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Segure sua língua

Por Cristiane Lang (*) | 15/09/2025 08:30

Vivemos em uma época em que a palavra foi banalizada. Redes sociais, conversas rápidas, discussões em família, ambientes de trabalho — tudo se tornou palco para opiniões instantâneas, muitas vezes vomitadas sem filtro, sem reflexão, sem empatia. O ato de falar parece, para muitos, mais urgente do que o de pensar. Mas a verdade é que cada palavra solta carrega peso, impacto, consequência. E, por mais que nos esqueçamos disso, tudo o que dizemos tem o poder de construir ou de destruir.

Há pessoas que confundem sinceridade com grosseria, achando que dizer tudo o que pensam é sinônimo de autenticidade. Não é. A autenticidade se expressa no equilíbrio: saber falar quando necessário, mas também saber calar quando o silêncio é mais nobre. A língua solta pode ferir mais profundamente que qualquer gesto físico, e muitas vezes é justamente o impulso de “dar opinião” que abre feridas que poderiam ter sido evitadas.

O hábito de opinar sem relevância é, em grande parte, fruto de vaidade. Há quem fale não para acrescentar, mas apenas para ser ouvido. Como se a necessidade de marcar presença no diálogo fosse maior do que a de contribuir de fato. O resultado? Conversas superficiais, críticas vazias, comentários que em nada acrescentam. É como jogar fumaça em um ambiente já nebuloso.

Existe uma sabedoria antiga que diz: se você não tem nada de bom, construtivo ou interessante a dizer, segure sua língua. Não se trata de repressão ou de negar sua voz, mas de entender que nem todo pensamento precisa ser externalizado. Guardar certas opiniões não significa covardia, mas maturidade. O silêncio, muitas vezes, protege relacionamentos, preserva ambientes e nos livra do arrependimento. Quantas vezes já não pensamos: “eu não deveria ter dito isso”? Pois é. O que não foi dito jamais precisará de remendo.

Falar exige responsabilidade. Antes de abrir a boca, é necessário se perguntar: o que vou dizer vai ajudar, inspirar, orientar ou ao menos trazer clareza? Ou será apenas mais uma crítica infundada, mais um comentário jogado ao vento, mais uma ironia disfarçada de humor? Palavras podem ser bálsamo, mas também podem ser veneno.

Em contrapartida, o silêncio é subestimado. Ele não é ausência, mas escolha. Escolha de não alimentar fofocas, de não perpetuar discussões inúteis, de não envenenar ambientes. O silêncio, quando bem utilizado, é ferramenta de sabedoria, uma forma de respeito ao outro e também a si mesmo.

Claro, existem momentos em que é preciso falar — e falar com firmeza. Denunciar injustiças, expor limites, declarar amor, orientar quem pede ajuda. Mas fora dessas situações, em que a palavra tem propósito, talvez a melhor atitude seja guardar para si. Afinal, o mundo já está cheio de ruídos. O que falta é profundidade.

Portanto, segure sua língua. Antes de despejar palavras em alguém, pense: “Isso vai edificar ou destruir? Vai aproximar ou afastar? Vai acrescentar ou apenas inflar meu ego?” Se a resposta não for positiva, cale-se. O silêncio, nesses casos, não é vazio: é força.

E, paradoxalmente, quanto mais aprendemos a calar, mais nossas palavras passam a ter valor. Quem fala pouco, mas com sabedoria, é ouvido com mais atenção. Quem opina somente quando há sentido, constrói credibilidade. Quem respeita o silêncio aprende que a língua pode ser usada como ponte, não como arma.

Porque, no fim, a lição é simples: falar por falar é fácil, mas saber calar é arte.

(*) Cristiane Lang, psicóloga especializada em oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.