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Cidades

Reprovados na PM reclamam de condições da prova e falta de isonomia

Candidatos relatam desorganização, falta de água e horários desfavoráveis em provas de aptidão física

Guilherme Correia | 09/08/2023 14:03
Candidatos e até famílias na fila para entrar no TAF durante a madrugada (Foto: Direto das Ruas)
Candidatos e até famílias na fila para entrar no TAF durante a madrugada (Foto: Direto das Ruas)

O TAF (Teste de Aptidão Física) para ingresso na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul tem gerado polêmica e insatisfação, sobretudo entre candidatos que não conseguiram atingir desempenho mínimo necessário para aprovação. Os relatos são de condições inadequadas, falta de isonomia e irregularidades no processo seletivo.

Um candidato, que preferiu não se identificar à reportagem, afirma que já havia realizado o teste em outros estados e, em comparação, o processo sul-mato-grossense deixou a desejar. Segundo ele, a prova não foi justa. “Teve irregularidades do início ao fim. Nos primeiros dias, não puderam levar água. Liberaram a água depois e só deram horário de início. Cada dia chegavam mais cedo para não correr muito tarde, mas não adiantou, porque demorava entre as baterias”.

Ele comenta que candidatos relataram ter ficado horas na fila, com falta de água e condições inadequadas. "No início, não puderam levar água, não liberaram os candidatos para beber água e os horários de início eram demorados".

O candidato destacou que as condições adversas afetaram seu desempenho e saúde, citando a pressão arterial elevada e riscos de sofrer um ataque durante a prova. “O médico mesmo disse que eu poderia ter morrido e o que atrapalhou foi o fato de não ter dormido das 2h da madrugada e ficar até as 9h da manhã para correr. Minha pressão estava quase 15 à tarde”.

“A tenda era só para receber instrução antes das provas. Até então, tinha que ficar em pé horas antes. Em um dia que deveria tomar água toda hora e, consequentemente, ir ao banheiro, não foi permitido. Quando liberava, era uma ida rápida só antes da prova. No meu caso, que precisei ir, fui punido sendo trocado de bateria e consequentemente correndo uma hora depois. Uma mulher responsável por organizar os candidatos zombava da situação, falava que a mídia exagera demais e que eles iriam deixar ir ao banheiro, mas só no tempo deles, para não ser bagunçado”.

O estudante Matheus Moreira fez o TAF em outras ocasiões, inclusive para a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e apontou a falta de isonomia entre os candidatos como um dos problemas enfrentados. “Desta vez faltou 300 metros na corrida, mas os demais testes fiquei apto”.

“A prova não teve isonomia entre os candidatos, pois quando souberam que seria por ordem de chegada, a maioria chegou às 2h e 3h da madrugada para correr no tempo fresco, pois sabiam que a pista do teste é ruim. Eu cheguei às 3h50 e corri às 10h30 do sábado”.

Moreira relatou que o horário de realização da prova influenciou significativamente o desempenho, uma vez que a pista de corrida em terra batida se tornava mais desafiadora em horários com maior temperatura e umidade do ar. Além disso, a ausência de água durante a corrida prejudicou vários candidatos. Ele comparou com testes realizados em outros estados, onde as condições climáticas e as pistas de corrida eram mais favoráveis.

“Os testes em outros estados são em climas bem praticável e em pistas de borracha ou asfalto. Na minha bateria, a água era por conta do candidato, mas quase todo mundo ficou sem água, já que ficamos desde 3h da madrugada esperando para correr. A água que eles davam era apenas no final da corrida e não durante ela, embora muitos candidatos levaram para correr, o que era proibido, e isso beneficia quem levou água durante a corrida”.

Um gerente administrativo, de 30 anos, denunciou a desorganização e falta de imparcialidade no processo. Ele destacou a disparidade nos horários de realização dos testes, com alguns candidatos realizando as provas sob condições climáticas mais amenas, enquanto outros enfrentam o calor extremo. “A ansiedade de todos fez com que os candidatos chegassem um dia antes da prova para não correr sob extremo calor”.

“Chegamos às 2h do dia 5 e fiz os testes a partir das 9h, não seguindo as orientações que o próprio edital pedia, de oito horas de sono e descanso”.

Além disso, apontou que o tempo de espera em filas e a falta de acesso ao banheiro afetaram negativamente o rendimento dos candidatos. Ainda, citou a falta de água disponível e a imparcialidade na cobrança dos testes como problemas recorrentes. "Condições insalubres e falta de organização nas filas. Uma fiscal ficava o tempo todo avisando que não poderíamos ir ao banheiro, ficamos em pé cerca de cinco horas enfrentando filas”.

“No sábado, havia disponibilidade de água após a corrida, devido à morte do candidato no dia anterior, mas outros candidatos que realizaram os testes durante a semana já haviam nos alertado que não estavam deixando beber água até o momento da prova, o que gerou um efeito ‘manada’ em todos, dificultando assim o rendimento nos exercícios, fora a imparcialidade na cobrança e falta de isonomia nos testes cobrados”.

A prova - O TAF é a 4° fase do concurso da PM e ocorreu no Centro Poliesportivo da Vila Nasser. No teste de aptidão física, os candidatos passam por três testes: elevação na barra fixa, 32 abdominais e corrida de 2,4 mil metros, que deve ser completada em até 12 minutos. Quem não completa qualquer um desses testes é reprovado.

As condições climáticas intensificaram as dificuldades da prova. Ao menos cinco candidatos passaram mal no último dia de teste. Candidata que desmaiou relatou que ficou cinco horas no sol.  Arthur Matheus Martins Rosa, de 25 anos, morreu após a prova.

A reportagem do Campo Grande News consultou o Idecan (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional), responsável pela prova, para saber se tinha algum profissional responsável por monitorar as condições de tempo da prova.

Em nota anterior, o Instituto disse que "para participar do TAF, todo candidato é obrigado a apresentar atestado médico e exames assinados por profissionais de saúde de sua confiança". Há mais de 40 dias, o Idecan disponibilizou o cronograma para a preparação dos candidatos, que deveriam percorrer 2.400 metros em 12 minutos para serem aprovados, conforme prevê o edital elaborado pela comissão do concurso.

"O objetivo do teste é selecionar profissionais com capacidade física mínima para atuarem no cotidiano da segurança pública. Nos dias dos testes, a banca dispõe de tendas com cadeiras e água para abrigar os participantes que aguardam o exame. O mais importante: duas ambulâncias com equipes médicas ficam estrategicamente posicionadas nas extremidades da pista para prestar os primeiros socorros".

O governo de Mato Grosso do Sul respondeu à reportagem que "a lamentável morte ocorrida durante o TAF realizado como parte do concurso para a Polícia Militar na última sexta-feira" é apurada pela Polícia Civil, que "iniciou os trâmites legais e dará os encaminhamentos devidos quando da conclusão do inquérito policial".

A SAD (Secretaria Estadual de Administração) informou que na quarta-feira (9) se reuniu com a comissão do certame para elaboração de relatório de avaliação desta etapa do processo de seleção.

"O governo estadual reafirma seu compromisso com a transparência e uma apuração célere e isenta, que não permita novas tragédias e lamenta, novamente, profundamente a perda de uma jovem vida em busca de um sonho, unindo-se em solidariedade à enlutada família".

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(*) Matéria editada às 15h08 de 10 de agosto para acréscimo de informações.

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