Estudo coloca MS entre os estados com mais órfãos da pandemia de covid-19
Estado registra 3,8 crianças sem pais a cada mil, índice superior à média nacional, segundo levantamento

Em março de 2021, Raniele Cação morreu vítima da Covid-19 em Campo Grande, enquanto estava grávida do segundo filho do casal, deixando Antônio João, de 39 anos, sozinho com o filho Henrique, que à época tinha 4 anos. Quatro anos depois, o pai transformou a dor em propósito e deu continuidade ao sonho que compartilhava com a esposa. O “Espeto do Quiquinho”, empresa que ainda funciona como legado da família.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul registrou uma das maiores taxas de orfandade por covid-19 no Brasil, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes, ficando atrás apenas de Mato Grosso e Rondônia. O dado faz parte de um estudo realizado por pesquisadores do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. A pesquisa revelou que 284 mil crianças e adolescentes brasileiros perderam pais ou cuidadores devido à covid-19 entre 2020 e 2021. O impacto foi maior em famílias de trabalhadores da limpeza, transporte e alimentação, setores mais expostos ao vírus e com menor possibilidade de isolamento social.
Esse caso descrito acima reflete um fenômeno nacional: além das mais de 700 mil mortes diretas pela covid-19, a pandemia deixou um rastro silencioso de sofrimento, com 284 mil crianças e adolescentes órfãos ou que perderam cuidadores entre 2020 e 2021. Pesquisa realizada por pesquisadores do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos indica que Mato Grosso do Sul teve uma das maiores taxas de orfandade do país, com 3,8 crianças órfãs a cada mil habitantes, atrás apenas de Mato Grosso (4,4) e Rondônia (4,3).
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O estudo, divulgado este mês e publicado no site da Agência Brasil, estimou que 1,3 milhão de menores de 0 a 17 anos perderam ao menos um cuidador por diferentes razões durante a pandemia. Desse total, 284 mil ficaram órfãos em decorrência direta da covid-19, sendo 149 mil filhos que perderam pai, mãe ou ambos, e 135 mil que perderam outro familiar responsável pelo cuidado.
“Queríamos olhar para a vulnerabilidade das pessoas que dependiam de quem faleceu”, explica Lorena Barberia, professora da USP e uma das autoras do estudo. “Muitos idosos tinham papel central na estrutura familiar, e muitas crianças e adolescentes dependiam deles. É importante estimar não apenas a perda de pais e mães, mas também desses cuidadores.”
Os dados mostram grandes disparidades regionais: enquanto Santa Catarina (1,6) e Pará (1,4) registraram índices mais baixos, regiões do Centro-Oeste e Norte concentraram os maiores casos proporcionais. A desigualdade também se refletiu no perfil socioeconômico: a maioria dos órfãos era filha de trabalhadores da limpeza, transporte, alimentação e setor informal, mais expostos ao vírus e com menor possibilidade de isolamento.
Segundo a promotora Andréa Santos Souza, coautora do estudo, a dificuldade financeira é o impacto imediato mais comum. “Essas crianças estavam ficando órfãs sem representação legal”, relata. Além da perda, muitas foram expostas a violações de direitos, como separação de irmãos, adoções ilegais, trabalho infantil, casamentos precoces e exploração sexual.
O levantamento também utilizou dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, que apontou que 12,2 mil crianças de até seis anos ficaram órfãs entre março de 2020 e setembro de 2021. O sistema de registro civil brasileiro, que vincula o CPF dos pais ao dos filhos desde 2015, permitiu um retrato mais preciso do impacto.
Mesmo após o fim da pandemia, as pesquisadoras alertam para a necessidade de políticas públicas específicas voltadas a esses órfãos. “Essas crianças não desapareceram quando a pandemia acabou. Elas continuam precisando de apoio social e psicológico”, reforça Barberia. “É um novo grupo vulnerável que o Brasil precisa enxergar.”
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