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"Ciberapóstolo" será beatificado dia 11 após milagre comprovado em Campo Grande

Matheus, hoje com 10 anos, foi curado de doença no pâncreas aos 3 anos, após intercessão ao ainda venerável

Lucia Morel | 02/10/2020 17:09
Matheus, em foto do ano passado, quando a canonização de Carlo foi confirmada.(Foto: Arquivo)
Matheus, em foto do ano passado, quando a canonização de Carlo foi confirmada.(Foto: Arquivo)

Hoje com dez anos de idade, Matheus Vianna, vai ter uma história forte de milagre para contar por toda vida. Aos três, foi curado de doença rara congênita, chamada pâncreas anular, ao pedir para “parar de vomitar” ao venerável prestes a ser beatificado, Carlo Acutis, último passo antes da canonização, que pode transformar o beato em santo.

Fiel, junto com a família, da Paróquia São Sebastião, no bairro Monte Carlo, Matheus é testemunha viva do primeiro milagre confirmado do futuro beato, aceito pelo Vaticano em novembro de 2019.

A investigação que culmina, em 10 de outubro próximo, na beatificação de Carlo, durou pelo menos cinco anos, desde que a cura de Matheus foi comprovada através de exames médicos, em fevereiro de 2014. Diante do fato, a paróquia mandou ao Vaticano pedido para apreciação do suposto milagre, sendo confirmado no ano passado.

“Se não fosse por ele, não teríamos o Matheus vivo, grande e saudável. Ele foi desenganado aos três anos de idade”, disse a mãe do menino, Luciana Lins Vianna, 40 anos, alegre e satisfeita em saber que o venerável que curou seu filho passará a ser considerado um Santo da Igreja Católica muito em breve.

Ela lembra que foi constante em oração pedindo a cura do filho, diagnosticado com a doença aos 2 anos de idade. Como nenhuma comida parava no estômago, o menino vomitava o tempo todo e podia se alimentar apenas de líquidos, o que o fazia ter baixo peso e pouco desenvolvimento para a idade.

“Foi uma luta pra ganhar peso, porque ele teria que ganhar peso pra fazer a cirurgia. Mas ele só diminuía. Desenvolvia a parte óssea, mais a cabeça e ele era muito pequeno, bem magrinho. Procurei a melhor especialista pra ele fazer a cirurgia, mas ela negou. Disse que era impossível porque ele estava abaixo peso e disse que se ele passasse pela cirurgia, ia morrer, não ia suportar”.

Foi então que a mãe lembrou das palavras do pároco da São Sebastião, Marcelo Tenório, que “sempre dizia na homilia que o Carlo precisava de um milagre pra ser canonizado e vocês, que precisam do milagre, peçam pra ele. E foi o que eu fiz, pedi pro Carlo”, lembra Luciana, que começou a devotá-lo desde então. “Eu falava: Carlo, você precisa de um milagre pra ser santo e o Matheus de um milagre pra ser curado”.

Assim, no dia 12 de outubro - Dia de Nossa Senhora Aparecida e data em que, no ano de 2006, Carlo Acutis faleceu decorrente de uma leucemia, na Itália -, em celebração de benção junto a relíquias do venerável na comunidade, houve a cura.

A família de Matheus, que em unidade pedia pela vida dele a Carlo, aguardava a passagem da relíquia - um pedaço de roupa do venerável - para poder tocá-la e beijá-la e então fazer o pedido de cura. Surpresa foi quando, ao ver a relíquia se aproximar, o próprio menino, no colo do avô, suspendeu os braços para tocar o objeto e falou “parar de vomitar”.

Antes desse dia, a mãe havia explicado para o filho o que era uma relíquia, porque ela havia sido recebida pela paróquia e seu significado. Ela lembra do filho ter perguntado se poderia pedir qualquer coisa, e ela disse que sim. “Eu pensei que ele pediria um brinquedo, mas no entendimento dele, ele pediu a cura”.

“A relíquia veio pra nossa paróquia e contei pro Matheus que isso era uma ligação material com esse santo e que a gente beija o relicário, e faz um pedido e ele vai ouvir no céu e sempre atende”, contou Luciana, dizendo que a conversa deu tão certo que o filho fez o pedido por conta própria. “Eu acredito que ele pedir, com a boca dele, foi determinante para ele ser curado”.

Matheus, que até então só se alimentava com líquidos, pediu comida sólida: arroz, bife, feijão e batata frita, que é a comida preferida do irmão mais velho, Ângelo, que é autista.

“Ele nem sabia mastigar, porque não comia e eu nunca havia me atentado nisso. Pedi pro Ângelo ensiná-lo e ele foi comendo. Desde então, ele só cresce, passou a comer bem e a ganhar peso”, se alegra Luciana, que lembra ainda que o filho não vomitou aquela comida e nunca mais teve esse sintoma.

Mais um milagre - Pároco da Paróquia São Sebastião, Marcelo Tenório, conta que se tornou amigo da família de Carlo e ia com frequência à Assis, na Itália, onde o menino morreu. Foi assim que as relíquias vieram parar em Campo Grande. “Me tornei amigo dos pais do Carlo e sempre ia na Itália , no cemitério. A mãe dele me deu essa relíquia: um pedaço da camisa dele”, conta.

Matheus levando relíquias de Carlo em celebração no ano passado. (Foto: Paróquia São Sebastião)
Matheus levando relíquias de Carlo em celebração no ano passado. (Foto: Paróquia São Sebastião)

Para ele, a beatificação de Carlo é decorrente de fé, mas também de investigação. Foram feitas investigações pelo Vaticano e peritos de lá, que atestaram o feito como milagre atribuído a Carlo, cujo corpo exumado em 23 de janeiro de 2019 foi encontrado sem vestígios de decomposição.

O sacerdote comentou ainda que os fiéis de sua paróquia, em grande maioria, são devotos de Carlo e que a devoção começou antes de 2013. Na página da comunidade em rede social, há relato ainda de que, na mesma paróquia, outro milagre atribuído a Carlo teria ocorrido. O caso também já está nas mãos do Vaticano.

“Trata-se do jovem Gabriel Terron, nosso cerimoneário. Ele era coordenador dos Carlanis, grupo de jovem que seguia o Carlo. Certa vez ele teve 5 paradas cardíacas, o que o deixou diagnosticadamente em vida vegetativa. Eu mesmo estive com ele no hospital e toquei-o com a Sagrada Relíquia, e hoje ele esta bem, em nosso meio, ajudando vez outra a Santa Missa e os médicos não sabem explicar o ocorrido”, diz trecho de testemunho escrito pelo padre.

Carlo Acutis - Carlo nasceu em 3 de maio de 1991, em Londres, Inglaterra, onde sua família viveu por motivos de trabalho. Anos depois, eles se mudaram para Milão, na Itália. Fez a primeira comunhão aos 7 anos e, desde então, sua vida foi marcada por um profundo amor pela Eucaristia, a qual considerava como “rodovia para o céu".

De acordo com a Agência ACI Digital, ele participava da missa todos os dias e também rezava o terço, impulsionado pela sua devoção à virgem Maria, a qual considerava sua confidente. Além disso, dava aulas de catecismo às crianças e ajudava as pessoas mais necessitadas.

A intensa vida espiritual de Carlo o levou a inventar o que alguns chamaram de um “kit para tornar-se santo”, formado por Missa, Comunhão, Terço, leitura diária da Bíblia, confissão e serviço aos outros.

Acutis também desenvolveu desde pequeno o seu talento pela informática e os adultos que o conheciam o consideravam um gênio. Ele criou exposições virtuais sobre temas de fé, como milagres eucarísticos em todo o mundo. Fez isso quando tinha 14 anos. Por conta disso, é considerado o "Ciberapóstolo da Eucaristia", porque fazia evangelização pela internet, sendo padroeiro da rede mundial de computadores.

Quando foi diagnosticado com leucemia, Carlo decidiu oferecer seus sofrimentos pelo Papa e pela Igreja Católica. Faleceu em 12 de outubro de 2006, dia da festa da Virgem do Pilar, com apenas 15 anos.

Os restos mortais do venerável Carlo Acutis, descansam no Santuário da Spogliazione (Despojamento), local onde São Francisco de Assis deixou tudo para seguir o Senhor. Antes de morrer, o jovem expressou seu desejo de ser enterrado lá.

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