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Capital

A dor da esposa que perdeu o marido no caminho de volta para casa

Elverson Cardozo | 24/07/2012 18:15
Lays Mariane ficou viúva aos 23 anos. Do lado direito, foto com o marido, no sexto mês de gestação. (Foto: Minamar Junior)
Lays Mariane ficou viúva aos 23 anos. Do lado direito, foto com o marido, no sexto mês de gestação. (Foto: Minamar Junior)
“Agora se eu quiser estar perto dele tenho que ir ao cemitério”, afirma a jovem. (Foto: Minamar Junior)
“Agora se eu quiser estar perto dele tenho que ir ao cemitério”, afirma a jovem. (Foto: Minamar Junior)

No dia dos namorados ela saiu sozinha pelas ruas de Campo Grande. Foi ao Fórum, IML (Instituto Médico Legal) e Cartório. Estava atrás da certidão de óbito do marido, que havia sido enterrado no primeiro dia de junho.

Durante o trajeto, passou em um shopping e, mais uma vez, se lembrou do rapaz que conhecera anos antes, em 2009, dentro de um ônibus, quando ele ainda era cobrador.

Naquele dia não teve flores, mãos dadas, troca de carinhos, de olhares, juras de amor e muito menos a dança de salão dos clientes daquele shopping durante um concurso promovido para comemorar a data.

Naquele dia não teve nada. “Não estava o namorado, nem o marido, nem o pai do meu filho”, diz.

Quase dois meses após o acidente que tirou a vida do segurança David Del Vale Antunes, de 31 anos, Lays Mariane da Silva Oliveira não chora mais. Não na frente do filho. Foi a maneira que encontrou para preservar Victor Gabriel, de 1 ano e 2 meses, que ainda espera pelo pai, morto de forma violenta no dia 31 de maio de 2012.

Enquanto esperava o sinal abrir, no cruzamento da avenida Afonso Pena com a rua Arquiteto Rubens Gil de Camilo, David foi colhido por um carro. A moto que pilotava foi parar a quase 60 metros do ponto de colisão. O corpo dele foi lançado a uma distancia aproximada de 38 metros.

Era madrugada de quinta-feira. David tinha acabado de sair do serviço, o bar Miça, onde havia feito um “freela” como segurança. Lays o esperava, com o filho nos braços, no portão da casa dos avós, como sempre fazia.

Seria apenas mais uma noite rotineira, não fosse pelo atraso e a trágica notícia que chegou por volta das 5h30, antes mesmo do dia clarear: David Del Vale Antunes havia morrido.

Lays, o filho Victor Gabriel e o segurança David Del Valle. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lays, o filho Victor Gabriel e o segurança David Del Valle. (Foto: Arquivo Pessoal)

Segundo a polícia, o motorista que atropelou o segurança, o acadêmico de direito Richard Ildivan Gomide Lima, de 21 anos, estava bêbado, trafegava em alta velocidade e fugiu do local do acidente.

“Agora se eu quiser estar perto dele tenho que ir ao cemitério”, declarou a viúva de 23 anos, que viu sua vida mudar da noite para o dia, literalmente. “Eu não tenho mais perspectiva de vida, não sei qual o meu futuro e o meu sonho”, declarou.

A medida que o tempo vai passado ela agora enxerga, nos pequenos detalhes, a falta que o marido faz. Os álbuns fotográficos são um dos alentos para os dias difíceis que tem passado.

O pequeno Victor Gabriel ainda não entende o que aconteceu, mas sente a ausência do pai. “Ele vê a foto, abraça, aperta, quase rasga”, disse. “Esses dias ele ouviu um barulho de moto, mas era meu tio e quanto ele tirou o capacete, a decepção: Não era o pai dele”, acrescenta.

Para Lays “a ficha ainda não caiu”. “Toda a noite que eu vou deitar parece que ele vai ligar”, comenta, ao explicar que, momentos antes do acidente, havia recebido uma ligação do marido dizendo que já estava voltando e que era para ela o esperar no portão.

Casamento de David e Lays, em 2010. (Foto: Arquivo Pessoal)
Casamento de David e Lays, em 2010. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quase dois meses após a morte do segurança, Lays Mariane parece mais conformada, mas o olhar e os gestos denunciam a mulher fragilizada por trás do luto.

Embora não aceite a perda, Lays acredita em justiça. Há quase uma semana, afirmou, recebeu a visita do pai do estudante Richard Ildivan.

“Ele disse que não estava preparado para vir antes. E eu estava quando recebi a notícia, às 5h30, que meu marido estava morto e às 15h tive que me preparar para ir no cemitério?”, questiona.

Para a jovem, o que ameniza a situação é saber que o estudante que atropelou e matou David ainda está preso. “A primeira imagem é a que fica e a impressão que eu tenho dele é de um assassino”, declarou.

O futuro do filho Victor Gabriel ainda é incerto e os rumos da própria vida agora dependem dos outros. Lays está morando com os avós, no Jardim Noroeste. Como está desempregada, teve de abandonar a casa alugada que morava com Davi. O casal planejava construir a casa própria. “Era o sonho dele”, revelou. Eles estavam casados há 4 anos.

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