento é paliativo e o objetivo é esse. Então encaro como um desconforto necessário. Tenho que fazer, vou lá e faço, sem reclamar ou pensar muito sobre isso.”
Viver, não sobreviver
Nas redes sociais, Tiago compartilha a vida com um frescor raro, sem esconder os desafios, mas também sem deixar que eles sejam protagonistas. Não é sobre parecer forte o tempo todo. É sobre lembrar que ainda se está aqui. Vivo.
“Muita gente me escreve dizendo que mudou a forma de encarar a vida depois de me ver falando sobre o câncer, e isso me deixa feliz demais. Provavelmente eu vou morrer por causa desse câncer, as chances são todas contra mim. Mas até isso acontecer, o que eu tenho aqui é a VIDA. Não vou morrer por antecedência, vou viver enquanto tiver condições e não apenas sobreviver.”
A escolha possível
É fácil? Ele mesmo responde: não. Mas é possível. E é a única escolha viável quando se tem gente que ama por perto. “Se me entregar a isso eu acabo adoecendo a todos ao meu redor, as pessoas que se importam comigo. Eu tenho muita sorte de ter muita gente boa ao meu lado, um suporte fantástico, família e amigos que estão aqui para o que eu precisar. Então, por eles (e por mim também), eu vou lutar contra essa doença sem perder o bom humor, a alegria, a disposição.”
O segredo, diz ele, está no presente. Em viver o agora com o que se tem. “Tem uma música chamada Cara ou Coroa, da banda Canastra, que começa assim: ‘O futuro não existe, o futuro existirá, meu presente é o único bem que eu tenho pra te dar’. É isso! Temos sim que pensar no futuro, levar o tratamento a sério, mudar hábitos... Mas sem esquecer o presente, o que estamos vivendo. A vida é agora!”
Os melhores 5 anos da vida
Se há um prazo, que seja um pretexto. “Meu câncer é inoperável, não tem cura, e já alcançou intestino grosso, delgado e pulmões. Expectativa de vida para daqui a 5 anos é abaixo de 25%. Bem, então vou fazer com que sejam os melhores 5 anos da minha vida! E serão!”, finaliza.
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