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Saúde e Bem-Estar

Na 5ª capital em cesáreas, hospital fez cerca de 200 por escolha este ano no SUS

Realidade contraria recomendações de parto normal feitas pelo Ministério da Saúde e pela OMS

Por Cassia Modena | 07/08/2025 13:35
Na 5ª capital em cesáreas, hospital fez cerca de 200 por escolha este ano no SUS
Bebê nascido em maternidade de Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

"Cesárea a pedido" é a observação que se lê em cerca de 200 de fichas das gestantes já atendidas este ano no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), em Campo Grande. A escolha pelo tipo de parto não é respaldada às mulheres por lei no Estado, mas na prática é atendida por médicos com o amparo de resolução publicada em 2016 pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

RESUMO

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Hospital público de Campo Grande realiza cerca de 200 cesáreas por escolha da gestante este ano. Embora a lei não respalde essa opção, médicos a atendem com base em resolução do CFM de 2016. Especialistas defendem o parto normal como mais seguro, com cesáreas indicadas apenas em casos de risco, conforme OMS. Campo Grande ocupa a 5ª posição entre as capitais com maior índice de cesáreas (65,5%), acima da média nacional (61,6%). Profissionais de saúde buscam conscientizar gestantes sobre os benefícios do parto normal, mas a escolha pela cesárea, muitas vezes motivada pelo medo da dor, prevalece. Hipertensão, posição fetal inadequada e histórico de cesáreas são fatores que justificam parte dos procedimentos.

"A grande questão hoje é que a mulher, por medo de sentir dor no parto normal, opta pelo parto cesárea, às vezes sem saber que ela tem direito à analgesia em qualquer um dos dois", fala a enfermeira técnica em saúde da mulher na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e uma das coordenadoras da Rede Alyne na Capital, Alecsandra Fernandes.

Ela é quem traz o exemplo do hospital universitário da Capital, que atende somente pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), para comparar ao que seria ideal: a preferência pelo parto vaginal, ainda que a gestante queira a cirurgia.

Evidências científicas e diretrizes do Ministério da Saúde chancelam o parto normal como a opção mais segura e benéfica à saúde das mães e seus filhos. As cesarianas são indicadas somente quando há risco de complicações ou de morte. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a taxa das cirurgias não ultrapasse 15% em relação ao total de partos em um país.

Mas o Brasil está longe disso. A taxa nacional de cesárias foi de 61,6% no ano passado, segundo dados preliminares disponíveis no painel do Sisnac (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) do Ministério da Saúde.

Em quinto lugar - Campo Grande é a 5ª capital com o maior índice de cesáreas, com percentual que está acima da taxa nacional. Divulgados nesta semana, os dados consolidados da Sesau apontam que 65,5% entre os 11.477 partos realizados em 2024 foram cirúrgicos.

Alecsandra afirma que pasta faz constantes visitas aos hospitais para reforçar aos profissionais de saúde qual o seu papel na conscientização das gestantes, seja durante o trabalho de parto ou o pré-natal.

"O grande gargalo de nós profissionais com a mulher, é não ferir os direitos dela ajudando a entender que não dá para marcar a data do nascimento. E a gente sabe que nos hospitais particulares tem uma outra questão, mas o foco é que essa prática não deve ser adotada. A luta para incentivar o parto normal é uma luta travada diariamente", finaliza.

Na 5ª capital em cesáreas, hospital fez cerca de 200 por escolha este ano no SUS
Na 5ª capital em cesáreas, hospital fez cerca de 200 por escolha este ano no SUS
Arte: Thainara Fontoura

O enfermeiro Bruno Holsback Uesato, do setor de estatísticas da Sesau e membro do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, cita entre os principais fatores que geram indicações reais de cesáreas na Capital estão hipertensão e bebê em posição pélvica (sentado) ou transversa.

No entanto, frisa que as escolhas das gestantes é o fator que justifica o índice elevado.

"Existem, no meio desse percentual, as doenças e situações que não permitem um parto vaginal seguro. Mas, na realidade, temos um alto número justamente por conta das escolhas do tipo de parto", conclui.

Posição dos médicos e do hospital - Médica da diretoria da Sogmat Sul (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul), Vanessa Chaves afirma que a categoria reconhece o parto normal como a melhor opção, mas que isso tem entrado em confronto com os problemas de saúde enfrentados pela população atualmente.

"A equipe médica é favorável ao parto normal, considerado sempre a melhor escolha. No entanto, vivemos uma realidade de extremos na saúde, o que tem aumentado as indicações de cesáreas", fala.

Além disso, ela também menciona o medo da dor no trabalho de parto e acrescenta o receio das mães em haver "alterações no recém-nascido", com possíveis complicações.

"As pacientes têm muito medo, o que leva a uma cultura cesarista em todos os segmentos da população. Tem-se tentado, por meio de um pré-natal elaborado, associado a campanhas de esclarecimento no setor público e privado, e à busca de métodos não farmacológicos para alívio da dor, aumentar os índices de parto normal", diz.

A reportagem questionou se a direção do Humap tem orientado seus profissionais a atenderem as recomendações do Ministério da Saúde e da OMS para reduzir a quantidade de cesarianas. Em nota da assessoria de imprensa, afirmou que "atua em em conformidade com o CFM" ao mesmo tempo em que segue as diretrizes do Ministério da Saúde e OMS.

"No Humap-UFMS, todos os pedidos de cesariana são analisados individualmente, com registro da solicitação em prontuário e realização de orientação detalhada. A equipe médica é orientada a oferecer acolhimento, esclarecer dúvidas e promover o diálogo com base em evidências científicas, considerando tanto a condição de saúde da gestante quanto do bebê. A conduta é sempre guiada pelo princípio da beneficência e pela segurança da assistência”, diz um trecho.

“O hospital também segue as diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, que preconizam o estímulo ao parto normal como a via preferencial, por estar associado a melhores desfechos para mãe e bebê em gestações de baixo risco. Para isso, o Humap-UFMS desenvolve ações educativas com as gestantes e capacitações com suas equipes de saúde, reforçando a humanização do parto, o protagonismo da mulher e a redução de intervenções desnecessárias”, pontuou.

Matéria editada às 15h39 para adicionar nota.  

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