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Capital

Marcas de enchente fazem aniversário e solução ainda é apenas sonho

Em março de 2016, chuva fez Córrego Prosa transbordar; até hoje, alguns reparos não foram feitos, enquanto Prefeitura reconhece necessidade obras adicionais

Yarima Mecchi | 04/03/2017 08:57
Desde estragos, em março do ano passado, mercadorias ficam suspensas na floricultura de Rodrigo. (Foto: Yarima Mecchi)
Desde estragos, em março do ano passado, mercadorias ficam suspensas na floricultura de Rodrigo. (Foto: Yarima Mecchi)

As marcas da enchente ainda estão nas paredes da floricultura de Rodrigo Rosa Ribeiro, que não se esquece dos R$ 15 mil que teve de prejuízo naquela madrugada de 2 de março. Há um ano, o empresário acordou em meio à maior tempestade dos últimos anos em Campo Grande, vendo de lá para cá estragos até hoje não serem totalmente reparados e obras definitivas de contenção sequer com prazo para acontecer.

A chuva fez transbordar o Córrego Prosa, que nasce na reserva do Parque dos Poderes e corta a cidade até se juntar ao Segredo, no Horto Florestal, formando o Rio Anhanduí. Parte do curso d'água é canalizada, mas um trecho margeado pelas avenidas Ricardo Brandão e Fernando Corrêa da Costa ainda estão suscetíveis a alagamentos.

Na cheia de 2 de março, a água invadiu a floricultura de Rodrigo, que fica na Ricardo Brandão. "Cheguei aqui era cerca de quatro horas da madrugada. Não tinha o que fazer, parei e olhei a água subir. Vi a mercadoria estragar seis dias antes do Dia das Mulheres", relembra ele, ouvido pelo Campo Grande News novamente um ano depois.

Lembrando dos estragados e do nível da água dentro da floricultura, Rodrigo diz que a administração municipal prometeu refazer obras de drenagem no córrego para evitar que a situação se repita.

Floricultura fica às margens do córrego Prosa. (Foto: Yarima Mecchi)
Floricultura fica às margens do córrego Prosa. (Foto: Yarima Mecchi)
Parte de aterro da margem cedeu na chuva de 2016 e ainda está danificada. (Foto: Yarima Mecchi)
Parte de aterro da margem cedeu na chuva de 2016 e ainda está danificada. (Foto: Yarima Mecchi)

"O prefeito Alcides Bernal (PP), que estava no ano passado, disse que ia refazer as obras. Fiquei esperando, já mudou a gestão e o Marquinhos Trad (PSD) disse que ia mandar o secretário de obras aqui, mas nada ainda, ninguém apareceu", diz o comerciante.

O temporal da madrugada foi tão forte, que causou estragos por toda cidade. Em cerca de quatro horas, choveu mais da metade do previsto para o mês inteiro: 92,6 milímetros segundo mediu à época o meteorologista Natálio Abrahão.

Na Rua Rio Grande do Sul com a Sete de setembro, a enxurrada passou carregando o asfalto e deixou rastro de lama e sujeira. Em outro ponto da cidade, o Lago do Amor transbordou. Uma quadra da Avenida Filinto Muller foi totalmente tomada pela água da chuva.

Já na Avenida Ricardo Brandão esquina com Joaquim Murtinho, uma placa de concreto de aproximadamente quatro metros, foi arrastada pela enxurrada. Ao longo das vias que margeiam o Prosa, ainda é possível ver reparos inacabados, como o gabião – estrutura armada na margem do córrego – danificado próximo ao cruzamento da Fernanco Corrêa com a José Antônio, além de partes do aterro na margem esperando até hoje para serem refeitos.

Ainda percorrendo o leito do Prosa, vê-se rachaduras nas margens e no gabião. Além de mais um problema: lixo acumulado que chega a formar 'ilhas' nas águas.

Rodrigo aponta onde nível da água chegou. (Foto: Yarima Mecchi)
Rodrigo aponta onde nível da água chegou. (Foto: Yarima Mecchi)
Local onde ficaram os galhos, no parapeito da ponte, revela a dimensão da enchente na madrugada de 2 de março (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Local onde ficaram os galhos, no parapeito da ponte, revela a dimensão da enchente na madrugada de 2 de março (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
A floricultura, no dia da enchente; lama e prejuízo  (Foto: Arquivo)
A floricultura, no dia da enchente; lama e prejuízo (Foto: Arquivo)

Prejuízo - Rodrigo levou dez meses para se recuperar do prejuízo. Para ajudar na renda, montou um espetinho ao lado da floricultura e trabalha das 8h à meia-noite.

"Fico na floricultura durante o dia e no espetinho à noite. Trabalhei e paguei meu prejuízo. Espero que a prefeitura faça os reparos para não ter outro", disse.

Após o estrago, o comerciante diz que acabou a paz. Toda vez que chove e ele não está na loja, fica de olho pelas câmeras de segurança ou, ainda que seja fora de hora, vai ao local. "Começa a chover e fico preocupado. Quando chove forte, venho aqui", relata.

Prefeitura - Por meio de nota, a administração municipal disse que como as obras foram feitas na década de 1990, quando o nível de adensamento populacional era menor nos bairros, são necessárias obras adicionais de contenção das águas pluviais, previstas no plano municipal de drenagem.

"Estas intervenções (incluindo novas barragens no Sóter, um piscinão nos altos da Avenida Mato Grosso) retardariam a chegada da enxurrada. Será possível, senão acabar, pelo menos, reduzir drasticamente os transbordamentos", diz a nota.

A prefeitura disse ainda que está discutindo com o Governo do Estado obras complementares no lago artificial do Parque das Nações Indígenas. "O transbordamento, também aumenta a pressão sobre o sistema de drenagem, com reflexos nos córregos Sóter e Prosa".


Ainda de acordo com a prefeitura, já tem recurso para a implantação de um piscinão com capacidade para reter até 500 milhões de litros nos altos da Avenida Mato Grosso. "A obra depende de alguns ajustes de projeto". Nada, por enquanto, para tranquilizar o sono de Rodrigo.

Concreto soltou da margem do córrego. (Foto: Ala Nantes/Arquivo)
Concreto soltou da margem do córrego. (Foto: Ala Nantes/Arquivo)
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