Em meio à polêmica, o protesto do criador: “Absurdo inimaginável”
“Não é simplesmente botar em qualquer lugar. Se não quer me respeitar, eu entendo. Mas tem que respeitar o Manoel”, afirma Ique
Em meio a impasse, poesia e rimas fáceis, a polêmica sobre o local de instalação da estátua em homenagem ao poeta Manoel de Barros ganha um protesto solitário, mas pungente. Com a palavra, o criador.
“Acho um desrespeito, um absurdo inimaginável comigo, com o artista que sou, com o histórico da minha vida profissional. Não fui ouvido em momento algum desse suposto debate que resolveram fazer em relação à escultura do Manoel pelas autoridades que criaram essa polêmica, num jogo de poder”, afirma, em tom entristecido, o cartunista e escultor campo-grandense Victor Henrique Woitschach, o Ique.
Ele conta que escolheu o local, na Afonso Pena, perto da Rui Barbosa, por motivos artístico, cultural e histórico. “Não é simplesmente botar em qualquer lugar. Se não quer me respeitar, tudo bem, eu entendo. Mas tem que respeitar o Manoel”, afirma Ique.
Para dimensionar o envolvimento com o trabalho, conta que levou 55 anos, dois meses e 15 dias para fazer a escultura. Ou seja, ela reflete toda uma vida. Ique ainda destaca que foi o primeiro trabalho que voltou para fazer em sua terra natal. O artista também deve divulgar uma nota se posicionando sobre o impasse.
A escultura tem 1,38 metro e 400 quilos de bronze. Orçada em R$ 232 mil, a estátua foi encomendada pelo governo do Estado e projetada para que as pessoas possam se sentar ao lado do poeta.
Já representado, numa versão pantaneira no Paço Municipal, o poeta Manoel de Barros morreu em 13 de novembro de 2014. No legado, deixou uma admirada produção literária, com tardes azuis, pentes solitários, silêncios composto de imagens, estradas desertas por abandono ou desprezo.
Mané ou Zé? - O titular da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho, decidiu que a estátua deve ser colocada em outro lugar, não o sítio arqueológico do Exército e canteiro tombado como patrimônio histórico e cultural, como o da Afonso Pena, no centro da cidade. A multa para a prefeitura é de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
Na decisão, o juiz ainda convocou a poesia de Carlos Drummond de Andrade e o “E agora, José? passou para “E agora, Mané?”. Segundo o magistrado, poema numa decisão judicial é como uma flor nascendo na fresta de uma pedra.
Ao ser questionado pela imprensa, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) respondeu com rima. “Se foi ‘E agora José?’ e ‘E agora, Mané?’, quem sabe no Bar do Zé?”, afirma. A prefeitura estuda instalar a estátua em frente ao Bar do Zé, tradicional ponto de encontro de Campo Grande, no calçadão da Barão do Rio Branco.