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Sabor

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos

Local completou 7 décadas neste domingo; história começou com cafeteria no Centro

Por Natália Olliver | 15/06/2025 14:24
De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Vitorino Martos Caetano Fonseca mantém legado do pai e há anos conquista campo-grandendes (Foto: Paulo Francis)

Entre uma entrega e outra de marmitas no balcão, atendimento às mesas e conversas com os amigos, o português Vitorino Martos Caetano Fonseca, de 75 anos, conta fragmentos da vida dele em um dos bares e restaurantes mais antigos e tradicionais de Campo Grande. A nostalgia bate forte. Ele relembra que, há sete décadas, o que era apenas uma ajuda para o pai na louça virou trabalho. Neste domingo, o legado da família completou 70 anos.

Apesar de todo esse tempo, Vitorino ainda faz questão de servir as mesas e atender quem chega na Rua Jornalista Belizário Lima com 24 de Outubro. Entre os copos e pratos que ele próprio ajuda a organizar, a história se constrói. Há 29 anos no mesmo endereço, a rotina não parece cansá-lo, pelo contrário, sorrisos não faltam na hora de perguntar qual vai ser o pedido do dia.

Tudo começou com uma cafeteria onde hoje é o Mercadão Municipal. em 1955. Na época ela recebeu o nome Fonseca e anos depois virou bar e restaurante. O negócio do português Vitorino foi o legado conquistado pelo filho, (que tem o mesmo nome do pai) e celebrado com os amigos em comemoração ao aniversário.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Vitorino faz questão de anotar pedidos e levar marmitas até os clientes (Foto: Paulo Francis)

Modesto em achar que a data é apenas mais um dia na vida do restaurante, mas feliz pelo carinho e consideração de amigos conquistados ao longo dos anos, Vitorino atribui o feito de manter o restaurante aberto durante tanto tempo à simplicidade, ao atendimento e ao amor que a família sempre colocou ali.

Para ele, o sentimento de continuar fazendo sucesso entre os campo-grandenses é de satisfação. “Não temos como prender durante 70 anos o cliente, a não ser que faça um bom serviço. A gente se sente satisfeito, procurando fazer o melhor possível e passando para as outras gerações. O que fica além do espaço é a amizade que adquirimos, são muitos anos de tradição, a qualidade e a simplicidade. Aqui não é uma casa de luxo, ela é tradicional, que já frequenta as terceiras gerações.”

Vitorino para de atender para completar a história. Ele conta que o prédio atual foi comprado pelo pai e que, devido à quantidade de clientes, já pensou em expandir. Em dia de grande fluxo, como aos sábados, quando é servida a tradicional feijoada da casa, o número de clientes chega a ser 300 pessoas.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Local é ponto de encontro dos amigos que Vitorino fez ao longo dos anos (Foto: Paulo Francis)

Segundo ele, a clientela chega ao longo do dia. Com a alta procura ele precisou colocar mais cadeiras na parte de fora do bar. Apesar disso, a medida não foi suficiente e Vitorino resolveu investir em dois imóveis do outro lado da rua para resolver a situação. Hoje as mesas ocupam os dois lados da 24 de Outubro.

“Mexemos em pouco coisa de lá pra cá. Tem hora que até passamos dificuldades porque a clientela é muita. No sábado é o dia mais movimentado. Temos 16 funcionários e os extras de sábado são quase 16 também. Tem hora que falta gente. É um ponto de referência. Estamos sempre nos dedicando e trabalhando”.

Amizades

Os amigos fazem questão de homenagear Vitorino e não poupam elogios. Wilson Cabral Tavares, de 70 anos, tem até conta no local, coisa comum nas décadas passadas, mas que caiu em desuso hoje, pelo menos fora do restaurante do Vitorino. Ali dentro, o tempo é ele que faz, e os costumes se mantêm.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Na foto de cima José Maria, na de baixo, Wilson Cabral Tavares (Foto: Paulo Francis)

“Frequento desde 1980, quando o bar ainda era na Cândido Mariano. Na época tinha um banco na frente. Eu recebia lá e gastava metade no Vitorino com cerveja e salgado. Aí mudou de endereço e tive meus filhos. Passei a gastar mais em sorvete que em cerveja. Eu comecei  a pagar ele por mês e ele confiou em mim”.

Ele brinca que fechou a conta e que agora só daqui há 70 anos para fazer um novo acerto. “O que mantém há tantos anos são os amigos, muitos até já faleceram, o próprio irmão do Vitorino, Luís, que era muito amigo meu. Chega aqui e não preciso pedir ele já me traz as coisas”.

José Maria Nossa Ascenço, de 71 anos, também bate ponto no local há anos. Também português, a identificação com os pratos servidos, o ambiente e o dono do bar aconteceu de primeira.

“Meu pai era freguês do pai dele quando era ainda na Cândido. O Vitorino é, como eu, descendente de portugueses. Aqui é um ambiente de amizade; venho todo final de semana para encontrar meus amigos. O que mantém é a amizade. A gente vem para conversar assuntos aleatórios, fugir da rotina. A gente vem pra se distrair.”

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Deputado estadual Paulo Duarte frequenta o bar há anos na Capital (Foto: Paulo Francis)

O médico hematologista e responsável pelo banco de sangue da Santa Casa ressalta que o bacalhau, prato típico do restaurante, é um dos que ele mais gosta, mas que não resiste à feijoada de sábado.

O deputado estadual Paulo Duarte também é fã de carteirinha do que ele chama de boteco raiz. Para ele, o ambiente, assim como o atendimento e a presença de Vitorino, são o que diferencia e dá originalidade ao bar.

“O dono está sempre aqui, isso deixa ainda melhor. É uma tradição vir e durante muito tempo virou um point político. É um boteco raiz que se reinventa, ele é um dos poucos em Campo Grande. Eu gosto muito de boteco e quando você vai e o dono está é muito legal porque fica uma coisa mais pessoal. Isso é um pouco da história de Campo Grande. O boteco tem metade da idade da cidade. Aqui tem coisas tradicionais, o bacalhau, feijoada, tem espaço vip para os bacanas. Eu gosto muito do ambiente”.

70 anos de história

Os campo-grandenses que não sabem quem é o Vitorino ou não conhecem a história da cidade ou nasceram há pouco tempo. O Restaurante do português é quase um patrimônio da cidade e foi fundado antes mesmo do Mercadão Municipal.

A história do restaurante começa em 1955, quando o pai, Vitorino Fonseca e a esposa, Maria José chegam ao Brasil em busca de uma vida melhor. Em Portugal, a família trabalhava na área da agricultura.

Inicialmente chamado de ‘Casa Fonseca’, o empreendimento  não começou como um restaurante, Na época, o negócio funcionava como uma sorveteria e cafeteria em frente à antiga feira livre onde hoje é o Mercadão. A família permaneceu lá até 1959.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Aos sábado Vitorino serve a tradicional feijoada da casa (Foto: Paulo Francis)

O ponto comercial mudou de endereço e passou a funcionar nas ruas Jornalista Belizário Lima e 24 de Outubro, onde permaneceu por 10 anos. Em 1969 a família abriu a cafeteria Vitorino´s na Rua Cândido Mariano, entre a Rua 14 de julho e 13 de Maio, em frente ao Rio Hotel,  um dos prédios mais famosos da época.

Após o falecimento do pai, o filho mais velho resolveu continuar o legado da família e em 1998 Vitorino filho levou o restaurante de volta ao endereço anterior, na Rua Jornalista Belizário Lima, onde permanece até hoje.

Vitorino sempre esteve imerso no negócio da família e aprendendo desde cedo a fazer as coisas no local.

“Naquela época com 5 anos criança podia fazer algumas coisas. Meu pai me colocou para lavar o copo no restaurante. Aí aprendi a fazer conta e ele me colocou para cuidar do caixa e na hora que meu irmão chorasse eu ia cuidar dele. A gente sempre foi assim, meu pai, minha mãe, meu irmão que faleceu e meu outro irmão. Fomos portugueses, viemos de lá com 4 anos e 11 meses e vim completar 5 aqui. Meu pai com 1 mês no brasil comprou um bar”.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
História do bar Vitorino's é contada com fotos antigas no cardápio (Foto: Paulo Francis)

Gutenberg Machado, de 58 anos, frequenta a casa há 10 e é um dos mais jovens. Para ele, o segredo do sucesso do Vitorino é a simpatia e o atendimento.

“Geralmente a gente vem mais pela simpatia dele e dos colaboradores, mas a comida é muito boa. Frequento qui porque é muito familiar, peço muito feijoada e comemos depois de sair deo trabalho à la carte. Aqui tem um quê especial, o ponto é gostoso, central e fácil de chegar, mas a reciprocidade de todos. Campo Grande tem muito isso quando você fixa tradição é assim”.

Amigo de longa data de Vitorino e freguês de carteirinha, Paulo Roberto, de 76 anos, frequenta o bar há 50. Pelo menos uma vez na semana ele está sentado em uma das mesas na parte interna do bar.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Cenário antes e depois da mudança da fachada do restaurante (Foto: Paulo Francis)

“Venho sempre no domingo. Faço questão de vir pelos amigos. A gente fica junto, pega mais de uma mesa e fica. Eles me tratam muito bem e quando tratam assim a gente volta. tem comida boa também. O médico ortopedista conta que a família gostava de ir ao bar quando o dono ainda era o Vitorino pai.

Quem trabalha no restaurante conta que já decorou até qual copo os clientes preferem beber a cerveja. Patrícia Gajoco é funcionária há 15 anos e é quase parte da família.

“Os clientes todos já conheço sei o nome, os gostos, as vezes eles esperam porque querem ser atendidos por mim. Cada um tem um tipo de cerveja, pode ser uma mesa de 10 pessoas cada um é uma. Tem uns que tomam só na taça, outros na tulipas, outros preferem o copo alto e tem aqueles que não largam o copo americano. Cada um tem sua mesa carimbada e eles respeitam. É um grande encontro. A clientela é fixa. Eu costumo falar que elas batem mais ponto que eu”.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Patrícia Gajoco é funcionária há 15 anos e é quase parte da família (Foto: Paulo Francis)

Para uma das filhas de Vitorino, Caroline de Sousa Fonseca, herdar o local é uma honra e responsabilidade. “É orgulho mas é isso. Eu vim para o restaurante quando já era aqui, há 29 anos. Depois que o meu avô faleceu meu pai abriu. Eu fazia faculdade e vinha ajudar, aí me formei e daqui não sai mais. As Outras irmãs, Patrícia e Camila vem ajudar nos dias de grande movimento”.

De pai para filho, Vitorino's é história de feijoada e prosa boa há 70 anos
Legado do pai é herança de Carol e Patrícia, que estão na foto, junto a ultima filha, Camila (Foto: Paulo Francis)

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