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Capital

Frio atinge famílias carentes da Capital e até ida à escola é prejudicada

Moradores da Comunidade Esperança, no Jardim Noroeste, têm sofrido com as condições climáticas desta manhã

Guilherme Correia e Cleber Gellio | 01/04/2022 10:58
Frio atinge de forma mais cruel as famílias campo-grandenses que não têm condições de se proteger melhor. (Foto: Marcos Maluf)
Frio atinge de forma mais cruel as famílias campo-grandenses que não têm condições de se proteger melhor. (Foto: Marcos Maluf)

Nesta manhã (1º), o frio trouxe dificuldades a mais para famílias que já têm com o que se preocupar em Campo Grande. Moradores, sobretudo os em situação mais pobre, têm tido diversos prejuízos provocados pelas condições climáticas da Capital, que amanheceu com céu nublado e mínima prevista de 15ºC.

Após semanas de muito calor, os termômetros caíram e não deverão superar os 22º nesta sexta-feira, como indica o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Na Comunidade Esperança, no Jardim Noroeste, nas proximidades do morro do antigo aterro, a dona de casa Gleicy Isabela, de 28 anos, mora junto ao companheiro, o serralheiro Paulo Ferreira, de 33, e juntos têm seis filhos, de um a 12 anos.

Os mais novos, de um, dois e quatro anos, não foram para a creche por conta do frio intenso. Como tinham de acordar muito cedo e a unidade não fica perto de casa, a família optou por ficar em casa, já que dependem da bicicleta. “Hoje de manhãzinha, estava muito frio. São poucos agasalhos. Temos alguns, mas são finos demais para o frio que fez hoje, tinha que ser mais pesado."

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Precisaria ter luva e gorrinho, porque o frio acaba maltratando muito a criança", diz Gleicy.

Os filhos do meio, de seis e nove anos, também não foram à escola, já que os pais também se preocuparam com a chance de infecção de doenças gripais, mais frequente com este clima. “Alguns parentes ficaram com gripe e as crianças pegam gripe muito facilmente. A situação financeira não é muito boa e são muitas crianças - se um ou outro pegar gripe, vamos ter que arcar com remédio e outras despesas.”

O único que deverá frequentar o ambiente escolar é o filho mais velho, Victor Hugo, de 12 anos. “Ele estuda à tarde, já pode pegar a bicicleta e sabe ir sozinho. Estará mais quente e mais tranquilo para ele ir.”

Crianças não foram à escola para que não sofressem com o frio. (Foto: Marcos Maluf)
Crianças não foram à escola para que não sofressem com o frio. (Foto: Marcos Maluf)

No entanto, a mãe relata que o filho possui apenas um par de tênis, impróprio para praticar atividades de Educação Física durante o ano letivo. “Precisaria de um calçado mais fechado também, por causa do frio. Ele não tem calçado apropriado para o futsal.”

A gente faz um esforço danado para suprir essas necessidades", relata a mãe.

Outra moradora da comunidade, Olga Vieira Coelho, de 65 anos, tem de fazer tratamento para úlcera varicosa no Hospital São Julião, a cerca de 11 quilômetros dali, e não tem condições de ir.

“A situação não é boa. A gente não tem condições de comprar abrigo para todos, porque principalmente a roupa de frio é um pouco mais cara. Não tenho renda nenhuma e acaba recebendo ajuda para ir.”

Ela recebe ajuda dos filhos, que precisam trabalhar fora de Campo Grande e, por isso, vizinhos acabam ajudando-a. “Quando não estão, também preciso de ajuda de terceiros. Às vezes, preciso pedir até um passe. É ruim, fico com receio, porque ninguém gosta de fazer isso, né. Mas a situação é essa que a gente se encontra.”

Acompanhadas da mãe, as crianças fizeram atividades em casa nesta sexta-feira. (Foto: Marcos Maluf)
Acompanhadas da mãe, as crianças fizeram atividades em casa nesta sexta-feira. (Foto: Marcos Maluf)

O pedreiro José Valdenir de Souza, de 46 anos, mora sozinho e, no momento, está sem emprego por conta de problemas de mobilidade provocados pela diabetes.

Com renda mensal de R$ 300 por conta de auxílio do governo estadual, ele relata que tem sido difícil manter a despensa com alimentos para sobreviver ao longo do mês, já que recebe menos de 25% do salário mínimo vigente.

José relata diversas dificuldades que tem provocadas pelas condições socioeconômicas em que vive. (Foto: Marcos Maluf)
José relata diversas dificuldades que tem provocadas pelas condições socioeconômicas em que vive. (Foto: Marcos Maluf)

Segundo estimativa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) deste ano, a cesta básica chegava a custar R$ 678,43 na Capital.

Na geladeira, com o dinheiro que tem, ele explica que conseguiu comprar dois sacos de arroz e alguns poucos pacotes de macarrão.

Nascido em Pernambuco, mas morador da Capital há 17 anos, ele vive há uma década na comunidade e ressalta que, apesar de ter alguns agasalhos, “outros são sempre bem-vindos”.

Além do frio, José tem receio de faltar comida após o dinheiro acabar. (Foto: Marcos Maluf)
Além do frio, José tem receio de faltar comida após o dinheiro acabar. (Foto: Marcos Maluf)

Ajuda - O policial rodoviário federal aposentado Arino Abrão da Fonseca, de 58 anos, junto a Roberta Monteiro, de 40 anos, têm o grupo “Fraterno Pingo de Luz”, divulgado nas redes sociais, onde voluntários podem contribuir da forma que puderem.

Eles recebem os itens e distribuem a moradores desta comunidade e de outras na cidade, a partir de critérios de prioridade. “Não só aqui, em outras comunidades também, como a do Parque do Lageado, Dom Antônio. A prioridade são os idosos, crianças pequenas, mulheres gestantes, etc.”

Interessados podem contribuir de quaisquer maneiras - o contato é a página do Instagram, @grupofraternopingodeluz, ou no telefone (67) 98105-6780.

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Família depende de bicicleta para ir à escola ou creche; frio dificulta ainda mais o acesso. (Foto: Marcos Maluf)
Família depende de bicicleta para ir à escola ou creche; frio dificulta ainda mais o acesso. (Foto: Marcos Maluf)
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