Agente federal demitido fala de prova forjada e falsas operações da PF
Valdemir Ribeiro Albuquerque, um dos quatro agentes demitidos ontem (6), por retirar material sigiloso do Presídio Federal de Campo Grande e divulgado informações sem autorização, contra-ataca e afirma que as provas foram forjadas para beneficiar duas pessoas, a administração do presídio na época e o juiz Odilon Oliveira.
Em entrevista ao Campo Grande News, Valdemir disse que o que aconteceu foi uma grande "covardia". "As autoridades preferiram demitir quatro agentes ao invés de fazer as investigações necessárias", reclamou sobre escutas ilegais denunciadas em 2008.
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“Estamos sendo demitidos porque fizemos uma denúncia sobre as câmeras”, afirma. O Ministério da Justiça alega que os 4 foram demitidos porque retiram cópias das gravações da unidade penal e divulgaram o conteúdo.
Ele garante que tudo não passou de armação feita por delegado da Policia Federal e de agente penitenciário. Depois que a denúncia foi feita, Valdemir diz que o servidor foi infiltrado no grupo de agentes pelo delegado, para criar provas contra os denunciantes.
Segundo Valdemir, o interresse do policial federal era de ocupar o lugar do Delegado Wilson Sales Damázio, na época diretor do sistema Penitenciário, por isso o interesse.
“Esse agente começou a fazer uma agitação para que as imagens fossem vendidas para a revista Veja”.
A conversa foi gravada por um dos agentes. Quando o áudio veio a público, o servidor supostamente infiltrado teria dito que foi a mando do delegado. Em depoimento, o delegado teria confirmado a versão do servidor.
“É uma história muito complexa, eu fui traído pela administração por ser uma pessoa honesta", afirma o ex-agente.
Sobre ter retirado as imagens do presídio e ter divulgado, ele se defende. “Na minha defesa eu provei que era impossível ter tirado essas imagens de lá, porque no dia tinha eu tinha uma consulta médica e no outro dia eu estava de férias”.
Operações falsas - Valdemir acredita que existem indícios de operações forjadas, envolvendo a Polícia Federal e questiona o que de verdade levou as gravações, motivo ainda não explicado de forma verdadeira, avalia.
“Tinha um objetivo por trás disso, como a falsa operação X em 2009 e o falso ataque que ocorreu na penitenciária em 2008”, relata sobre tiros disparados contra o presídio há 3 anos e suposto plano descoberto pela PF depois, encabeçado por Fernandinho Beira Mar e Juan Carlos Abadia.
Segundo ele, o objetivo era atribuir plano de atentado a autoridades aos traficantes Beira-Mar e Abadia, para justificar as escutas que já haviam sido descobertas e "segurar os dois aqui, porque têm muito dinheiro".
“Tudo isso foi uma farsa, eu pergunto ao juiz Odilon qual foi o advogado preso de Fernandinho durante a operação X, por passar informação dos presos para as quadrilhas em liberdade que planejavam o sequestro do filho do presidente Lula”, questiona Valdemir, sobre justificativa dada pelo Justiça Federal para as instalações das câmeras no parlatório e na sala íntima.
Na época, a PF informou que Beira-Mar e Abadia chegaram a ser levados para a sede da Polícia Federal para depoimento sobre o suposto plano. Depois, foi divulgado que escutas telefônicas e relatórios de observações de presos, que se comunicavam por mímicas, seriam avaliadas para verificar o envolvimento de policiais e agentes nas ações do grupo.
Na operação, também foram envolvidos os assaltantes José Reinaldo Girotti, João Paulo Barbosa, também presos na unidade federal, além de Ivana Pereira de Sá (ex-mulher de Beira-Mar), Leandro Oliveira dos Santos, Leonice de Oliveira e o advogado de Girotti, Vladimir Búlgaro.
O que causou estranheza na época, foi o fato de Abadia e Beira-Mar serem ligados pela PF ao tal plano, apesar de não haver notícia anterior sobre qualquer relação entre os grupos dos traficantes.
Valdemir também ataca o juiz Odilon e diz que ele "mente quando respondeu a OAB que não sabia da existência de câmeras na sala íntima".
“Se ele não sabia, porque não mandou investigar a partir do momento que ficou sabendo das câmeras.”
Ele conta que já esperava a demissão. “Durante a instrução do processo administrativo a comissão do PAD (Processo Administrativo Disciplinar) retirou vários trechos de depoimentos que incriminava a administração”, finalizou.
Os quatro agentes exonerados vão recorrer da decisão.
O MInistério Público Federal foi procurado, mas a assessoria diz que o órgão não falará sobre o assunto.