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Mudanças climáticas e as metas para os próximos 10 anos

Por Rafael Amaral Shayani (*) | 20/11/2024 08:37

Apesar de parecer que as nações estão avançando no diálogo sobre as mudanças climáticas, as ações estão, praticamente, estagnadas por conta de velhos paradigmas utilizados pelos governantes. A prática de definir metas a serem alcançadas somente daqui a 10 anos pode parecer algo positivo, mas serve apenas para reduzir a urgência do momento.

As mudanças climáticas foram negadas por muito tempo e, quando a ciência previa que o aquecimento global afetaria drasticamente a forma como vivemos, os governantes sempre consideraram que este é um problema para as gerações futuras, logo as ações de curto prazo podem esperar.

Entretanto, a mudança climática bateu à porta do planeta e entrou sem demora. Os eventos climáticos extremos estão cada vez mais comuns, causando danos tanto materiais quanto tirando a vida das pessoas atingidas.

Apesar disto, os países insistem em continuar com a visão de que somente ações a serem estabelecidas a longo prazo são suficientes. O financiamento climático, foco principal da COP29, foi concebido em 2009 durante a COP15, realizada em Copenhague, para ser iniciado 10 anos depois, o que não aconteceu e até hoje gera debate. As metas de zerar o desmatamento no Brasil foram feitas na COP27 (em 2022 no Egito, pelo então presidente eleito Lula) são para serem atingidas somente em 2030. É muito confortável apresentar metas vagas de emissões nulas para 2050, data em que a maioria dos políticos já estarão aposentados e não mais responderão pelos resultados prometidos. O próprio Brasil está falhando em alcançar as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa para 2025, que foram prometidas 10 anos atrás, no Acordo de Paris. De modo alheio ao processo, o Brasil apresentou na COP29 novas metas, ainda mais ousadas, de redução de 67% as emissões, para 2035 (daqui 10 anos).

Há um aspecto da emissão de gases de efeito estufa que é extremamente sério, mas parece não ter causada ainda o impacto necessário. Mesmo que as metas de emissões zero para 2050 sejam atingidas (mas que não há indicação atual de que realmente serão alcançadas), mesmo neste caso, os eventos climáticos extremos irão piorar ano após ano até 2050. Uma vez que, mesmo com emissão menor, o mundo continuará a liberar gases de efeito estufa na atmosfera, aumentando a temperatura média do planeta. Isso requer ações imediatas para redução drástica das emissões, e não promessas para daqui a 10 anos.

Outro aspecto que neutraliza o poder de ação de muitos países, inclusive o Brasil, é a tradicional visão de que a redução das emissões impactará o crescimento econômico, algo indesejado por todos os governos. No discurso, todos são favoráveis à reutilização de produtos e reciclagem, mas, na prática, o estímulo é para a sociedade aumentar o consumo para gerar crescimento econômico e empregos. Se as pessoas reusarem e reciclarem mais, vão comprar menos e podem desaquecer a economia, um dos motivos pelo qual as metas não são, de fato, estimuladas pelos governos.

Não é suficiente apenas discutir sobre o financiamento climático. O modo de vida atual exige do planeta mais do que ele é capaz de regenerar. Não adianta apostar apenas na tecnologia, que com sistemas de energia limpa todo o problema se resolverá, se não houver uma mudança de mentalidade da população. O consumismo desenfreado precisa dar lugar à moderação, onde uma sociedade mais cooperativa consumirá menos, gerará menos resíduos, e novos mercados serão criados, especialmente de reciclagem, fazendo com que a economia circular gere novos empregos.

Mudança climática se combate com cidadania mundial. Enquanto o Brasil continuar comparando suas emissões com as da China e as dos Estados Unidos, sempre achará uma justificativa para não tomar as medidas necessárias. É como se um aluno tirasse 3 em uma prova que vale 10, e ficasse se gabando de ter ido melhor que os alunos que tiraram 1 na mesma prova.

Mas nem tudo é negativo. As mudanças climáticas geraram um ambiente propício para que as nações pudessem se reunir, ano após ano, e pensar na Terra como um só país, e os seres humanos seus cidadãos. Este tremendo desafio climático que temos à nossa frente fez com que o mundo desse um passo adiante em direção à unidade mundial, essencial para tratar de diversas outras mazelas globais, tais como a fome e a miséria. Esta é a oportunidade que se afigura para os governantes: repensar o mundo para promover justiça, paz e unidade!

(*) Rafael Amaral Shayani é professor do Departamento de Engenharia Elétrica, da Universidade de Brasília. Doutor em Engenharia Elétrica pela UnB.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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