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Capital

Nas ruas dos instrumentos, banda que toca há 20 anos é a do narcotráfico

Luana Rodrigues | 11/02/2016 13:10
Depoimento de moradora resume o local: "o tão conhecido beco do Tiradentes é como se fosse o centro da criminalidade, vem bandido de todos os cantos da cidade para se encontrar ali”. (Foto: Marcos Ermínio)
Depoimento de moradora resume o local: "o tão conhecido beco do Tiradentes é como se fosse o centro da criminalidade, vem bandido de todos os cantos da cidade para se encontrar ali”. (Foto: Marcos Ermínio)
Maioria das ruas do bairro leva nome de instrumentos, mas por lá o barulho é de tiros. (Foto: Marcos Ermínio)
Maioria das ruas do bairro leva nome de instrumentos, mas por lá o barulho é de tiros. (Foto: Marcos Ermínio)
Iracema de Oliveira Pereira, 82 anos, diz que chega a ficar sem dormir à noite. (Foto: Marcos Ermínio)
Iracema de Oliveira Pereira, 82 anos, diz que chega a ficar sem dormir à noite. (Foto: Marcos Ermínio)

Nada de sossego ou tranquilidade. No bairro Tiradentes, em Campo Grande, onde a maioria das ruas tem nomes de instrumentos, o que predomina há pelo menos 20 anos não é a harmonia da música, mas o barulho das trocas de tiros ao ritmo do comércio tocado pelo crime. Entre os moradores, o que vale é a lei do silêncio diante de um cenário de impunidade e o medo de represálias vindas de traficantes.

Na noite de quarta-feira (10), um homem foi morto na frente da casa de Cleuza de Lara, 46 anos, mas a mulher diz não saber detalhes do crime. “Só ouvi os tiros e, quando saí, ele já estava caído. Fiquei com pena da minha vizinha, mãe dele, que estava chegando do trabalho de ônibus”, conta.

A costureira diz que já se acostumou com as ações dos bandidos e a sensação de insegurança no bairro. “Fico do meu portão para dentro. Não escuto, não vejo e não falo nada, só trabalho, porque assim sei que não vai acontecer nada comigo nem com minha família”, diz.

Kleber Silvério de Souza, 39 anos, foi morto na esquina das ruas da Tuba e Orquestra, na frente de uma igreja evangélica. Segundo moradores, a morte dele tem relação com o tráfico de drogas, mas a polícia investiga um caso de vingança.

Segundo uma moradora do bairro, que pediu para não ter o nome divulgado por medo de represália, um dos disparos contra Kleber, chegou a acertar o portão de um vizinho. Desesperada com a situação, ela desabafa dizendo que a região não tem segurança e não sabe mais para quem pedir socorro. “A gente trabalha o dia inteiro e quando chega em casa tem que aguentar a bagunça e briga entre traficantes”, lamenta.

Até crianças – Segundo ela, crianças com menos de 10 anos estão sendo “recrutadas” para o tráfico de drogas. “Aqui o pessoa vende droga durante o dia e tem criança no meio. Usuários quebram todas as lâmpadas da rua, que à noite ficam escuras”, desabafa.

Empregada doméstica de 42 anos, que também não quis se identificar, mas mora no Tiradentes há 21 anos, diz que na região “não tem segurança porque em cada esquina tem uma boca de fumo. À noite é praticamente um toque de recolher, as pessoas acabam ficando com medo de sair de casa”.

Ainda segundo a moradora, o problema no bairro vai além do tráfico de drogas, já que há também muitos casos de roubos e furtos. "O tão conhecido beco do Tiradentes é como se fosse o centro da criminalidade, vem bandido de todos os cantos da cidade para se encontrar ali”, conta a mulher.

Só a vida – Moradora da Rua Orquestra há 22 anos, Iracema de Oliveira Pereira, 82 anos, diz que por vezes fica sem dormir. “É barulho à noite, fico preocupada porque a gente não tem nada de muito valor dentro de casa, sendo assim, a única coisa que pode perder mesmo é a vida”, conta.

Na quarta, Iracema quase teve o portão arrombado por criminosos. “Eles bateram, bateram e chegou a estragar, mas não arrombaram. Fiquei desesperada porque estava sozinha, já que minha filha tinha saído cedo para o trabalho. Graças a Deus que não entraram”, diz, aliviada.

A idosa afirma que sabe, mas não diz quem tentou entrar na casa dela. E quando questionada sobre a segurança e os grupos criminosos que agem no bairro, a conversa se encerra. “Eu sei que eles vendem droga aí na esquina. E a polícia até passa lá na rua da Flauta, mas eles ficam nos becos. E eu não posso falar nada disso, tenho medo”.

Sobram relatos, mas falta quem realmente mostre "a cara do problema". Uma moradora diz que o medo de denunciar é resultado da impunidade. “A polícia vem aqui todo dia, prende traficante e amanhã eles estão soltos. Quem é que vai denunciar sabendo que no dia seguinte o culpado vai estar solto? Ninguém”, finaliza.

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