Violência sexual é violação que mais vitima meninas, aponta pesquisa
Levantamento mostra que tratar garotas como adultas é uma forma de agressão para 90% dos brasileiros

De cada dez brasileiros, nove (87%) destacam a violência sexual como o tipo de violação que mais vitima meninas. E também é considerada a mais comum no país por 43% da população.
RESUMO
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A violência sexual é apontada por 87% dos brasileiros como a principal forma de violação contra meninas no país, segundo pesquisa do Instituto QualiBest para a Plan Brasil. O levantamento, que ouviu 824 pessoas, também destaca violências física, psicológica e online como problemas frequentes. A internet é considerada o ambiente mais perigoso para meninas por 83% dos entrevistados, superando residências (33%). Contudo, estatísticas mostram que a maioria das violências de gênero ocorre em casa, praticadas por conhecidos das vítimas. A pesquisa revela ainda que 92% dos participantes acreditam que redes sociais aumentam a vulnerabilidade das meninas.
Os dados constam da pesquisa Percepções sobre violência e vulnerabilidade de meninas no Brasil consolidada pelo Instituto QualiBest, a pedido da Plan Brasil. Os resultados foram divulgados por ocasião do Dia Internacional da Menina, celebrado neste sábado (11).
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Também foram bastante citadas no questionário aplicado, além da violência sexual, a física; a psicológica/emocional; e a online, que envolve os casos de cyberbullying, assédio e exposição de imagens na internet. Gravidez na adolescência, que pode, inclusive, ser resultante de um estupro, foi outro destaque (56%).
A pesquisa coletou, por meio de formulário online, avaliações de 824 pessoas de todas as classes sociais e regiões do Brasil, das quais 433 eram mulheres e 381 homens. A proporção de pessoas que percebem a adultização de meninas como uma forma de violência também foi expressiva no levantamento, de 90% (61% acham que caracteriza totalmente uma violência e 29% que consiste apenas em parte).
Ana Nery Lima, especialista em gênero e inclusão da Plan Brasil, alerta para as poucas menções de falta de acesso à educação (36%), casamento infantil (43%), trabalho infantil (46%) e negligência (48%).
"A gente tem uma gama de outras violências que, inclusive, leva à violência física e ao feminicídio como consequência", argumenta, pontuando que o reconhecimento, por parte das vítimas, de qual tipo de violência sofreram é fundamental para poderem denunciar adequadamente.
Segundo a pesquisadora, assim como é importante entender como ocorre o ciclo de violência, caracterizado pelo aumento da tensão entre agressor e vítima, o cometimento e o período de lua-de-mel, que é quando o agressor promete mudar e pede desculpas, recomeçando tudo novamente, caso a vítima não rompa o vínculo.
Mais da metade (60%) das pessoas entrevistadas julgam que, na atualidade, as meninas estão "muito mais vulneráveis" do que há uma década. Tal sensação é mais intensa entre pais e mães (69%).
É quase unânime, entre os mais de 800 respondentes, a opinião de que a internet e as redes sociais aumentam a vulnerabilidade de meninas (92%), e mais da metade (51%) dos participantes respondeu que seus filhos e filhas menores de 18 anos de idade mantêm perfis nas redes sociais, sendo o Instagram (80%), o WhatsApp (75%), o TikTok (57%) e o YouTube (49%) predominantes. Há mais de duas décadas no ar, o Facebook, que chegou ao Brasil na segunda metade dos anos 2000, hoje registra 47% da presença de crianças e adolescentes. Kwai e X (antigo Twitter) aparecem por último na lista, com 27% e 13%, respectivamente.
De 359 entrevistados, 74% afirmaram publicar fotos de seus filhos ou filhas com menos de 18 anos de idade nas redes sociais. Pouco mais de um quarto (27%) as veicula com frequência, em perfis fechados, ou seja, vistos por amigos e familiares. Um terço (33%) diz colocar as fotos "raramente e de forma controlada", enquanto 6% publicam em perfil aberto, tomando medidas que acreditam preservar suas filhas e filhos, como restringir comentários de seguidores.
Um total de 8% publica fotos sem nenhuma restrição especial. Além disso, 92% dos participantes do levantamento são a favor da responsabilização de adultos que tirem proveito financeiro da exposição de meninas na internet ou que as coloquem em risco no ambiente online.
Casa - Um aspecto constatado pela pesquisa, a partir da amostragem, é o de que a maioria da população (83%) indica a internet como o ambiente mais perigoso para as meninas. Muito mais do que suas próprias casas (33%), porcentagem que varia pouco quando se observam as respostas das participantes mulheres (37%).
A constatação, segundo os pesquisadores, representa uma questão discutível, já que estatísticas sempre apontam que a maior parte das violências de gênero, seja contra meninas, seja contra mulheres adultas, acontece em suas residências e é praticada por conhecidos das vítimas, incluindo parentes e companheiros e ex-companheiros românticos.
A diretora da SaferNet Brasil, Juliana Cunha, esclarece a controvérsia que faz com que muitas pessoas não vejam as residências como o principal local onde violências de gênero, que vão da violência sexual ao feminicídio, são cometidas.
“Trata-se de algo arraigado cultural e, portanto, profundamente na sociedade brasileira e que explica por que os lares são considerados menos ameaçadores do que ruas e bairros (53%) e o transporte público (47%)”, explica.
"A gente ainda tem uma percepção de risco muito associada ao nosso imaginário de que o perigo é esse adulto estranho. E a gente acaba não olhando para uma fonte de risco que é muito mais frequente, não só nos dados, mas também nos relatos das vítimas, que é alguém da mesma idade, ou seja, não necessariamente um adulto, mas um par, às vezes um adolescente, colega da escola, e, quanto à violência sexual, que vem de dentro de casa ou de pessoas de confiança", diz Ana Nery Lima, cuja esperança está centrada em ações combinadas entre diversas esferas, para que instrumentos como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente Digital) funcionem.
Essa crença faz com que os próprios pais e mães tornem seus filhos e filhas suscetíveis, pois permitir o acesso a fotos de suas redes sociais não significa proteção efetiva, considerando que amigos e mesmo familiares podem ser abusadores e agressores, alerta Ana.
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