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Diversão

Em 14 anos, Andrea usou de ônibus a navio para conhecer 288 cidades

Dos 26 estados brasileiros, a servidora pública conheceu 22 viajando de ônibus

Por Aletheya Alves | 05/12/2023 08:04
Andrea na rodoviária de Santo Ângelo (RS) esperando o ônibus para São Miguel das Missões. (Foto: Arquivo Pessoal)
Andrea na rodoviária de Santo Ângelo (RS) esperando o ônibus para São Miguel das Missões. (Foto: Arquivo Pessoal)

Apaixonada por viagens, a servidora pública Andrea Yule Carvalho decidiu conhecer o Brasil de ônibus e, nos 14 anos de experiência, conseguiu passar por cerca de 290 cidades. Durante os trajetos, embarcou em avião, navio, trem e caminhão para completar as experiências de conhecer 23 estados brasileiros, sendo que apenas o Amazonas entrou na lista sem o uso de ônibus.

“Viajar, para mim, sempre foi algo natural. Até minha adolescência, sempre viajei em família. Eram viagens de carro em sua maioria e poucas eram de ônibus ou demais formas de deslocamento, sendo direcionadas aos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina”, introduz Andrea sobre o gosto pelas estradas.

O cenário dos trajetos começou a mudar em 2003, quando tinha 26 anos e passou no concurso da antiga Agepan, atual Agems (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos) com uma vaga em Bonito. Quando já havia se mudado para a cidade é que entendeu que iria trabalhar na fiscalização do transporte intermunicipal de passageiros.

Integrando a atmosfera do transporte, Andrea conta que aliar o gosto por viagens com o trabalho foi algo que aconteceu sem problemas. “Quando completei meu primeiro ano no Estado, também já estava decidida e preparada para embarcar em um ônibus e conhecer o Brasil”.

Em Goiânia, embarcando para Belém do Pará, atravessando a BR-153 . (Foto: Arquivo Pessoal)
Em Goiânia, embarcando para Belém do Pará, atravessando a BR-153 . (Foto: Arquivo Pessoal)

Entre todos os meios de transporte, ela narra que o ônibus foi escolhido por uma série de motivos. Caso estivesse dirigindo, não poderia contemplar os trajetos, assim como ocorreria com aviões por se manter longe do espaço térreo.

“Eu queria viajar tendo certa liberdade de tempo, não tendo que me adaptar às necessidades das outras pessoas, o que temos que fazer quando não viajamos sozinhos. Mas isto não quer dizer que não tenha viajado com outras pessoas, pois também viajei, mas estas tiveram que se adaptar ao ritmo que eu colocava”, diz.

Decidida a descansar a mente saindo da rotina diária de trabalho, a servidora percorreu inúmeras rodovias do país. “Costumo dizer que não existe um lugar ou lugares que me marcaram, pois na realidade o que me importava eram os trajetos que percorria. A aventura começava para mim quando eu decidia como seria aquela viagem, se seria programada com elaboração de todo o trajeto que iria percorrer ou se seria uma viagem de total aventura, pulando de ônibus em ônibus”.

Retornando a 2004, sua primeira experiência foi no final de 2004, completamente de ônibus. Partindo de Campo Grande, passou por Goiás, Bahia, Pernambuco, duas cidades no Piauí, Maranhão e três cidades de São Paulo.

“Se me lembro bem, fiz este trecho todo em cerca de 20 dias. De Goiânia a Juazeiro, entendi o medo que as pessoas têm em viajar no período noturno dentro do território da Bahia, isto por medo de assaltos. Os ônibus, à noite, atrasam a viagem para se encontrarem na divisa de Goiás com a Bahia para entrarem em comboio. Isto que falo ocorreu em 2004, 19 anos atrás, não sei se continua assim”, pontua a servidora pública.

Nessa primeira experiência, Andrea conheceu o Rio São Francisco enquanto o atravessava na passagem de Juazeiro, na Bahia, para Petrolina, em Pernambuco. “Fiquei aí poucas horas, após um pernoite, de onde segui para conhecer a Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, no Piauí, de moto com o guia que me acompanhou”.

Um dos pontos curiosos dessa viagem é que Andrea foi recebida em São Raimundo pela arqueóloga Niède Guidon, que descobriu o esqueleto mais antigo do Brasil. “Da serra rumei para Teresina, no Piauí, de onde só troquei de ônibus para São Luiz do Maranhão”.

Registro de viagem feita em 2010, em que passou por Tocantins e Maranhão. (Foto: Arquivo pessoal)
Registro de viagem feita em 2010, em que passou por Tocantins e Maranhão. (Foto: Arquivo pessoal)

Como Andrea explica, as próximas viagens foram mais tranquilas devido à experiência adquirida. Em 2005, ela realizou um mochilão em Mato Grosso do Sul, mas a trabalho, para entender como o sistema de transporte intermunicipal estava operando.

“Naquela época, só não consegui fazer uma ligação entre duas regiões do Estado, que são a região norte, de Coxim, Sonora com o Pantanal. Isto porque não havia nenhuma linha sendo executada ligando tais regiões e que não existe até hoje”, explica.

Com o passar do tempo, a servidora conseguiu se especializar em criar roteiros de viagens, dando destaque aos rodoviários, e seu maior desafio foi enfrentar locais que não possuíam nem mesmo terminal rodoviário.

Outra viagem citada por Andrea já foi com uma amiga que tinha interesse em conhecer a região sul do Brasil. Sendo um caminho realizado em dupla, a escolha foi de preparar um roteiro estabelecido de 20 dias.

Conjunto de mochilas era algo sempre presente na vida de Andrea. (Foto: Arquivo pessoal)
Conjunto de mochilas era algo sempre presente na vida de Andrea. (Foto: Arquivo pessoal)

“Neste trecho conhecemos a região das Missões Indígenas, fomos atrás do friozinho da Serra Gaúcha, mas pegamos no máximo 8 graus em Gramado, fizemos em Bento Gonçalves também um passeio de trem temático até Carlos Barbosa-RS, mas retornamos a Gramado após. Da serra embarcamos para SC, e de lá para o Paraná. Nesse litoral todo só passamos em Guaratuba e Matinhos, e Paranaguá, ambas cidades do Paraná, sendo que nas duas primeiras fizemos a travessia de Ferry-Boat e na última embarcamos no trem sentido Curitiba, onde podemos nos deliciar com a beleza da natureza.”, relembra a viajante.

O ritmo seguiu até 2015 com Andrea aproveitando tempos livres, feriados e férias, mas no fim do ano precisou diminuir a velocidade quando teve um problema de saúde. Já em 2016, conheceu seu esposo, que trabalha como caminhoneiro, e transformou parte de suas viagens de ônibus em trajetos de caminhão.

Durante a primeira viagem em casal, os dois foram até Curitiba de avião e, a partir de lá, seguiram para Santa Catarina. “De lá, rumamos para o Nordeste, por conta dos tempos de duração de viagem e meus compromissos, de Recife retornei de avião para Campo Grande e ele seguiu a viagem trabalhando”.

“Quando eu me aventurei nas viagens que fiz, meu objetivo sempre foi descansar a mente, pois o cansaço do corpo você recupera de um dia para o outro com uma boa dormida, mas o mental, muitas vezes, você precisa se isolar do mundo e, quando viajo, consigo”, explica Andrea.

Trajeto feito entre Belo Horizonte e Vitória, em um dos últimos trens de passageiros ainda em operação no Brasil.. (Foto: Arquivo pessoal)
Trajeto feito entre Belo Horizonte e Vitória, em um dos últimos trens de passageiros ainda em operação no Brasil.. (Foto: Arquivo pessoal)

Ao pensar sobre todos os locais que passou, ela conta que um mapa aparece em sua mente. “Nesse mapa, me localizo no tempo e no espaço, e vêm memórias relacionadas a algo que me remeta àquele lugar ou algum próximo, onde tenha passado”.

Entre as viagens mais longas que já fez de ônibus, ela cita de São Luiz do Maranhão até São Paulo e de Santarém, no Pará, até Campo Grande.

“Nesta ânsia de descansar a mente e conhecer o Brasil, também tinha a Amazônia no meio do caminho, então a incluí em duas aventuras. A primeira foi em 2010, também com a mesma amiga com quem viajei em 2005, onde saímos de Campo Grande sentido Goiânia. Lá, embarcamos para Belém, atravessando a BR-153 também de ônibus”.

Sobre esse trajeto, ela narra que atravessaram a região de praias de rio, conheceram a região do Mercado Ver-o-Peso em Belém e a ‘chuva de hora marcada’, que sempre ocorre por volta das 15h. “Em Belém, embarcamos no navio sentido Manaus e ali começava uma viagem de sete dias pelos rios da Amazônia”.

E, de todas suas rotas, os únicos estados que não foram alcançados são o Acre, Amapá e Roraima, “os demais, de uma forma ou de outra cheguei, sendo que o Amazonas foi o único que não cheguei ou saí de ônibus”, completa.

Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  •  Região de praias de rio
  • Em Belém(PA), região do Mercado Ver-o-Peso e o casario em volta
  • Chuva de "hora marcada"
  • Navio para conhecer os rios da Amazônia
  • Festa do boi em Santarém(PA)
  • Teatro Amazonas
  • Peixe-boi
  • Rio Tapajós, o rio que banha Alter do Chão
  • Vista aérea da Amazônia.

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