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Cidades

Sem papel higiênico e com paredes mofadas, alunos engrossam reclamações na UFMS

Na Cidade Universitária, alunos também reclamam da qualidade do almoço servido

Por Jéssica Fernandes | 03/05/2024 12:27
Na UFMS, bloco está com sinais de mofo e infiltração nas paredes. (Foto: Marcos Maluf)
Na UFMS, bloco está com sinais de mofo e infiltração nas paredes. (Foto: Marcos Maluf)

Enquanto os professores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) paralisaram as aulas devido à reivindicação salarial, os acadêmicos também têm uma lista de exigências que ‘engrossam’ o coro de descontentamento em relação à instituição. De papel higiênico a parede com mofo, os estudantes apontam problemas de estrutura e manutenção que persistem semestres a fio.

A equipe de reportagem esteve no campus de Campo Grande, onde conversou com diversos alunos. De diferentes cursos, os jovens relatam uma série de precariedades que, desde que pisaram pela primeira vez na UFMS, nunca foram completamente resolvidas.

Acadêmica do sétimo semestre de Direito, Bárbara Pereira, de 20 anos, assiste às aulas no Complexo Multiuso. No bloco, a jovem comenta que os dois banheiros femininos não oferecem papel higiênico. Nos quatro anos que está na UFMS, ela diz que a falta do material é frequente. “O banheiro não tem papel e você tem que ficar pedindo. É uma questão bem complicada, mas o que me incomoda mesmo é a limpeza precária. É feita, mas fica aquele fedor, o chão feio”, relata.

Acadêmico de Direito, Rodrigo Benites reclama da falta de papel. (Foto: Marcos Maluf)
Acadêmico de Direito, Rodrigo Benites reclama da falta de papel. (Foto: Marcos Maluf)

Nos banheiros masculinos, o cenário não é diferente, mas já foi pior. É o que afirma o acadêmico do sétimo semestre de Direito, Rodrigo Benites, de 21 anos. “O banheiro masculino já foi pior porque quando voltamos para o presencial não tinha piso no chão. Não tem sabonete em muitos dias, papel para secar a mão. A gente só molha a mão porque é o jeito”, explica.

Outro apontamento do estudante é em relação ao bloco 6, que fica próximo à Biblioteca Central. Além disso, os banheiros masculinos também apresentam problemas. “Sempre inunda quando chove e fica uma cachoeira lá dentro. Não melhora. O banheiro lá é pichado, estragado, é malconservado”, diz.

A situação dos corredores alagados do bloco 6 foi exposta em mais de uma reportagem do Campo Grande News. Em 2023, a reportagem mostrou os estragos que a chuva fez no mês de março. Em 2019, um vídeo encaminhado pelo Direto das Ruas mostrou que as salas de aula também ficaram alagadas.

No bloco seis, pia do banheiro está com uma cuba faltando. (Foto: Jéssica Fernandes)
No bloco seis, pia do banheiro está com uma cuba faltando. (Foto: Jéssica Fernandes)
No bloco seis, ralo do banheiro feminino está aberto.(Foto: Jéssica Fernandes)
No bloco seis, ralo do banheiro feminino está aberto.(Foto: Jéssica Fernandes)
No mesmo bloco, banheiro masculino está sem papel e com dispenser quebrado. (Foto: Marcos Maluf)
No mesmo bloco, banheiro masculino está sem papel e com dispenser quebrado. (Foto: Marcos Maluf)

A reportagem esteve no bloco 6, onde observou que no banheiro feminino não tem dispenser para sabonete líquido e uma das portas está com o trinco estragado. Para completar, a pia está com uma das cubas faltando e tem um ralo aberto no chão.

No banheiro masculino, algumas pichações se sobrepõem à pintura das portas. Próximo à pichação foi registrado um dispenser de papel higiênico, que além de estragado também estava sem o material para higienização pessoal. Em uma das entradas do bloco, a reportagem flagrou dois canos soltos no chão.

Do outro lado do campus, alunos da Facom (Faculdade de Computação) expõem outros problemas. Vinicius Fontes de Andrade, de 18 anos, comenta que falta manutenção nos banheiros do RU (Restaurante Universitário). “Você abre a torneira, mas sai muita água e inunda a pia. Aí começa a pingar embaixo. No banheiro masculino também não tem luz”, fala.

No Complexo Multiuso, o mofo dominou parte do teto. (Foto: Marcos Maluf)
No Complexo Multiuso, o mofo dominou parte do teto. (Foto: Marcos Maluf)

Acadêmico de Engenharia de Computação, Pedro Henrique Viana Alves, de 18 anos, menciona que o Multiuso está com goteiras na estrutura interna. “Estão caindo umas goteiras nas escadas e meu amigo quase escorregou esses dias. No meio da escada tá caindo uma água ali e é perigoso”, destaca.

Outra reclamação dos alunos é em relação ao almoço servido no RU. Ana Luiza, de 19 anos, afirma que não é uma questão de gosto, mas sim em relação à qualidade dos insumos usados no preparo das refeições. “É a qualidade e realmente tem dias que não dá para comer. Principalmente nos dias de linguiça e carne de porco”, comenta.

Em 2024, a UFMS cobra o valor de R$ 15 dos alunos que almoçam na Cidade Universitária. O preço é R$ 3 para os acadêmicos contemplados pelo CadÚnico (Cadastro Único), que é o instrumento utilizado para todas as ações sociais de governos e municípios. O CadÚnico beneficia os estudantes que atendem alguns critérios, como renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa da família; ou renda mensal familiar total de até três salários mínimos; ou renda maior que três salários mínimos, desde que o cadastramento esteja vinculado à inclusão em programas sociais nas três esferas do governo.

Passarela que dá acesso ao RU está com rachaduras em parte do concreto. (Foto: Marcos Maluf)
Passarela que dá acesso ao RU está com rachaduras em parte do concreto. (Foto: Marcos Maluf)

Para quem paga R$ 15 no almoço, o preço não corresponde ao nível de qualidade que poderia ser entregue. A acadêmica de Nutrição, Ana Clara Abreu Giordano, de 21 anos, relata que muitos universitários preferem almoçar em restaurantes da região. “A comida é precária e em termos técnicos a gente sabe que tem restaurante que você paga R$ 15 e come uma comida melhor. Tem muita gente que almoça perto do Escobar e lá é melhor”, afirma.

A debandada dos alunos não ocorre somente no horário de almoço. Diariamente, a acadêmica vê alunos do bloco 6 procurarem o prédio da FacFan (Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição) por diferentes razões. “No bloco 6 o banheiro é precário, então todo mundo que tem aula vem para o meu para tomar água e ir ao banheiro”, relata.

Não é preciso andar muito pelo campus para encontrar outros problemas que escaparam dos relatos dos acadêmicos. Próximo à Facom, a passarela, que dá acesso à rua e ao RU, está com rachaduras em diversas partes do concreto. No corredor do bloco de Arquitetura e Urbanismo um buraco chama atenção na parede. Nesse mesmo bloco também foi registrada mais de uma tomada com fiação exposta.

Nas paredes do campus algumas tomadas estão com fiação exposta. (Foto: Marcos Maluf)
Nas paredes do campus algumas tomadas estão com fiação exposta. (Foto: Marcos Maluf)

Enquanto alunos reclamavam de problemas simples, como a falta de papel higiênico e sabonete líquido, outros dois estudantes estacionavam os carros no Eletroposto de Carga Rápida que aproveita a energia fotovoltaica para o abastecimento de veículos elétricos. A estrutura instalada na Cidade Universitária em 2023 é a primeira do Estado.

Sem perspectiva de quando essas e outras reivindicações serão solucionadas, os alunos continuam vendo a UFMS expandir a seu próprio modo e ritmo. Exemplo disso é a obra de reforma com ampliação do setor 1 - Bloco 14, que estava prevista para ser terminada em julho de 2023. Resta saber se quando concluído, o bloco terá ou não banheiros com papel higiênico à disposição dos alunos.

O Campo Grande News procurou a UFMS, mas até o fechamento da matéria não obteve respostas sobre as reivindicações dos acadêmicos. O espaço segue aberto.

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Obra de ampliação do setor 1 deveria ser concluída em julho de 2023. (Foto: Marcos Maluf)
Obra de ampliação do setor 1 deveria ser concluída em julho de 2023. (Foto: Marcos Maluf)


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