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Cantina Saudável, a gente apoia essa ideia!

Mariana Balestrin, Vanessa Ramos e Mario Bernardes Wagner (*) | 29/04/2022 13:30

As escolas configuram-se ambiente ideal para promover e reforçar comportamentos saudáveis e prevenir ou reduzir o ganho de peso. Esse cenário natural favorece a aplicação de programas eficazes de nutrição que apoiem as escolhas saudáveis.

Diversos estudos, no entanto, têm demonstrado que as escolas, em especial as privadas, possuem ambientes alimentares obesogênicos, muitas vezes relacionados ao grande comércio, com disponibilidade de alimentos ultraprocessados e ausência de alimentos in natura. Diante disso, a eliminação do fornecimento ou da venda de alimentos não saudáveis, como bebidas açucaradas e alimentos ricos em energia e pobres em nutrientes, e a inclusão de conhecimentos sobre nutrição e educação em saúde no currículo básico das escolas é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2008, 2016).

O projeto “Segurança alimentar em cantinas escolares dos municípios do território da cidadania do noroeste colonial/RS: diagnóstico e intervenção” ficou entre os primeiros lugares em edital de fomento a pesquisas com ações de extensão que envolvessem a temática da Segurança Alimentar e Nutricional pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) no ano de 2017. A pesquisa inovou ao propor a promoção da segurança alimentar e nutricional em cantinas escolares com a geração de vários produtos e processos.

A primeira produção foi a criação de um aplicativo para auxiliar na coleta, na análise, na interpretação e no monitoramento das informações para a implementação de cantinas saudáveis.

O aplicativo processa os dados em informações úteis para a tomada de decisões na análise do risco sanitário e da qualidade dos alimentos ofertados nas cantinas escolares. Cantina Survey foi desenvolvido e registrado como patente de programa de computador junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sob o número BR512019002503-2.

Nesse projeto, elaboramos um curso a distância, de maneira que ele contemplasse o público de toda a comunidade escolar. Os conteúdos priorizaram conceitos atuais preconizados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, por legislações sanitárias nacionais para a promoção de práticas seguras de manipulação de alimentos e legislações regionais sobre o que é incentivado e proibido comercializar nesses locais.

Com o objetivo de orientar a comunidade escolar (pública e privada), de maneira prática, a transformar sua cantina em um ambiente saudável, o curso, com carga horária total de 160 horas, foi planejado totalmente na modalidade de Ensino a Distância (EaD), disponibilizado na Plataforma Moodle da Universidade Federal de Santa Maria e via WhatsApp dos participantes (facilitando o acesso para todos os cursistas). O projeto foi desenvolvido com apoio de tutores, que tiveram o papel de auxiliar e tirar dúvidas quando eram diagnosticadas dificuldades no processo.

O curso teve conteúdos dinâmicos e atuais, com aulas expositivas, textos, vídeos e atividades sobre a alimentação saudável nas escolas. Além disso, teve suas ações direcionadas para transformar uma cantina escolar em um local que promove a saúde. Um fórum de discussão foi desenvolvido para cada módulo a fim de incentivar o aprendizado, trocar experiências, além de fornecer suporte e instigar a interação da comunidade.

A realização desse projeto contou com uma equipe composta por especialistas e estudantes da educação superior: 8 professores, 1 aluno de doutorado e 4 de graduação, provenientes da Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Passo Fundo e Universidade de Assunción (Paraguai). Esses integrantes foram responsáveis pelas seguintes ações: elaboração dos instrumentos a serem utilizados no projeto, criação do aplicativo, coleta de dados, registro do projeto no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC). Os alunos e professores estiveram envolvidos na criação dos módulos, dos convites e da inscrição para participação, contato e tutoria com os participantes do curso, análise das participações e envio dos certificados.

O curso, considerado uma intervenção de Educação Alimentar e Nutricional, foi avaliado por meio de um ensaio clínico e utilizou como ferramenta para coleta de dados um aplicativo criado para esse fim.

Para avaliar o efeito do curso, foi realizado um estudo controlado randomizado, que teve seu protocolo aprovado pelo Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC) sob o número RBR-9rrqhk. O protocolo do estudo também está publicado na revista internacional JMIR Research Protocol.

Com a conclusão do projeto em 2019 e o início da pandemia, o curso foi disponibilizado para a grande população por meio das mídias sociais e do Instagram @cantinasaudavel.curso. Tivemos uma alta demanda de inscrições, que se encerraram em 10 dias. Foram inscritos na Plataforma Moodle 1.243 participantes.

Além disso, houve a participação em vários eventos com o intuito de divulgar o projeto e promover o engajamento científico inerente à formação do grupo de pesquisa. Dois artigos estão publicados e outros dois foram aceitos para publicação. O curso também foi transformado em livro, aprovado para divulgação, cujo objetivo é oferecer meios para a comunidade escolar promover uma alimentação saudável e adequada. Esse projeto contribuiu para a difusão e transferência de conhecimento, no sentido de gerar conhecimento técnico e, ao mesmo tempo, passá-lo à comunidade que mais necessita, atendendo às demandas de ensino, pesquisa e extensão.

(*) Mariana Balestrin é responsável técnica pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) no município de Caiçara e doutora pelo Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGSCA/UFRGS).
(*) Vanessa Ramos Kirsten é professora do curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
(*) Mario Bernardes Wagner é professor do Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (PPGSCA/UFRGS).

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