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Cidades

Poliomielite corre risco de ser reintroduzida no Brasil

O Campo Grande News já alertou sobre a baixa cobertura vacinal contra a polio nos últimos anos

Lucia Morel | 05/05/2022 16:48
Menina que acabara de receber dose de vacina em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Menina que acabara de receber dose de vacina em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Fernando Verani, que é epidemiologista da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública) da entidade, afirma que o Brasil corre grande risco da poliomileite, erradicada em 1994 no país, seja reintroduzida e recomece a fazer vítimas. Isso devido a baixa cobertura vacinal contra a doença nos últimos anos e sua circulação, ainda existente, em outros países.

“Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, há o risco de importação da doença. É um vírus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmissível do que o Sars-CoV-2, por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal, e é urgente se fazer algo. Não podemos esperar acontecer a tragédia da reintrodução do vírus para tomar providências”, afirmou.

O Campo Grande News já alertou sobre a baixa cobertura vacinal contra a polio nos últimos anos e mais recentemente contra o sarampo. Nas matérias, já se falava desse risco e ainda, da necessidade em se manter níveis adequados de vacinação.

De acordo com Fernando Verani, também é motivo de preocupação a pouca eficiência nas estratégias de vigilância da doença para a contenção de possíveis surtos.

“Há cerca de três anos, os protocolos de vigilância epidemiológica ficaram enfraquecidos no Brasil. Eles têm a finalidade de detectar e prevenir as doenças transmissíveis. As amostras de esgoto das cidades não têm sido recolhidas com a frequência esperada, e não há a notificação e investigação constante de possíveis casos de paralisia flácida aguda. O país possui os recursos e a expertise para manter a polio erradicada, mas não está tomando as ações necessárias”, disse o pesquisador.

Onde há - os motivos para o alerta, além da baixa cobertura vacinal, há ainda a circulação do vírus presente em outros países. Em fevereiro de 2022, as autoridades do Malawi, na África, declararam um surto de poliovírus selvagem tipo 1, após a doença infecto-contagiosa ser detectada em uma criança de 3 anos.

A menina sofreu paralisia flácida aguda, uma das sequelas mais graves da enfermidade, a qual, muitas vezes, não pode ser revertida. Lá, o caso foi rapidamente identificado e a população local foi revacinada contra a poliomielite, impedindo uma epidemia viral.

O último caso de poliomielite no país africano havia sido notificado em 1992, e a África toda declarada livre da doença em 2020. A cepa do vírus responsável por esse caso está geneticamente relacionada à cepa circulante no Paquistão, um dos dois países do mundo, junto com o Afeganistão, onde a pólio continua endêmica.

O risco é a importação da doença e o sistema de saúde não conseguir agir com a rapidez necessária para reprimir sua disseminação. “Se o vírus for reintroduzido e não houver uma notificação rápida do caso, podemos ter uma epidemia. Com as baixas coberturas vacinais que temos hoje, as crianças estão desprotegidas. Podemos ter centenas ou milhares de crianças paralíticas como consequência”, advertiu Verani.

Juntamente com os demais países da Região das Américas, o Brasil foi certificado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como livre da poliomielite no ano de 1994.

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