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Na Íntegra

Não é o rio seco que preocupa, é o rio vermelho! Empresário fala sobre Bonito

Eduardo Coelho fala sobre problemas da cidade. Lixo e sítios de lazer no Formoso são os que mais preocupam

Por Glaura Villalba | 02/07/2024 17:44

Recentemente, imagens de um trecho do Rio da Prata completamente seco viralizaram nas redes sociais e soaram como uma denúncia de degradação do meio ambiente. O empresário Eduardo Folley Coelho que, há 25 anos, mantém empreendimentos turísticos na região, entre eles, o Recanto Ecológico Rio da Prata, afirma que essa é uma questão que não gera preocupação. Para quem conhece a área há muitos anos e é envolvido com a questão ambiental, a explicação é simples.

“A região é como se fosse um queijo suíço Como está com pouca água, esse ano choveu aproximadamente 40% a menos do que a média até agora, essa parte alta, onde secou, está passando toda por debaixo do solo. O rio da Prata tem mais que 50 km no seu trecho total, e o trecho que está seco, deve ter uns 4 ou 5km somente. As nascentes do rio da Prata, que estão no banhado da Prata, estão ativas, estão mandando água”.

Mesmo tranquilo em relação ao rio da Prata, o empresário confirma que esse ano a seca veio bem mais rigorosa, “O nível da Lagoa Misteriosa, por exemplo, vem baixando já faz uns 3 anos, e a gente está nessa situação porque o lençol freático está rebaixando, mas isso é cíclico”, explica. Segundo Eduardo, chuvas muito fortes e em menor frequência por ano contribuem para um cenário que não é bom nem para a pecuária e nem para o Turismo, porque o rio turva um pouco mais.

Ele lembra que em 2018, o rio da Prata ficou com as águas totalmente vermelhas, por conta de duas chuvas seguidas e muitos fortes que atingiram uma área grande que um proprietário rural estava convertendo para a soja, e não tinha dado tempo de fazer as curvas de nível. Foi quando o Rio da Prata ficou vermelho, algo que nunca tinha acontecido.

“Em função daquilo, houve uma série de medidas positivas, o Governo acabou se sensibilizando, depois de bastante pressão da sociedade”, completa. Ele usa esse exemplo para mostrar que é possível fazer com que algo negativo se converta em medidas que tragam desenvolvimento.

“Então, quando aparece um problema, a gente tem que fazer do limão uma limonada e tentar envolver todo mundo, sem ficar apontando o dedo porque, via de regra, os problemas são multifatoriais e a gente precisa do apoio das pessoas para resolver”, afirma o empresário.

Formoso – A maior preocupação de Eduardo, como empresário e Presidente do IASB – Instituto das Águas da Serra da Bodoquena, ONG criada em 2002 para conservar as águas da Serra da Bodoquena, é o rio Formoso, que ele chama de rio do coração dos bonitenses.

“O Governador fez um plano de trabalho para o rio Formoso porque é o rio que está piorando”, revela.

Ele faz duras críticas a uma parte da população que polui as águas de córregos e do rio que cruza a cidade. A área urbana de Bonito está na Bacia do Rio Formoso e essa proximidade da civilização tem gerado muitos problemas.

“A quantidade de lixo dentro dos córregos é muito grande. Então, a gente precisa de uma conscientização maior da população com a questão do lixo. Tem uma boa coleta de lixo, tem reciclagem, mas uma parte da população não colabora. O principal problema hoje nosso é urbano”.

Mas não é só, os sítios de lazer são outro sério problema na visão do empresário. Segundo Eduardo, hoje são quase 500, só no município de Bonito, e em muitos deles ocorre desmatamento na mata ciliar, o que é proibido. Além disso, ele cita também o descuido com as estradas que dão acesso a esses condomínios e a construção, por parte dos proprietários, de sistemas de esgoto fora dos padrões da legalidade, o que acaba contaminando as águas do Formoso.

O empresário aponta como soluções para os sítios de lazer: medidas de conservação do solo nas estradas de acesso, o replantio em áreas de APP (Áreas de Preservação Permanente) que foram destruídas, exigir dos proprietários um sistema de esgoto adequado que não mande nada para o rio e captação de água somente com outorga. “Pode parecer que o Formoso tem muita água, mas ele não tem tanta água assim. Tem uma Lei municipal que proíbe a captação no Rio Formoso para o abastecimento de água de Bonito”, esclarece.

O empresário também acredita que o poder público vai abraçar essa causa. “O Governo está comprometido e eu acho que provavelmente vai baixar uma legislação que dificulte um pouco mais o parcelamento”.

Mimoso - Quanto ao Mimoso, Eduardo afirma que um projeto chamado “Águas de Bonito” que começou cerca de 4 anos atrás, mudou a realidade desse rio. “Hoje, o Mimoso está com mais água porque as nascentes estão segurando mais e fica muito menos turvo do que antes. Já trabalhamos no Alto Mimoso, agora vamos para o médio e quando chegar no baixo, a situação vai ser um pouco mais complicada porque lá, tem muitas propriedades pequenas, o solo é mais arenoso, mais fácil de ir para o rio, tem bastante pecuária e mais áreas degradadas”, explica.

“Até pouco tempo atrás, todos colocavam a culpa dos problemas de Bonito na soja, a monocultura da soja, mas para isso já existe um decreto que exige a conservação do solo e que foram mais de 100 mil ha na Bacia do Prata, do Formoso e do Betione e isso é muito significativo. Tanto que o rio do Prata, o Betione e o Mimoso estão turvando muito pouco, agora. Já melhorou demais com essas medidas e o Governo anterior também fez uma Lei que protegeu o banhado. Então a gente está avançando”.

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