Chiquinha sobreviveu à crueldade humana e virou ‘patroa’ em clínica
Gata teve uma bomba estourada dentro do canal urinário e carrega sequelas permanentes
Quem vê Chiquinha desfilando pelos corredores da clínica veterinária com ares de autoridade e olhar afiado para os “funcionários”, nem imagina o passado cruel que ela enfrentou. A gata, que hoje ostenta até crachá de “gerente-geral”, sobreviveu a um terrível caso de maus-tratos, que deixou sequelas permanentes.
Ainda filhote, com cerca de dois meses, Chiquinha foi resgatada em uma cidade no interior de São Paulo após sofrer um ato de extrema brutalidade: uma bombinha foi explodida dentro do canal urinário dela. O ferimento foi tão grave que destruiu completamente a uretra e a vulva, impedindo a pet de urinar normalmente.
A primeira tentativa de cirurgia, feita em São Paulo, tentou reconstruir o canal, mas não teve sucesso. Diante das complicações, a felina foi encaminhada para a clínica de Campo Grande onde sua vida mudaria para sempre.
Cirurgias, UTI e uma luta pela vida - A equipe do estabelecimento se mobilizou para salvar Chiquinha. UM médico veterinário realizou um procedimento na bexiga, criando uma abertura no abdômen para que ela pudesse urinar pela barriga. Mas a batalha estava longe de terminar.
Nos meses seguintes, a gatinha enfrentou diversas internações. Como não tem controle da urina, precisava usar fraldas e trocá-las constantemente para evitar assaduras e infecções. Esse cuidado intenso se tornou um desafio para a ONG que a acolhia, já sobrecarregada com muitos outros animais.
Foi aí que Chiquinha, sem querer, decidiu seu destino. Sempre que voltava para a ONG, surgiam novas feridas na pele, obrigando-a a retornar à clínica. O padrão se repetia tantas vezes que os funcionários da clínica perceberam: aquele já era o lar da gata e isso deveria ser oficializado.
“Ela ficava bem aqui, voltava para lá e piorava de novo. Chegou um momento em que a gente simplesmente não deu mais alta”, conta a veterinária Thalita Scaff, que acompanhou toda a trajetória da felina.
Com o apoio dos funcionários e até um “abaixo-assinado” simbólico, os sócios da clínica aceitaram a adoção definitiva. Chiquinha estava oficialmente contratada como moradora fixa da UTI veterinária.
Chiquinha assumiu naturalmente o papel de chefe. Circula pelos setores como se estivesse inspecionando o trabalho, exige petiscos nos horários certos e, se alguém ocupar sua cadeira, ela simplesmente fica encarando até a pessoa ceder o lugar.
“Ela manda na gente. Se quer carinho, alguém tem que atender. Se está na cadeira dela, tem que levantar. E se ela quer petisco, não adianta ignorar, ela vai cobrar”, brinca Thalita.
Com o título de gerente-geral oficializado, Chiquinha ganhou até um crachá personalizado, com foto, nome e cargo. No Instagram, tem seu dia a dia compartilhado.
Apesar das dificuldades que enfrentou, Chiquinha tem hoje uma vida cheia de carinho e atenção. Os funcionários garantem que suas fraldas estejam sempre limpas, usam produtos específicos para evitar assaduras e monitoram sua saúde de perto.
Graças à dedicação da equipe e ao suporte dos sócios da clínica, que bancam todas as despesas médicas e insumos, a felina tem uma qualidade de vida que poucos animais resgatados alcançam.
“Ela mora na clínica, então, qualquer sinal de problema, a gente percebe na hora e já começa o tratamento. É como se ela tivesse atendimento veterinário 24 horas por dia, dentro da própria casa”, finaliza Thalita.

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