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Capital

No bairro, lojista diz que nunca viu fiscalização, mas vai fechar as portas

Com atendimento ao cliente restrito, comércio que não é de alimento, higiene e saúde só pode fazer delivery

Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 11/06/2021 12:22
Lojas do bairro já calculam prejuízo e contas que vão atrasar durante suspensão de atendimento presencial aos clientes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Lojas do bairro já calculam prejuízo e contas que vão atrasar durante suspensão de atendimento presencial aos clientes. (Foto: Henrique Kawaminami)

Apesar de afirmarem nunca terem visto fiscalização mesmo nos decretos anteriores, os comerciantes dos bairros Aero Rancho, Iracy Coelho e Parati, dizem que vão fechar as portas, e quem puder vai manter atendimento delivery.

Já contabilizando o prejuízo que o decreto de duas semanas de fechamento válido a partir de domingo (13) pode trazer, os personagens abaixam ainda enfrentam a insegurança, principalmente porque todos os entrevistados têm comércios há menos de um ano.

Na loja de Mayara, fica apenas ela e a filha e esta será a terceira vez em 10 meses que vão suspender o atendimento. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na loja de Mayara, fica apenas ela e a filha e esta será a terceira vez em 10 meses que vão suspender o atendimento. (Foto: Henrique Kawaminami)

Dona de uma loja de roupas na Rua Santa Quitéria, no Aero Rancho, a preocupação de Mayara Prado, de 25 anos, é por ela, o marido e a filha. A família é autônoma, a renda em casa entra pela venda de roupas e salgados que o marido faz.

Comerciante há 10 meses, na loja só trabalha ela na companhia da sorridente menininha de 3 anos.

"Eu acho que não deveriam fechar o comércio. Se você parar pra pensar, não é a gente que aglomera. São as pessoas que precisam respeitar as medidas de biossegurança", afirma.

Um exemplo que os comerciantes têm sempre na ponta da língua são as festas clandestinas e até mesmo as reuniõezinhas entre amigos e familiares, onde ninguém usa máscara.

"Fechar o comércio vai prejudicar muito a gente. Nosso dinheiro sai daqui, precisamos da renda, tenho que pagar água, luz, aluguel, comida, leite e fralda. O comércio é o menor dos problemas, na minha opinião, ainda mais os pequenos", diz.

Só de conta fixa para pagar, Mayara tem aluguel tanto de casa quanto da loja, mais água e luz dos dois locais. Somando tudo, ela calcula ter que pagar por mês R$ 1.380,00.

"Aqui eu nunca nem vi ninguém passar fiscalizando se estão respeitando o toque ou decreto. Tem muita gente que não respeita. Eu tive que fechar três vezes já, é muito difícil", comenta.

Fiscalização mesmo, bairro diz que nunca viu acontecer, mas lojistas garantem que vão fechar as portas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fiscalização mesmo, bairro diz que nunca viu acontecer, mas lojistas garantem que vão fechar as portas. (Foto: Henrique Kawaminami)

Para a comerciante vizinha, na mesma rua do Aero Rancho, Ivoneide Dionísio Caldas, 46 anos, fechar a loja de roupas por 15 dias logo no meio do mês vai quebrar o comércio. "É muito ruim termos de fechar. Para pagar conta, não fica nada fácil, mas devido ao que está acontecendo, se não houver consciência das pessoas, a pandemia não vai acabar nunca", fala.

O desejo dela é que este seja a última medida de restrição aplicada desta forma. "Eu quero que as vacinas cheguem logo e para todos, para que possamos voltar a nossa rotina normal. Você abre um comércio, e de repente tem que fechar?" questiona.

Ela repercute a fala da vizinha dizendo que na região, não percebe nenhuma fiscalização. "Quando tem que fechar, todo mundo fecha, mas nunca vi ninguém passando para fiscalizar. O que fica complicado, porque uns trabalham e outros não", comenta.

Para Ivoneide, o decreto teria que ser ainda mais radical. "Tem que ser mais rígido desta vez para que as pessoas tenham consciência e paralisem tudo mesmo. Ontem eu fui no mercado, e estava lotado, não tinha nem como estacionar direito. O povo vai lacrar seção de bebidas, mas acho que o problema não é a venda, porque todo mundo vai beber em casa mesmo e aglomerar nessas festinhas absurdas", desabafa.

Junto da filha, Elizângela se divide entre emprego formal e uma loja de utilidades recém adquirida no Iracy Coelho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Junto da filha, Elizângela se divide entre emprego formal e uma loja de utilidades recém adquirida no Iracy Coelho. (Foto: Henrique Kawaminami)

No Iracy Coelho, a comerciante Elizângela Martinelli Bueno, de 23 anos, assumiu há um mês a loja de utilidades que era de um parente. De entrada, eles não precisaram pagar nada, mas ela já tem uma prestação de R$ 1,5 para quitar no fim do mês, a primeira de 10 parcelas.

"Com a loja fechada como que eu vou pagar? É complicado. Foi um baque para todo mundo. A gente encheu a loja de mercadorias pensando no Dia dos Namorados e depois, não sabemos nem o que vamos fazer. Minha preocupação é pagar a loja e ainda o aluguel", fala.

Na loja de utilidades, Elizângela vai fechar as portas e esperar o período vigente de decreto passar. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na loja de utilidades, Elizângela vai fechar as portas e esperar o período vigente de decreto passar. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por "sorte", ela e o marido têm registro em carteira com empregos formais, mas ainda assim ela não sabe o que vai fazer para pagar as contas do negócio recém adquirido. "Temos que ficar em casa esperando tudo isso passar. Essa doença prejudica todo mundo, fecham as lojas, mas os mercados ficam abertos e vão encher. Vai dar na mesma. Não tem escapatório, tinha que fechar tudo mesmo para ninguém sair na rua", defende.

No Parati, na badalada Rua da Divisão, Karollayne de Souza, de 21 anos, é quem está à frente da loja de cosméticos há menos de um ano. Proprietária, ela conta que já teve de fechar outras três vezes e que tem a "sorte" de pelo menos não ter funcionários.

"Aqui eu tento fazer o possível, converso com o proprietário do local para dar uma segurada no aluguel, seguro as encomendas de produtos. O que trazíamos antes duas vezes na semana, agora é duas vezes por mês, no máximo", exemplifica.

Como o produto carro-chefe dela são as maquiagens, sem ter eventos, a procura cai. O fechamento de agora foi uma surpresa, ainda mais às vésperas do Dia dos Namorados. "Sinceramente, fechar o comércio não resolve, porque eu trabalho numa rua conhecida, mas moro no Los Angeles e lá não existe nem toque de recolher, o povo fica tudo lá fora, em rodinha de tereré e narguille", explica.

karollayne investe na venda pelas redes sociais e vai trabalhar no esquema delivery. (Foto: Henrique Kawaminami)
karollayne investe na venda pelas redes sociais e vai trabalhar no esquema delivery. (Foto: Henrique Kawaminami)

Enquanto o comerciante tem que deixar de atender presencialmente, o vizinho de Karollayne, por exemplo, está de férias fazendo churrasco todo dia para os amigos. "E a gente de portas fechadas. Como faz gente que tem que pagar funcionário? Óbvio que temos que nos cuidar neste momento delicado, mas é uma sensação ruim", relata.

Pagando R$ 1 mil de aluguel, mais água e luz, a comerciante diz que o jeito é trabalhar com reserva, se não vira uma bola de neve. "Tenho a sorte de no começo do mês ainda conseguir fazer um caixa. O negócio é dar seus pulos. Eu fecho, fico com as redes sociais e trabalhando no delivery. O problema é que tem comerciante que ainda não se rendeu a isso e acaba tendo que fechar de vez", pontua.

Como vai funcionar? - Em bandeira cinza, conforme nova classificação do Prosseguir, os comércios não-essenciais de Campo Grande vão poder receber funcionários, mas apenas de portas fechadas, para entregas em sistema delivery.

A partir de domingo (13), se a loja for de vestuário, por exemplo, não pode abrir para o público, mas os colaboradores devem trabalhar normalmente porque o decreto permite funcionamento em delivery.

A bandeira cinza permite o funcionamento de 51 atividades consideradas essenciais. O que não inclui shoppings, salões de beleza, lojas de roupas, buffets, bares e restaurantes.

Veja abaixo o que pode abrir:

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